Em uma terra rica em peixes, é preciso desenterrar frangos

Escritora Dina Arce - Foto: Divulgação

Este fato deveria ser esquecido, a triste notícia de várias pessoas desenterrando frangos descartados no lixão municipal, em Humaitá, pois indigno. A situação é revoltante, é a imagem do crime cometido por todo o sistema político, administrativo e jurídico, nacional e internacional que impõe uma farsa da agenda ambiental a nossa região. Enquanto o povo da Amazônia não passa pela fome, morre de fome. É irônico, além de ser uma loucura, que uma terra rica em peixes e outros alimentos, tenha um povo a desenterrar lixo para comer.

O episódio serve para expor a inércia, o engessamento econômico, a falta de emprego, de infraestrutura e de planejamento na Amazônia. Mais ainda, a ineficiência, a propaganda enganosa dos objetivos de uma agenda ambiental fajuta. Reflitamos, quantas UCS – Unidades de Conservação, quantas RDS – Reserva de Desenvolvimento Sustentável, Quantas FLONAS – Florestas Nacionais existem na Amazônia? Inúmeras! E tem servido para quê?

A verdade é que essas áreas são tomadas pelo poder público, entregues às entidades de “proteção” para estudo, mapeamento e apresentação do plano de manejo e, misteriosamente, após esse desenho, ou seja, quando é feito o mapa do tesouro, os verdadeiros devastadores da Amazônia, vão diretamente às áreas mais ricas, nas madeiras mais nobres. Então, observem, o poder público gasta enorme energia, dinheiro que daria para cobrir toda a Amazônia com um plano a serviço de enriquecer quem se encontra dentro desse esquema. Nessa estrutura, todo mundo ganha e é preciso apontar culpados pelo fracasso da agenda ambiental.

Por isso, não é por acaso que se noticiam no jornal que a devastação ocorre em áreas de preservação, e sem pesquisar ou investigar, a opinião pública joga a culpa no povo local. A mentira é tão bem contada que até o caboclo acredita e se sente culpado. Assim, além de pobre, o amazônida é injustiçado, marginalizado e alienado. Ou seja, o crime perfeito!

É de conhecimento de todos que nessas áreas e nas proximidades inviabilizam de todas as formas qualquer tipo de produção ou beneficiamento! Se você pescar um monte de peixe e não botar para salgar, teu pescado que não tem como ser refrigerado, nem escoado, estragará; atrever-se a ter qualquer plantação é ver tudo destruído e queimado. Portanto, nem a farinha de cada dia é permitida.

O desapropriado, tratado como bandido, ver a sua terra, que antes servia para o seu sustento e para dezenas de trabalhadores, servir ao sistema camuflado de protetor da floresta. Dessa maneira, antes, quem tinha trabalho, hoje, não tem o que comer. Assim, não é à toa que a miséria se estabeleça na Amazônia, é resultado desse sistema cínico, hipócrita e corrupto.

A história dos frangos só viralizou pois a quantidade era de cinco toneladas e isso movimentou o lixão municipal de Humaitá e virou notícia. Se o descarte fosse em qualquer cidade da Amazônia, em Manaus, por exemplo, aconteceria o mesmo. Conclusão, dos amazônidas não basta tirar-lhes as oportunidades, tiram-lhes também a dignidade.

Escritora Dina Arce

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