Felicidade Tropical?

Escritora Dina Arce - Foto: Divulgação

Sim, queridos leitores! Moramos em um país tropical, mas não é aquele da canção de Jorge Ben Jor. É importante abordarmos o assunto, pois estamos no mês de janeiro, dedicado à saúde mental. E quando ouço a canção “País Tropical” não vejo o cara feliz, leve e satisfeito representado na letra, porque, definitivamente, não representa a maioria dos brasileiros. A música é contagiante, levanta a brasilidade, principalmente dos cariocas, e não tem quem não aprecie. No entanto, representar o Brasil nas artes sempre estará adstrito a um fragmento, a uma memória, a uma particularidade da diversidade da nossa gente, em que não é possível generalizar. Hoje, infelizmente, o povo brasileiro figura, segundo dados oficiais da OMS e da OPAS, como o país mais ansioso e o quinto mais depressivo do mundo e, pudera, antecipamos tudo e acabamos sofrendo mais do que deveríamos.

Temos eleições para presidente, governadores de Estado, deputados e senadores, somente, em outubro de 2022, contudo, todos os dias, somos embalados pelo estresse das discussões das disputas políticas prematuríssimas; em todas as capitais brasileiras o trânsito é caótico; a preocupação com o custo da vida, da luta pelo trabalho e pela sobrevivência; o nervosismo com a iminente quarta, quinta, sexta… onda da pandemia (ou nova pandemia), o que faz o estresse geral e não se fala em outra coisa, a não ser, problemas e como tudo tende a piorar.

O brasileiro, há tanto tempo, acostumou-se a carregar o gigante Brasil nas costas, cantando e dançando e dificilmente pensa ter algo errado internamente, suas pernas inquietas, o roer das unhas, o sono que lhe foge à noite é muitas vezes descontado na bebida, na automedicação, e no cair na folia que dá aquele alívio. Ocorre que esses paliativos são passageiros. Afinal, não se pode viver bêbado, anestesiado e em festas todos os dias. Por outro lado, não é saudável ficar remoendo os problemas e acelerando acontecimentos futuros, Mark Twain alertava: “os piores problemas que tive em minha vida foram aqueles que nunca aconteceram”.

Então, tenha certeza, a maior parte das suas preocupações futuras não se concretizarão. Em reforço a isso, há inúmeras pesquisas, uma recente é da Universidade da Pensilvânia, segundo a qual quase todas as preocupações imediatas não acontecem. Certamente, é difícil controlar o aparecimento dos pensamentos negativos, catastróficos, das preocupações. Ocorre ser impossível querer ter o controle de tudo, na verdade, é inútil, pois a vida é incerta e o movimento do universo não se resume ao nosso umbigo. Todo indivíduo enfrenta adversidades e somente a reação aos episódios da vida diferencia-nos. Só podemos controlar nossos atos e ficar em paz com a nossa consciência. Assim, tudo bem, não ser o “band leader”. No entanto, sejamos, o mais importante, o líder dos nossos camaradinhas, dos nossos pensamentos, pois esses darão o tom do nosso estado de espírito.

Do mesmo modo, para os nossos administradores públicos, o desejo deve ser a pausa nesse frenesi ansioso pelas eleições, o porvir se constrói agora, sentando-se na cadeira, arregaçando as mangas e trabalhando devotadamente para o bem da coletividade. Ainda há muito caminho pela frente. Não precisa de muito, um cara mediano é capaz de entregar resultados. Trabalhem e aliviem as nossas costas, isso, com certeza, faria a vida mais leve e menos ansiosa para todos. O bom administrador público não tem face, tem resultados. A confusão entre homem público e narcisismo, no Brasil, já extrapolou todos os limites. Observe que um governante tem assessor para tudo, quase sempre os lambe-botas, incapazes de dizer qualquer verdade. Creio que na situação atual, poderia criar-se o assessor mental (psicólogo ou psiquiatra), alguém capaz de trazer alguma clareza mental aos nossos políticos, equilíbrio, racionalidade, sensatez, abnegação, mas como encontrar um indivíduo isento, probo, ético, capaz dessa missão?

Assim, apesar da política, da economia, das dificuldades e de não vivermos na felicidade da canção de Jorge Ben, por favor, usem-na sem restrições para levantar o astral. Na verdade, a música que nunca nos falta deve ser companhia para afastar a tristeza, dar aquela animada e contagiar o nosso entorno.

Lembremos também da importância da conscientização, do querer estar bem e solicitar ajuda quando necessário. Saúde para todos. Feliz janeiro!

Atualizado em 08/01/2022 14:37

Escritora Dina Arce

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