A posição adequa-se à Cadeira

Escritora Dina Arce - Foto: Divulgação

Quando o assunto é conseguir ou segurar-se no cargo, a posição do indivíduo molda-se aos seus interesses, e isso acontece em todos os setores, seja ele público ou privado. Na iniciativa privada isso pode ser uma qualidade, o interesse individual soma-se aos objetivos da empresa e isso resulta em um bom funcionário. Já no setor público, quando o caminho é a nomeação por apadrinhamento, há indubitavelmente uma desconexão entre o agente e os objetivos da administração pública.

Quem pleiteia cargos, em especial, os do mais alto escalão do governo, põem de lado qualquer princípio ou valor, pois ineficazes no jogo político, e correm atrás das negociatas de toda ordem, com muitos encontros, almoços, jantares, telefonemas… Nunca se julga o que se deve, mérito e preparo, mas a capacidade de conchavo, de destruir, velada ou abertamente, seus adversários e de qualquer um que cruze o seu caminho.

Há quem chame isso de tratativas do mais alto nível e para tais pessoas, coisa mais retrograda é viver por um ideal. Bom mesmo é viver para assegurar o poder e um lugar ao sol para si e para os seus, mesmo que seja com muito contorcionismo, o que demonstra o quanto esses pleiteantes são desprovidos de integridade e coerência, sem falar na falta de capacidade técnica. Por isso, raras as entidades públicas capazes de alcançar metas e resultados, porquanto geridas por incompetentes bem relacionados.

O sistema político desvirtua o indivíduo, corrompendo o cerne do Estado, e essa dinâmica se retroalimenta, ou seja, só produz mais de si mesmo. Se o candidato possui alguma qualificação ou valor desprende-se, desconstrói-se e submerge ao nível mais rasteiro por uma nomeação. O jogo de interesses é quem dita como agir, e nesse campo vale tudo, e se dá bem quem angaria mais aliados. Dessa seleção, saem vencedores os piores candidatos, aqueles facilmente corrompíveis.

Aliás, aproxima-se a sabatina de dez agentes públicos, dentre eles o candidato à vaga no Supremo Tribunal Federal, guardião da constituição. O procedimento resume-se à indicação pelo Presidente da República e aprovação pelo Senado Federal, trata-se mais de forma do que de conteúdo, os arranjos são feitos nos bastidores e, dizem, negociam até a alma.

De acordo com a história da Casa Legislativa, os Presidentes da República emplacam os seus candidatos. Só houve recusas no governo do Presidente Floriano Peixoto, em 1894. Se essa tradição prevalecer, o nome de André Mendonça, indicado pelo Presidente Jair Bolsonaro, deverá ser aprovado. O contrário fugiria da rota, colocaria o Brasil em rebuliço, e ameaçaria exatamente os agentes do alto escalão, dos três poderes que tanto “suaram” pela estabilidade de seus cargos e privilégios.

O futuro Ministro André Mendonça foi indicado há quatro meses e espera, por todo esse tempo, a sabatina, a aprovação e a nomeação. Imaginem o desgaste? Poderia ter aproveitado o período para incrementar seu saber jurídico e vir a ser “terrivelmente” eficiente. Mas, veremos na sabatina a formalidade que esconde as trevas de Brasília e resulta na ineficiência do Estado. No caso do STF, parece que continuará como se encontra, cargos vitalícios com processos de tramitação infinita. Assim, seja lá quem for o novo ministro, adequar-se-á à Instituição e nada se balança. As criaturas são forjadas pelo sistema e já não são capazes de afirmar no que creem, esquecem-se, do modo mais confortável, o capaz de pôr-lhe sentado na Cadeira do cargo.

Escritora Dina Arce

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