Bolsonaro tira vantagem da oposição, que antecipou a sucessão presidencial de 2022

Por Jorge Serrão*

Senado deve aprovar a criação de um Passaporte Nacional de Imunização e Segurança Sanitária. Assim, sem querer querendo, os senadores vão legalizar, sem criar uma lei própria, a obrigatoriedade da vacinação.

O que seria uma questão de consciência e decisão individual vai se transformar em mais uma imposição estatal. Quem não se vacinar se torna um “marginal”, um cidadão de segunda-classe, que terá restrito seu direito natural de ir e vir dentro do próprio Brasil. Dentro do espírito “politicamente correto”, o documento é mais um monstrengo autoritário.

É uma espécie de “primo” de outros absurdos (sem comprovação científica) como o lockdown – que decretou a morte econômica de muitas empresas e a falência de muitos empreendedores, principalmente os sobreviventes na informalidade.

O espertíssimo Jair Bolsonaro entendeu que a destruição de empregos, gerada pelas medidas equivocadas tomadas por governadores e prefeitos durante o suposto combate à pandemia, é a causa de maior reclamação e até revolta popular.

Por isso, o presidente tem reforçado, em cada discurso público, que a culpa da crise econômica não é dele, nem de seu governo, mas dos estados e municípios que usaram mal a decisão do Supremo Tribunal Federal, que reafirmou a autonomia dos entes federativos em relação ao governo central da União.

O assunto gera uma guerra de narrativas sem fim entre o Executivo Federal e o Poder Supremo. Ainda é cedo para cravar quem vence no final, mas Bolsonaro parece beneficiado no conflito.

A tática política do presidente é bem simples e pragmática. Bolsonaro está atacando problemas que os adversários e inimigos criaram na má gestão do combate à pandemia. A oposição cometeu o erro tático de antecipar, de maneira exageradamente precoce e prematura, a sucessão presidencial de 2022.

Candidato natural à própria sucessão – graças a Fernando Henrique Cardoso, que inventou a inconveniente reeleição -, Bolsonaro apenas se reposiciona para também fazer campanha antecipada, com a vantagem de não poder ser acusado disso.

Na prática, ele apenas responde aos ataques sistemáticos que recebe da mídia (que deixou sem verbas públicas) e dos adversários (que não conseguem formular um projeto alternativo para o Brasil, além de acumularem o desgaste da má gestão e corrupção nas administrações federais passadas).

Bolsonaro faz duas apostas que tendem a se concretizar. A primeira é no desgaste de todos os adversários que investiram no caos da pandemia, avaliando (equivocadamente) que o governo federal seria o maior prejudicado pela paralisação da atividade econômica.

Acontece que o lockdown e medidas restritivas causaram prejuízos e inviabilizaram a sobrevivência da maioria das empresas e livres empreendedores, principalmente os que sobreviviam na informalidade econômica.

A segunda aposta de Bolsonaro é na retomada do crescimento econômico. Era previsível que haveria uma aceleração depois da parada brusca gerada por decisões de governadores e prefeitos.

O presidente sabe que a avaliação de seu governo e as chances de conquistar um segundo mandato dependem, diretamente, da melhora real na economia – e, mais importante, da percepção popular disso.

Grandes investimentos – adiados ano passado pelo clima de pandemia – começam a se tornar realidade. Por isso, Bolsonaro só precisa cuidar melhor da estratégia de comunicação e fugir de desgastes políticos inúteis.

Até que ponto a CPI do Covidão conseguirá desgastar o presidente Bolsonaro? Seu relatório final parece já escrito, previamente, por Renan Calheiros.

A base governista já sabe, desde o começo dos trabalhos, que terá de elaborar e tentar aprovar, no voto, um relatório substitutivo. A oposição tentará forçar a barra, até o limite máximo da narrativa, para tentar provar a falsa tese da ação e omissão do governo Bolsonaro no combate à pandemia.

Como a tática já nasce morta, o plano é tentar destruir a imagem de Bolsonaro, aproveitando falhas em cada depoimento. Até agora, os tiros têm saído pela culatra. Ainda mais porque os senadores oposicionistas sabem que é baixíssima a chance de Bolsonaro sofrer impeachment, em função da excelente e sólida relação com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira – que apenas por coincidência que não existe é inimigo político do senador Renan Calheiros, em Alagoas. O feitiço da oposição parece estar virando contra os feiticeiros.

* Jornalista, professor e flamenguista. É editor-chefe do blog Alerta Total e comentarista do programa 3 em 1 da Jovem Pan.

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