Surtos de negacionismo

Lula e a esquerda, desde o seu primeiro dia no governo, têm tomado medidas que vão contra os desejos da população. Agora ficam contra Israel, quando 80% dos brasileiros são a favor

Membros da Brigada Al-Quds, braço militar do movimento Jihad Islâmica na Palestina, durante desfile militar da unidade de mísseis, na cidade de Gaza (15/10/2021) - Foto: Anas-Mohammed/Shutterstock

Por J. R. Guzzo (*)

Vamos tentar entender, sem nenhum investimento mental complicado, o que está acontecendo com a “prisão a céu aberto” ou o “campo de concentração” que, segundo a esquerda brasileira e mundial, Israel criou para manter “a Palestina” submetida a condições de vida desumanas. Os fatos, aqui, podem ser entendidos até por um analfabeto. A Comunidade Europeia deu de presente aos moradores da Faixa de Gaza canos de esgoto para ajudar na melhoria das condições sanitárias locais — um horror que poderia lembrar a Belém do Pará da família Barbalho, e que tem sido uma das mais exaltadas denúncias da mídia contra Israel. As tubulações doadas pela Europa, porém, não criaram esgotos em Gaza. Foram transformadas pelos terroristas do Hamas em foguetes caseiros que são lançados regularmente contra Israel. Os mísseis-encanamento não são grande coisa; vivem explodindo em cima dos próprios terroristas, erram o alvo e até agora não renderam um palmo de território para a “Palestina”. Mas isso não é culpa de Israel. Quem está transformando encanamento em foguete de guerra é o Hamas; são eles que conseguem, com isso, ficar sem o esgoto e sem os mísseis.

Essas são as realidades, sem um grama de exagero, como se vê no vídeo que ilustra este texto, divulgado pelo próprio Hamas. Honestamente, então: o que o governo Lula, o PT e os militantes da “causa palestina” sugerem que Israel faça para que haja condições de vida um pouco mais dignas para a população de Gaza? Não dá para pedir que ele mesmo, Israel, faça a doação dos canos que a Europa forneceu e que viraram foguete. Não dá, também, para abrir sua fronteira aos 2 milhões de moradores de Gaza e acabar com a “prisão a céu aberto” — não quando o programa oficial do Hamas exige que esses mesmos 2 milhões entrem no território judeu e se dediquem, ali, à destruição física do Estado de Israel. Não dá, enfim, para melhorar em nada o “campo de concentração” se a ditadura que manda nesse campo faz questão de impedir o mínimo de conforto para os que estão presos lá dentro. Não deixa que haja rede de esgoto. Não deixa que escolas e hospitais funcionem como escolas e hospitais; servem de escudo humano para a tropa do Hamas. Não aceita em nenhuma hipótese a convivência em paz com Israel, nem os benefícios que poderiam vir da vizinhança produtiva com um país onde o PIB per capita é de US$ 52 mil por ano, ante os US$ 3,8 mil da Faixa de Gaza. O país rico, Israel, aceita a existência do país pobre, a Palestina. A Palestina não aceita a existência de Israel.

Vista geral das casas e edifícios palestinos no campo de refugiados de Rafah, no sul da Faixa de Gaza (16/10/2019) | Foto: Abed Rahim Khatib/Shutterstock

Adianta dizer qualquer coisa dessas para Lula, Janja ou os comentaristas da Rede Globo? Não adianta nada. Nem para eles nem para o ecossistema de fanáticos, gente mal-intencionada e simples idiotas no qual se movimenta a esquerda nacional e importada. Para todos eles, fatos jamais podem atrapalhar interesses, desejos ou crenças pessoais. Fatos obrigam a pensar. Pensar dá trabalho. Também pode ser arriscado: o sujeito está de boa, seguro com o que acha do mundo, e de repente se vê incomodado porque inventou de pensar. Talvez corra o risco, aí, de mudar de ideia — e mudar de ideia, sobre a Palestina ou qualquer outra coisa, é para eles uma das duas ou três piores desgraças que podem acontecer com um ser vivo. É muito mais confortável acreditar que as coisas são como você decidiu que elas devem ser, do que aceitar a possibilidade de que exista algo diferente. Colocam-se, assim, os circuitos cerebrais em férias permanentes — e a consciência em modo silencioso, ou desativado. É o caso da presente ideia fixa de Lula, do PT e da maior parte da mídia para apagar a selvagem chacina do Hamas contra Israel e salvar os palestinos, como dizem, da “prisão a céu aberto” e do “campo de concentração” em que vivem — fora os “crimes de guerra” cometidos pelo governo israelense na legítima defesa de seu território e das vidas dos seus cidadãos.

Na hora em que teria de mostrar coragem, independência e firmeza moral, revela-se um homem fraco, vacilante, com medo de ofender as ditaduras que praticam crimes e, sobretudo, incapaz de produzir uma única ideia original, criativa ou simplesmente útil

Nas fantasias que criaram com a recusa em admitir a existência de fatos materialmente provados, Lula e o seu governo estão, mais uma vez, em pleno surto de negacionismo. É a coisa de sempre. Não houve corrupção nos governos Lula-Dilma; foi a maior roubalheira da história nacional, mas não aconteceu. Lula não foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Não há nada de errado em condenar a até 17 anos de prisão pessoas que quebraram vidraças — ou nem isso. Não houve uma derrota na proposta de centro acadêmico que o Brasil apresentou na ONU, e que só poderia acabar vetada, como foi. Não foram cometidos contra os judeus os piores crimes desde o Holocausto nazista; segundo Lula, e olhem que ele foi o mais moderado em seu próprio governo, houve apenas atos de “terrorismo”, sem autores. Em seu último pronunciamento a respeito, com a mulher ao lado lhe passando um bilhetinho por escrito, denunciou com indignação a “insanidade”. Insanidade de quem? O presidente não disse. Pelo cheiro da brilhantina, insano é Israel — o governo Lula, desde o massacre de 1,4 mil civis cometido pelo Hamas, não fez outra coisa que não fosse condenar a reação aos crimes e o consequente sofrimento de civis na Faixa de Gaza. A presidente do PT, a propósito, diz em nota oficial do partido que Israel está praticando “genocídio” contra a população palestina.

Foi um desempenho miserável para quem pretende, segundo ele próprio e os jornalistas que servem no seu departamento de propaganda, ganhar o Prêmio Nobel da Paz. A contribuição de Lula para a paz mundial, até agora, tinha sido dizer que a Ucrânia é parcialmente responsável pela invasão do seu próprio território. Agora, quando acontece um terremoto de dimensões históricas como o ataque terrorista contra Israel, o candidato ao Nobel se comporta da pior maneira possível. Na hora em que teria de mostrar coragem, independência e firmeza moral, revela-se um homem fraco, vacilante, com medo de ofender as ditaduras que praticam crimes e, sobretudo, incapaz de produzir uma única ideia original, criativa ou simplesmente útil. Segundo imagina, e de acordo com os “especialistas” em política brasileira e internacional, estaria sendo esperto, ou habilidoso, ao puxar-o-saco do “mundo muçulmano”. Pode evitar a cólera do Irã, do Hamas e das organizações criminosas que encantam a esquerda por serem contra “os Estados Unidos”, as democracias e a liberdade. Mas é pouco provável que essa “moderação” pró-terrorismo tenha apoio popular de verdade no próprio país que preside. Num levantamento de opinião encomendado pela CNN, e com base em 10 milhões de mensagens sobre o conflito, 78% dos brasileiros se manifestaram a favor de Israel. Em outra pesquisa, de O Estado de S. Paulo, 84% dos entrevistados dizem que o Brasil deveria ficar do lado de Israel — e quase 90% acham que teria de condenar o Hamas como movimento terrorista. Não dá para ter nenhuma dúvida sobre de que lado a população brasileira está. Fica evidente, também, que o povo defende exatamente o oposto do que o governo Lula está fazendo.

Membros palestinos das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço armado do movimento Hamas, durante uma patrulha em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza (26/1/2020) – Foto: Abed Rahim Khatib/Shutterstock

É uma demonstração a mais de que o Sistema L faz questão de continuar trancado na cápsula extraterrestre na qual se enfiou desde antes da eleição — e onde não existe povo, não existe Brasil e o oxigênio é fornecido unicamente pelo binômio STF-TSE. A última nota do PT sobre a agressão do Hamas diz que Israel, neste momento, está cometendo “um conjunto de crimes de guerra”. O PT exige, como resposta ao massacre do Hamas, um “cessar fogo”. O que adianta, aí, dizer que o partido condena os atos de violência contra os civis, “vindos de onde vierem”? Não é diferente, na prática, do manifesto de um partido-anão de extrema esquerda que, segundo afirma o seu presidente, não pode “aceitar” que se chame de terrorismo “atos de resistência do povo palestino” — ou seja, assassinar bebês de colo, estuprar mulheres em público e sequestrar 200 civis israelenses para fins de extorsão são atos legítimos de “resistência”. Depois de apresentar como fato real a destruição de “um hospital” em Gaza por parte de Israel, a maioria da imprensa passou a dizer que há “duas versões” — e continua assim, mesmo depois de ficar provado tecnicamente que a explosão foi causada por um foguete lançado do próprio território de Gaza. Um programa de televisão, depois de dizer que Israel estava atirando bombas “a ermo” contra a população civil, exigiu que os Estados Unidos explicassem o que significa “direito de autodefesa” — e por aí se vai.

Lula e a esquerda, desde o seu primeiro dia no governo, têm tomado medidas que vão sistematicamente contra os desejos expressos da população. Impuseram de volta o pagamento obrigatório do “imposto sindical” — que os brasileiros jamais quiseram pagar durante os sete anos em que foi voluntário, por lei aprovada no Congresso Nacional. São a favor do aborto. São a favor da “descriminalização da maconha” — e da criminalização da liberdade nas redes sociais. São a favor do esvaziamento relativo das prisões. Agora ficam contra Israel quando 80% da população é a favor. Estão convencidos de que não precisam do povo brasileiro.

(*) J. R. Guzzo é jornalista. Integrante do Conselho Editorial de Oeste, foi um dos criadores da Veja, revista que dirigiu durante quinze anos, a partir de 1976, período em que sua circulação passou de 175.000 para 1 milhão de exemplares semanais. Correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Responsável pela criação da revista Exame, atualmente escreve no Estado de S. Paulo e na Gazeta do Povo.

Fonte: https://revistaoeste.com/revista/edicao-188/surtos-de-negacionismo/

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