Trump vem aí

Sua volta seria a melhor lição de moral aos que tentam transformar os Estados Unidos numa republiqueta das bananas, num país latino-americano fracassado

Por Rodrigo Constantino (*)

Para o desespero do “deep state”, cada vez fica mais provável uma volta de Trump à Casa Branca. Foram anos de massacre midiático com fake news, dois processos de impeachment com base em fumaça, quatro indiciamentos politizados (até agora) e um esforço impressionante para criar uma candidatura republicana alternativa, em especial na figura do governador Ron DeSantis. Mas nada parece ter surtido o efeito desejado.

Nesta semana tivemos o debate dos pré-candidatos republicanos, organizado pela Fox News, mas Trump não apareceu. Ele preferiu conceder uma entrevista a Tucker Carlson, que recentemente saiu da Fox News. Foi um claro desafio ao establishment, e os dois “outsiders” — Trump e Carlson — mostraram que a velha imprensa não tem mais o poder de outrora.

Em poucas horas, a entrevista de Trump tinha atingido o impressionante número de 100 milhões de visualizações na plataforma X, o antigo Twitter, de Elon Musk. Trump respondeu a perguntas que vão desde por que não compareceu ao debate até se acredita que os Estados Unidos estão a caminho de uma guerra civil — e foi até questionado pelo ex-apresentador da Fox News se está preocupado com uma tentativa de assassinato.

A entrevista, que foi postada no X cinco minutos antes do início do debate republicano, acumulou mais de 100 milhões de visualizações antes do final da noite, informou a Newsweek. Na manhã de quinta-feira, a entrevista de Carlson com Trump atingiu quase 180 milhões de visualizações. Diante de tais números chocantes, cabe perguntar: quem ainda precisa da mídia mainstream, ainda mais quando se sabe que os jornalistas não passam de militantes disfarçados?

Os republicanos têm um real dilema: a cada nova perseguição contra Trump, mais ele cresce nas primárias, pelo sentimento de injustiça e sede de vingança; mas será que ele é realmente o melhor candidato para derrotar os democratas? Esse é o ponto que Ben Shapiro tem levantado com insistência: o objetivo prioritário dos conservadores deve ser retirar Joe Biden do poder, e eles deveriam avaliar com frieza quem tem mais chances disso.

Se fizeram de tudo para destruí-lo, então nada melhor do que colocá-lo de volta no poder para dar uma resposta republicana aos golpistas

Em política não se deve agir com o fígado. E, quando Trump está na disputa, a disputa passa a ser sobre Trump, que tem bastante rejeição entre os independentes. Para Shapiro, outro candidato, como DeSantis, teria mais chances de transformar o pleito num plebiscito sobre o governo Biden, o que seria mais vantajoso para os republicanos, uma vez que o governo tem resultados sofríveis e Biden, além de senil, é visto como alguém corrupto.

O argumento de Shapiro é legítimo, mas o fato é que a liderança de Trump é bastante folgada para ser ameaçada pelos concorrentes. Dependendo da pesquisa, Trump tem uma margem de até 40 pontos percentuais à frente do segundo colocado. Particularmente considero os ataques de Trump a DeSantis injustos e exagerados, e ele tem sido um bom governador na Flórida. Mas entendo o mindset: ninguém gosta de instrumentalização do Estado para perseguir um político, e isso gera forte reação. No mais, as políticas do governo Trump foram boas, em que pese a crítica legítima do seu estilo pessoal.

Ron DeSantis, governador da Flórida, discursa ao lado do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Ron DeSantis, governador da Flórida – Foto: Reprodução/Redes Sociais

Ou seja, Trump atrai quem foca resultados e justiça, pois ele entregou bons resultados e está sendo perseguido não por seus reais defeitos ou crimes, mas por representar uma ameaça ao establishment. O povo mais conservador percebe isso e escolhe Trump como a melhor resposta. Se fizeram de tudo para destruí-lo, então nada melhor do que colocá-lo de volta no poder para dar uma resposta republicana aos golpistas.

Aspectos populistas em Trump podem incomodar os mais puristas, mas é inegável que a corrupção do sistema foi longe demais. Muito se fala na Academia e na imprensa dos riscos que alguém com o perfil de Trump representaria à democracia, mas eles se calam diante do uso do poderoso aparato estatal para perseguir um cidadão, o que significa um risco infinitamente maior.

Se os norte-americanos ainda têm alguma dúvida disso, basta observarem o que se passa num país mais ao sul, onde o Trump tupiniquim vem sendo massacrado e, em nome da defesa da democracia, um estado de exceção foi armado, com censura prévia a jornalistas, prisões arbitrárias e caça às bruxas, criminalizando qualquer apoio ao líder direitista. A sorte dos norte-americanos é que ainda há uma Suprema Corte decente em seu país, assim como liberdade de expressão.

Como residente da Flórida há quase uma década, posso atestar a capacidade de Ron DeSantis de gerir a coisa pública e de não abandonar a guerra cultural. Mas mesmo alguém como eu, que gosta do DeSantis, acha que a volta de Trump seria a melhor lição moral aos que tentam transformar esta grande nação numa republiqueta das bananas, num país latino-americano fracassado. E seria também o melhor antídoto contra a corrupção das elites “progressistas”. Isso sem falar do extra: a enorme diversão de imaginar o desespero dos militantes esquerdistas nas redações dos jornais tendo de dar a notícia: “Trump is back!“.

Donald Trump Capitólio
Donald Trump – Foto: Reprodução/Redes Sociais

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Trump se entregou para ser preso no Condado de Fulton, Geórgia, na noite de quinta-feira, sob múltiplas acusações criminais decorrentes de seus supostos esforços para anular os resultados das eleições presidenciais de 2020. O ex-presidente concordou, no início desta semana, em pagar uma fiança de US$ 200 mil e acertou outras condições de liberação com o gabinete do procurador distrital do Condado de Fulton. Pat Labat, xerife do condado, confirmou que Trump teve sua “mug shot” tirada, aquela típica foto para prisioneiros. Mas, como Trump é antifrágil, uma espécie de monstro da lama que, quanto mais lama jogam nele, mais cresce, o próprio ex-presidente utilizou a imagem para marcar seu retorno ao antigo Twitter, comentando: “Interferência eleitoral, nunca se renda”. A imagem já viralizou e se tornou icônica, com Trump lançando um olhar desafiador aos seus algozes. Se tem alguém que sabe usar adversidades para se fortalecer, essa pessoa é Donald Trump…

(*) Economista liberal-conservador, autor do best-seller “Esquerda Caviar” (Editora Record)

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