Haddad neoliberal?

O PT, comandado por Gleisi Hoffmann, resolveu abrir fogo contra o ministro da Fazenda — mas ele é o poste de Lula

Fernando Haddad, ministro da Fazenda - Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Ricardo Stucker/PR

Por Rodrigo Constantino (*)

O PT está em guerra interna, e o ministro Fernando Haddad é alvo de “fogo amigo”. Ao menos é isso que o próprio PT, com a ajuda de quase toda a imprensa, quer que pensemos. O ministro da Economia está “ortodoxo” demais, ou “austericida”, nos termos petistas. Já é basicamente um “neoliberal”, alguém que sucumbiu ao “mercado”. Olhamos aquele incompetente prefeito paulista, autor de uma tese em defesa do socialismo, mas vemos Armínio Fraga, Pedro Malan, quiçá Paulo Guedes!

Quem cai nessa ladainha? Não duvido de disputa interna, claro. Lula não é eterno, e o PT nunca foi capaz de produzir outra liderança. A turma de Gleisi Hoffmann vai fritar Haddad de olho no espólio político. Mas daí a acreditar num verdadeiro racha, numa real disputa por visões essenciais de mundo, vai uma longa distância. É preciso ser ingênuo demais para enxergar Haddad como um defensor da responsabilidade fiscal contra um PT raiz hostil ao mercado.

Por que Haddad virou ministro, em primeiro lugar? Foi por mérito próprio, por histórico de resultados, por experiência na área? Claro que não! Haddad é o poste de Lula, apagado sem o chefe decidir jogar alguma luz. Ele foi escolhido justamente por ser uma sombra do líder petista, por não ter força própria. A mídia tucana tenta criar o Haddad independente, ortodoxo, sensível aos anseios do “mercado”, mas crer nisso é algo bem absurdo. Especialmente para quem já conhece o modus operandi da esquerda.

A estratégia das tesouras sempre foi utilizada pela esquerda. Por quanto tempo o PSDB não foi vendido pela imprensa como oposição liberal ao PT, como um partido… de direita?! Mas esse teatro não cola mais depois do advento das redes sociais e de uma verdadeira direita, que vem sendo perseguida de forma implacável pelo sistema podre e carcomido, pelo consórcio tucanopetista. O intuito do teatro é jogar a janela de Overton cada vez mais para a esquerda, até um ultrarradical como Guilherme Boulos ser visto como um esquerdista moderado, enquanto um esquerdista radical feito José Serra (ou o próprio Haddad) ser tratado como de direita.

Quem vê cara não vê coração — e no coração de Haddad corre o sangue vermelho do socialismo

Com esse contexto em mente fica mais fácil identificar o show patético em curso no país, que quase toda a velha imprensa tenta empurrar para o público. Haddad é o corajoso defensor da responsabilidade fiscal lutando bravamente contra uma ala mais radical e obsoleta do PT. Haddad, o fiador do mercado! Haddad, uma espécie de Paulo Guedes com uma “face social”. Pinta de tucano ele sempre teve — e por isso mesmo era o petista escolhido para disputar votos das elites paulistanas. Mas quem vê cara não vê coração — e no coração de Haddad corre o sangue vermelho do socialismo.

Teatro chinfrim

É incrível como o brasileiro, ao menos aquele que assiste à GloboNews, cai fácil em truques tão baratos. Notem como a indicação de um comunista para o STF passou como algo banal, com a imprensa normalizando ou tratando como brincadeira a confissão de Lula, todo feliz, por ter conseguido colocar um companheiro de luta comunista na Suprema Corte. Extremista só Bolsonaro, só a direita, não é mesmo?

Enquanto isso, o projeto totalitário de poder do Foro de São Paulo continua avançando. E os tucanos do “mercado” continuam discutindo baboseiras, tomando o partido de Haddad na “disputa interna” do PT, que é controlado de forma centralizada por Lula há décadas. Quando os petistas olham as reações dos “liberais” tucanos, caindo feito patinhos nesse teatro chinfrim, eles devem morrer de rir…

Foto: Shutterstock

(*) Economista liberal-conservador, autor do best-seller “Esquerda Caviar” (Editora Record)

Fonte: https://revistaoeste.com/revista/edicao-198/haddad-neoliberal/

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