Salvar a economia é salvar vidas

CAIXA
Foto: Divulgação

Nelson Azevedo (*) [email protected]

Até o momento não há qualquer sinalização de que o governo federal irá manter seu auxílio emergencial para os despossuídos deste país tão desigual que – campeão mundial na produção de alimentos – deixa sua gente de pires na mão à espera de políticas públicas mais efetivas. Estamos diante da crescente e assustadora insegurança alimentar, que já atinge 2,7 milhões de pessoas no Amazonas. Trata-se de mais uma entre tantas tragédias anunciadas. Somos o maior estado do Brasil, geograficamente, o mais protegido ambientalmente e, infelizmente, o segundo mais afetado pelo corte do auxílio emergencial. Perdemos apenas para o Amapá em termos de vulnerabilidade social, proporcionalmente ao número de habitantes.

Fazer rodar a economia

Mais do que nunca precisamos assegurar o movimento na roda da economia para retomar empregos e geração de riqueza. Assim procedendo, teremos condições de criar postos de trabalho em todos os setores da economia, gerando renda e arrecadação. Caso contrário podemos naufragar a catraia social, desencadear a violência e o caos. Fomos pegos no contrapé, é verdade, mas estamos diante de uma guerra em que perdemos para a improvisação e reduzida visão de curto prazo. E o problema não pode ser completamente debitado na conta da pandemia. O buraco é mais embaixo, maior e bem mais antigo. E cheira mal.

Desigualdades regionais

Como pode o segundo estado onde mais existe fome, segundo o IBGE, ser um dos cinco estados da federação que mais recolhe tributos. Foram R$ 25 bilhões de impostos pagos aos três entes federativos, União, Estado e Município, em 2019, com ênfase ao mais compulsivo na cobrança de impostos, a União, com R$17,5 bilhões de IPI. O presidente da República, Jair Bolsonaro, na crise do oxigênio, quando todos se apressaram em buscar culpados, afirmou que havia feito o que poderia fazer pelo Amazonas e que já havia enviado R$9 bilhões, aproximadamente. Ora, fazendo as contas, nosso crédito salta aos olhos. 17,5 menos 9, quando sobra? Está na hora de parar de fazer deste Estado, pobre e depauperado,  um exportador de recursos, selecionado para levar o Brasil nas costas. A Carta Magna é muito clara a respeito: a contrapartida fiscal que recebemos, por ser região remota, tem que se transformar em riqueza para reduzir as desigualdades regionais. É sintomático ter sido esta temática para a prova de redação do ENEM.

Mutirão a favor dos excluídos

“As contas públicas do país, o teto fiscal, não permitem que se continue com auxílio emergencial, reconhecidamente necessário.”, defende-se o governo. É preciso mobilizar a sociedade e aceitar sugestões de quem gera riqueza, o setor privado. Por que não desonerar a folha de contratações e deixar as empresas contratar novos colaboradores? Esta é a saída mais imediata e a mais digna, gerar emprego. É isso que sabemos fazer. É oferecer cursos on-line e gratuitos como tem feito o Sistema S. Afinal, nem precisa dizer que a educação tem um papel fundamental para sair desse imbróglio.

O dinheiro é do povo

Por que não cobrar dos bancos ações sociais mais efetivas como são feitas pela indústria? Se o propósito é salvar a Amazônia, enquanto não se abre a economia, que o auxílio emergencial seja pago pelo tecido social, os mais aquinhoados à vista dos excluídos. Na semana passada, o Tribunal Regional do Trabalho transformou multas trabalhistas em cestas básicas para serem distribuídas pela Arquidiocese de Manaus, com quem temos trabalhado na distribuição de alimentos. Há entes públicos com polpudas verbas aplicadas no mercado de capitais. Acredite se quiser. Esse dinheiro é do povo, gente!

Um passageiro por poltrona

E por falar em gestão da pandemia, contaminação das aglomerações que o toque de recolher busca mitigar, gostaríamos  da fazer uma sugestão: por que não liberar mais ônibus para fazer como fazem as empresas do Polo Industrial de Manaus?: um banco para cada passageiro. Distanciamento preventivo. Isso fazemos também  no refeitório da fábrica, e demais setores dentro do protocolo sanitário que faz do espaço fabril um lugar de proteção e produção. Temos que aplicar com disciplina e bom senso essa conduta de prevenção. Aliás, é  tudo aquilo que precisamos para assegurar a dinâmica da economia, e assim  resguardar a cidadania, a vida em sua dignidade, primazia e valor.

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, vice-presidente da FIEAM e Conselheiro do CIEAM.

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