A ideologia da inveja

Aqueles que, guiados por instintos primitivos, fingem defender a igualdade enquanto condenam a propriedade privada, a competição, o lucro representam uma ameaça à civilização

Por Rodrigo Constantino (*)

Lula fez seu discurso na ONU esta semana, sendo aplaudido por uma elite culpada enquanto recebia o desprezo de Zelensky, presidente da Ucrânia. O petista disse platitudes, acendeu velas para os globalistas ao falar das “mudanças climáticas”, foi extremamente cínico ao defender a democracia ao mesmo tempo que defende o regime ditatorial cubano, e cobrou mais combate às desigualdades. O foco aqui será este último ponto, crucial para o petismo.

A obsessão da esquerda é sempre com a desigualdade, não com a pobreza em si. Isso ocorre pois os esquerdistas partem de uma premissa absurda de que a economia é um jogo de soma zero, onde João ficou rico porque tirou algo de Pedro. Por essa ótica falsa, o Estado teria o papel de promover a “justiça social”, tirando de João e dando para Pedro para “combater as desigualdades” — e ficando com enorme pedágio no processo, pois esses “ungidos” precisam ser bem recompensados por seu esforço de Robin Hood.

Se retirarmos o véu que cobre os motivadores reais por baixo do adjetivo “social”, fica evidente que essas pessoas falam em desigualdade material apenas, nada mais. Estão condenando o fato de que alguns indivíduos conseguiram recompensas monetárias acima dos outros. Em suma, estão olhando somente para a conta bancária, como se nada mais existisse na vida.

Ilustração: Shutterstock

Eles sabem que se usarem o termo verdadeiro, perderão a pose de nobreza que vem como resultado do uso do adjetivo “social”. Ora, desiguais os seres humanos já são ao nascer! A genética é diferente, as paixões e interesses, a educação em casa, os anseios e metas, a inteligência e o esforço, até a sorte, claro. É simplesmente impossível atribuir peso para cada um desses itens, e é o resultado dessas características na livre interação dos indivíduos que vai determinar as recompensas financeiras.

Isso não quer dizer valor, no sentido de estima, que é mais subjetivo. Um médico pode ser mais respeitado como indivíduo do que um jogador de futebol, ainda que o último tenha uma conta bancária maior. Isso é injusto? Aqueles que pensam que justiça seria tirar na marra o dinheiro do jogador para dar ao médico estão assinando um atestado de materialistas, que só enxergam dinheiro na frente. E autoritários, claro, pois isso fere a liberdade individual.

Como disse Benjamin Franklin, “aquele que é da opinião que dinheiro fará qualquer coisa pode muito bem ser suspeito de fazer qualquer coisa por dinheiro”. O caráter e a felicidade das pessoas não podem ser medidos pelo bolso. Há pobres decentes e felizes, e ricos imorais e infelizes. No entanto, parece ser justamente isso que os igualitários defensores da “justiça social” pensam. Eles apontam a desigualdade material e clamam por “justiça social”, ou seja, saldos bancários similares. Eles não querem necessariamente melhorar as oportunidades dos mais pobres, e sim focar os ricos, avançar sobre a riqueza que construíram.

Foto: Anton Vierietin/Shutterstock

O esforço não é garantia de sucesso no livre mercado competitivo. Aqueles que tentaram e não conseguiram a mesma recompensa que o vizinho podem ser alimentados pela inveja. Ainda que compreensível, tal sentimento é destrutivo, uma paixão mesquinha, como disse Adam Smith. O invejoso trabalha contra o interesse da sociedade, dos indivíduos. Somente quando o processo de mercado determina a recompensa financeira há um funcionamento eficiente da economia, permitindo maior criação de riqueza e conforto material para todos.

O foco de quem realmente se preocupa com os mais pobres deveria ser a pobreza em si, não as desigualdades, já que riqueza não é um bolo fixo. Um indivíduo fica rico no livre mercado somente criando valor para os demais

Aqueles que, guiados por instintos primitivos, fingem defender a igualdade enquanto condenam a propriedade privada, os livres contratos, a competição, o lucro e até mesmo o próprio dinheiro representam uma ameaça à civilização. Eles acham que são movidos pelo senso de justiça e que podem definir de cima para baixo como arranjar os esforços humanos da melhor forma para atender seus desejos, mas estão profundamente enganados. Seus meios promovem apenas mais miséria e escravidão.

Eis o que está por trás da máscara da maioria dos combatentes das “desigualdades sociais”. Afinal, o foco de quem realmente se preocupa com os mais pobres deveria ser a pobreza em si, não as desigualdades, já que riqueza não é um bolo fixo. Um indivíduo fica rico no livre mercado somente criando valor para os demais. Michael Dell, Steve Jobs, Elon Musk e tantos outros empreendedores não tiveram que tornar ninguém mais pobre para ficar bilionários. Muito pelo contrário: eles ficaram ricos criando riqueza para os seus consumidores.

Foto: Shutterstock

Quem pretende acabar com as desigualdades está mirando apenas a relação entre ricos e pobres, ignorando que os pobres melhoram de vida se os indivíduos puderem ficar ricos. Se antes o meu transporte era uma carroça e agora posso andar de carro, não importa se meu vizinho tem uma Ferrari. Minha qualidade de vida melhorou, meu conforto é maior, graças ao capitalismo. Países mais capitalistas e livres podem ter muita desigualdade, mas têm também muito menos pobreza. Já nos países socialistas são todos iguais na miséria, à exceção, claro, da casta no poder.

Focar apenas as desigualdades materiais, ainda por cima disfarçando isso com o uso inadequado da palavra mágica “social”, é um atentado contra a civilização, principalmente contra os mais pobres. Vamos atacar a miséria em si, e isso se faz com o capitalismo de livre mercado. Mas deixemos as desigualdades “sociais”, leia-se “materiais”, em paz. Elas são fundamentais para preservar a ordem espontânea que cria riqueza e reduz a miséria.

(*) Economista liberal-conservador, autor do best-seller “Esquerda Caviar” (Editora Record)

Fonte: https://revistaoeste.com/revista/edicao-183/a-ideologia-da-inveja/

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