ZFM, qual é a próxima etapa?

“Vale lembrar, com efeito, que saíram das receitas geradas pelo Polo Industrial de Manaus parcelas robustas dos recursos de P&D para bancar pendências do referido programa Ciência Sem Fronteiras, por isso, nada mais justo que estes cientistas aquinhoados e aqueles que, por eles possam ser recomendados, venham nos ajudar a consolidar as próximas etapas da diversificação, adensamento e interiorização do desenvolvimento”

Por Nelson Azevedo (*) [email protected]

O compromisso da reindustrialização do Brasil, desenhado pela CNI e apresentado aos candidatos das últimas eleições, destaca a necessidade da manutenção da ZFM, a Zona Franca de Manaus, entre outras recomendações objetivas e substantivas que precisam ser revisitadas. Para além do arcabouço fiscal ou reforma tributária, e com a Constituição em mãos, não temos desculpa para não buscar as novas etapas. Uma delas é a diversificação e adensamento da Indústria aqui instalada. Uma delas, com a definição da modelagem de negócios do Centro de Bionegócios da Amazônia, é a Bioeconomia, um conceito genérico que já começou precariamente no Ciclo da Borracha, desde que vendíamos as pelas defumadas, retirada do leite da seringueira, para atender a indústria nascente da borracha, na Europa, nos primórdios da II Revolução Industrial.

Programa Prioritário de Bioeconomia-PPBio

Com a proclamação da independência do CBA, a gestão federal da SUFRAMA, enfim, sinaliza um compreensão maior da necessidade de diversificação e adensamento da produção fabril do Amazonas. Uma sinalização esperada e que joga a responsabilidade para os novos atores já selecionados por um demorado processo de escolha. É muito importante, ou seria oportuno, mobilizar os atores locais para identificar ações já em andamento, e bem sucedidas como as iniciativas robustas do IDESAM, gestor do PPBio, Programa Prioritário de Bioeconomia da Suframa, que fomenta novos negócios da Bioeconomia bem antes da pandemia. Certamente essas iniciativas, tocadas por uma multidão de novos empreendedores espalhados pela floresta, verão com bons olhos os serviços vitais  do CBA colocados  à disposição da consolidação dos produtos e processos.

Verticalização do Polo de Duas Rodas

Instituições similares ao CBA, já existem há décadas nos países industrializados, desde a década de 50, com a descoberta da configuração química do DNA, seguida da tecnologia da manipulação genética. No Brasil, num ritmo mais lento, começa a evolução da biologia molecular, fisiologia, microbiologia, engenharia química, engenharia ambiental e, apenas mais recentemente, a nanobiotecnologia. Hoje, graças à tecnologia avançada da Embrapa de São Carlos, SP, a fabricação de pneus, entre outros artefatos de borracha no país, utilizam nanobiotecnologia com o manejo genético de clones extraídos das seringueiras da Amazônia que são cultivados no Noroeste paulista, antes de produzir a matéria prima para as respectivas indústrias, de acordo com rigorosos protocolos. Este é um exemplo da diversificação e adensamento no processo produtivo já conquistado, por exemplo, pelo polo de duas rodas, onde a verticalização alcança taxas próximas a 100%.

Sem xenofobia nem romantismo

A nova etapa, entretanto, não será apenas a diversificação do setor de biotecnologia. Esse vai demorar a alcançar o ranking das indústrias já instaladas em Manaus, que produzem itens de elevada agregação tecnológica. Estes itens nos desafiam a todo momento para replicar e nacionalizar os valores pagos pelos pacotes tecnológicos. E ai, tanto para apropriação tecnológica na indústria já instalada e em sua diversificação biotecnológica, precisamos investir em qualificação de nossos jovens com mais recursos e propósitos específicos. Por isso, em lugar de demonizar parcerias internacionais, precisamos acolhê-las. Este sempre foi o método mais rápido e pratico de avançar etapas. Sem xenofobia nem romantismo.

Diversificação e adensamento

Sejam, pois, bem-vindos os cientistas, não apenas aqueles que foram formados pelo Ciência sem Fronteiras em todas as áreas que dizem respeito à economia e ao patrimônio natural aqui borbulhante. Vale lembrar, com efeito, que saíram das receitas geradas pelo Polo Industrial de Manaus parcelas robustas dos recursos de P&D para bancar pendências do referido programa Ciência Sem Fronteiras, por isso, nada mais justo que estes cientistas aquinhoados e aqueles que, por eles possam ser recomendados, venham nos ajudar a consolidar as próximas etapas da diversificação, adensamento e interiorização do desenvolvimento.

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM, vice-presidente da FIEAM e diretor da CNI.

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