Na Amazônia, a Constituição usa fardas

Por Nelson Azevedo (*) [email protected]

“O Brasil trata  a Amazônia como Colônia e os amazônidas como cidadãos de segunda classe”. O desabafo do general Eduardo Villas-Bôas, pronunciado junto à mídia nacional, há quase duas décadas, vai ecoar ainda por muitos anos pelo país. Mudança de costumes e posturas preconceituosas não se dissipam de uma hora para a outra. É preciso obstinação e determinação de luta dos destratados e cultivo ao espírito de brasilidade efetiva por parte de nossos governantes, com a ajuda dos professores e professoras. Afinal, o melhor momento institucional de nossa vida para formar o caráter e construir uma visão de mundo consistente e eticamente coerente de cidadania, depois do ambiente familiar, é na escola. E quando esses valores se referem à Pátria, todos os aplausos passam pelas instituições militares.

Rodízio da brasilidade

Um dos fatores – somados a uma densa Doutrina de Segurança Nacional – que dão papel dos militares essa importância singular, fica por conta de sua presença, em sistema de rodízio, em todo território nacional. Gaúchos, baianos, fluminenses… quem vem para a Amazônia, sempre por ela se apaixona e dissemina pelo resto de suas vidas a importância desse envolvimento amoroso com o país das águas e das matas, dos povos primitivos e, especialmente, de suas potencialidades naturais colocadas a serviço do Brasil e da Humanidade, como o banco genético de nossa biodiversidade. Aí estão as respostas para as demandas de saúde, beleza e alimentação integral, além, é claro, dos preciosos serviços ambientais de que tanto padece essa civilização predatória.

Braço forte e mão amiga

Infelizmente, na Amazônia, onde as Forças Armadas desempenham as atribuições  mais apreciadas e bem avaliadas pela população ribeirinha,  o contingente é discreto à luz das dimensões continentais da região e das demandas de ocupação civilizatória e de proteção de que a floresta e o tecido social precisam. Nosso estado e seus vizinhos, sua localização geográfica e geopolítica, os estados que compõem a Amazônia Ocidental, precisariam do “braço forte e da mão amiga” com mais volume e contingentes, para instalação da paz, da integração da brasilidade e do partilha das oportunidades e potencialidades da região para a diversificação econômica, redução das desigualdades regionais e expansão da prosperidade social que podemos construir. Por que a União despacha batalhões inteiros para manter a ordem nos morros cariocas, e não expande a mesma atuação para a Amazônia, onde as mesmas facções criminosas perpetram a ilicitude abertamente, de acordo com relatórios da Polícia Federal?

Integração solidária

Referimo-nos à importância do Comando Militar da Amazônia, seu plano de trabalho e governança integrada, que investe na aproximação da vida cotidiana do cidadão comum, interagindo positivamente com as demais instituições e segmentos públicos e do setor produtivo desta região frequentemente esquecida pela União. E os brasileiros que aqui vivem aplaudem o imperativo dessa interação. Este foi um Acórdão de 2016, envolvendo o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público Federal, recomendando mais ações compartilhadas e integradas, a começar pelos órgãos federais da região e sua interlocucao com os atores estaduais e municipais, um movimento decisivo e de fundamental relevância e emergência.

CMA e Suframa

Foi esse o resgate de propósitos conduzidos pela iniciativa do Pró-Amazônia, um movimento interdisciplinar e interinstitucional, desenhado no âmbito do Comando Militar da Amazônia e que emerge, com novas metas e planos, na atual gestão da Suframa, revisitada e redimensionada com obstinação e vigor, tanto pela equipe de comando como no conjunto de seus servidores. A autarquia se transformou numa verdadeira agência indutora do desenvolvimento, integrando os estados da Amazônia Ocidental, mais o Amapá, e mobilizando parcerias com instituições de ponta, na área de pesquisa, desenvolvimento e inovação de outros quadrantes da nação.

Acertos, avanços e demandas da ZFM

A O Comando Militar da Amazônia e a Suframa, ao juntar objetivos e parcerias, são instituições que estimulam a obviedade dessa movimentação na realidade em que estão inseridas. No último debate da tribo, reunião do CODAM, o Conselho Regional da Suframa, não havia distinção entre civis em militares, apenas um apelo contagiante – neste momento de ataque aos acertos do programa ZFM de redução das desigualdades regionais- de trabalharmos em conjunto, em mutirão colaborativo, para manter a brasilidade, a integração e a união nacional. E, claro, investimentos e empregos de que precisamos. Se adubarmos o instinto da contenda, vamos semear ventos e colher tempestades. Mas se fortalecemos o que nos une mais facilmente vamos comunicar/consolidar nossos acertos, avanços e demandas, sem perder a identidade de cada um, muito menos as bandeiras comuns que nos recomendam a comunhão dos planos e das conquistas.

Ordem do Dia

Este foi o espírito da Ordem do Dia, nas comemorações do Dia do Exército na semana passada, onde honrosamente fomos incluídos,  e o sentido das homenagens prestadas pelo Comando Militar da Amazônia. O brado do general vai ecoar ainda por muito tempo mas temos uma consciência coletiva que nos fraterniza e empurra para “A Pátria acima de tudo”, integrada e solidária, principalmente, para combatermos o preconceito, a injustiça, os estragos da desunião, dos conflitos com propósitos inconfessos, do descuido com nosso aparato constitucional, a Bíblia de todos nós, que vivemos na Amazônia, civis e militares. Selva!!!

(*) Nelson é economista, empresário, presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos  de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.

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