Bioeconomia, o vetor preferencial da Indústria na Amazônia

Por Nelson Azevedo (*) [email protected]

“Quem espera nunca alcança”. A frase do poeta, na canção Bom Conselho, foi interpretada pelo filósofo Mário Sérgio Cortella, um pensador das questões cotidianas. Numa de suas entrevistas, assisti a uma inteligente distinção entre o verbo esperar e o sua aparente variante esperançar. Para ele, a diferença é tanta que transforma a aparente significância em efetiva oposição. Esperar é aguardar passivamente que alguém  se disponha a entregar o que prometeu. Ou seja, fazer sua parte. Esperançar é sonhar com uma realidade alcançável, com um objetivo claro, seja pessoal, coletivo e participativo, onde o sujeito trabalha com propósitos e condições de viabilidade. Esperar é passivo e Esperançar é ativo, ou proativo. E isso faz toda adiferenca.

Diversificar e adensar

Esperançar pode ser aplicado a uma das alternativas de adensamento e diversificação da economia do Amazonas, a Bioeconomia, um conjunto de atividades produtivas que alcançam iniciativas econômicas baseadas  na diversidade biológica. Sempre no padrão assumido pelo Polo Industrial de Manaus, que se baseia na biodiversidade, o conceito de orientação operacional que sustenta as cadeias produtivas da Zona Franca de Manaus. Não significa substituir a planta industrial com mais de meio século de estruturação e funcionamento no coração da maior floresta tropical do planeta. Inexiste uma atividade que possa substituir a contento essa matriz econômica, da qual emanam os recursos para a diversificação, adensamento e interiorização da economia.

Intuições promissoras

Desde 2017, atendendo às demandas das empresas instaladas em Manaus, notadamente aquelas que enxergam na biodiversidade florestal, a Suframa tratou de promover a base jurídica e opercional que resultou no PPBio – o Programa Prioritário de Bioeconomia. Passados quatro anos, o planejamento da autarquia, compartilhado com o IDESAM, uma das melhores organizações do setor privado, reconhecida pelos atores regionais e nacionais, por sua atuação no desafio de desenvolver novas modulações econômicas sem desmatar a cobertura vegetal.

Saber tradicional e científico

As ações no âmbito da biodiversidade buscam acolher as técnicas e condutas do saber local e tradicional, atualizados e diversificados pelas instituições locais e regionais que se dedicam há décadas para levar ao mercado os benefícios de alternativas alimentares, medicinais e dermocosméticos, um manancial infindo de possibilidades. E é justamente isso que tem sido demonstrado pelos empreendedores do PPBio. Uma economia circular, com recursos florestais renováveis, socialmente inclusivos, que só precisam do suporte de inovação tecnológica… Um caminho promissor a atender demandas pontuais na rotina da indústria e no cotidiano da sociedade. Através do beneficiamento de castanhas, óleos vegetais, manejo florestal, piscicultura, produção de ração, resinas e oleicultura, um mundo raro e rico de alternativas que gera riqueza sem desmatar, nem queimar a mata. Vejamos a urgência da produção de borracha. Manaus concentra um polo de Duas Rodas, que gera 14 mil empregos e pode dobrar essa empregabilidade se o mercado da produção e consumo da borracha puder atender a essa demanda.

Desmatar é atitude vesga

Essas intuições e realizações demandam recursos, e eles existem. E podem ser utilizados sem desmatar um hectare de floresta. Já temos muita área desmatada e abandonada que precisam de recuperação. Elas podem multiplicar, através do reflorestamento, o leque de empregos que o replantio esconde. O que não pode é seguir fomentando a pecuária na Amazônia. A remoção da cobertura vegetal é vesga e atinge de morte o agronegócio.

Emissões equivocada

Em 2020, segundo o Instituto Escolhas, 62% das emissões de CO2e do Maranhão e 85% das emissões do Pará foram causadas por mudanças no uso da terra, em sua maior parte decorrentes do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Verbas de grosso calibre do FNO, Fundo Nacional do Norte, serviram para remover floresta. E agora podemos recorrer a ele para fomentar a Bioeconomia. A Suframa já enxergou essa obviedade e inseriu sua adoção ostensiva no desafio de diversificação do Polo Industrial de Manaus em sua viabilidade. Este é um caminho e uma resposta robusta para aqueles que nos cobram novos vetores econômicos de nosso programa de desenvolvimento regional. Não há por que esperar. Temos apenas que esperançar e transformar os recursos aqui gerados em programas de prosperidade para o interior da Amazônia. Desde a quebra do Ciclo da Borracha esta bandeira é nossa e nunca ela foi tão atual e promissora. Vamos em frente.

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.

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