As janelas sustentáveis de oportunidades da ZFM

Por Nelson Azevedo (*) [email protected]

Longe de nos apavorar, as estatísticas da adversidade econômica devem nos unir e fortalecer. São inquietantes, a propósito, os dados da  Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), sobre os indicadores da desindustrialização do país e seus reflexos na balança comercial brasileira. Devemos aplaudir a performance de exportação do agronegócio. Mas isso não nos pode paralisar sob hipótese alguma. Recordes seguidos na exportação de commodities não reduz as dimensões do problema da desindustrialização nacional. Uma atividade não resolve o encolhimento da outra. O saldo comercial no setor fabril é negativo e revela um rombo de US$ 125 bilhões, incluindo os itens de maior agregação de valor por inovação tecnológica. Para onde e como estamos indo? Os alertas da CNI são diários e as medidas necessárias à mudança são públicas porém tímidas.

Entraves da competitividade

As razões deste cenário são antigas e repetitivas: custo Brasil com destaque para precariedade da infraestrutura, excessos burocráticos e recessão mundial iminente… são alguns dos entraves reais à competitividade mas não podem ser invocados para justificar a inércia diante dos indicadores da precária performance competitiva. O que fazer quando, neste cenário adverso, o assunto é a economia do polo industrial de Manaus e as perspectivas sinistras da reforma tributária batendo, novamente, à sua porta? Além da união de todos, podemos  dar um passo à frente, descruzar os braços e avançar na redução da reclamação e da reivindicação. Atacam incessantemente a segurança jurídica do polo industrial de Manaus, e temos nos defendido com as narrativas do anteparo constitucional.  Entretanto, os tempos mudaram. Quase R$5 bilhões de receita produtiva foram glosados. E já faz tempo, uma lufada recessiva começou a soprar mais forte. Remover da paisagem a ZFM, essa economia bem sucedida de compensação fiscal para redução das desigualdades regionais, é uma fantasia deletéria de alguns setores da economia nacional. Isso não é novidade pra ninguém e não pode nos intimidar, porém.

IDHs da fragilidade social

Espernear sem nada propor e, muito menos, arregaçar as mangas pode significar, entretanto, muita chuva no molhado amazônico. Seguidas iniciativas – algumas estapafúrdias – têm desenhado caminhos alternativos para a economia da Amazônia desde os primórdios do programa Zona Franca de Manaus. Isso não tem sido suficiente para mitigar a vulnerabilidade social constatada pelos indicadores socioeconômicos do IBGE. São 11 municípios entre os mais fragilizados pelos baixos indicadores de desenvolvimento humano. O que será possível fazer para decifrar essa assombrosa equação?

Gargalos, demandas e premência

É sugestiva a proposta apresentada pelo poder público estadual na formatação do plano de diretrizes e estratégias para o desenvolvimento econômico sustentável do Amazonas. Esperamos que a iniciativa comporte um programa detalhado de identificação – com respectivas providências e interferências – dos gargalos, demandas emergenciais e premência sociais para geração de emprego, renda e oportunidades. Sempre no modo mãos arregaçadas, claro. Lideranças operacionais, metas e resultados de avaliação são metodologias bem sucedidas na indústria.

Só nos resta prestar atenção

Afinal, há décadas temos dito que é preciso ensaiar novas modulações sócio econômicas, sobretudo através da utilização sustentável da diversidade biológica imensurável de que dispomos. Insistimos, para exemplificar, em algumas ações da Suframa que, desde 1997, iniciou a definição de emergências em alguns setores prioritários de nossa economia. Lembramos dos Estudos de Potencialidades Regionais, encomendado à Fundação Getúlio Vargas, ainda disponível no sítio da Autarquia. Mais recentemente, foram os programas prioritários de bioeconomia, tecnologia da informação e comunicação e empreendedorismo. Isso já está rodando. E se está rodando, o mais sensato é avaliar resultados expandir propósitos, deixando vaidades de lado, pois não temos tempo nem motivo de fulanizar ações públicas, nem criar heróis de ocasião. Precisamos, juntos, achar soluções. E elas estão aí, no formato de janelas sustentáveis de oportunidades. Só nos resta prestar atenção, como diz a população. Olha já!

(*) é empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.

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