Rentistas e seus economistas amestrados fazem Bolsonaro e o povo de otários?

Passou da hora de um debate sobre a qualidade e formação dos índices de preços no Brasil; a correção monetária produz lucro a quem vive de renda, mas prejudica quem produz e trabalha

Por Jorge Serrão (*)

“Segurança” (no sentido amplo do termo) e “inflação” são os temas que vão turbinar aquela que promete ser a mais polarizada e radicalizada campanha eleitoral da história do Brasil. A desvalorização da moeda e a perda do poder de compra do dinheiro são expressões da insegurança econômica que atinge, principalmente, os mais pobres e aqueles (nem tanto) que sobrevivem do salário que recebem pelo trabalho. Uma grande dúvida básica é: os números, os índices de aferição da inflação, refletem a verdade e a realidade? Outra pergunta é necessária: quem se beneficia da “inflação” e do regime de correção monetária no Brasil? A resposta é: os rentistas e especuladores financeiros (todos aqueles que ganham dinheiro sem necessidade do trabalho produtivo). Eles “investem” pesadamente contra o governo e a reeleição de Jair Bolsonaro. Em síntese, os rentistas, seus economistas e burocratas amestrados fazem o presidente e o povo de otários.

No Brasil, pode-se afirmar, sem medo de cometer um erro ou injustiça, que os indicadores econômicos são “fabricados” para fomentar e alimentar uma transferência brutal de renda da massa assalariada para o já amaldiçoado rentismo brasileiro. É fácil perceber a operação de perde-não-ganha. Os salários, que deveriam acompanhar flutuações econômicas reais, são enganosamente corrigidos por inflações passadas. Como há uma carga financeira pesada para “custear e sustentar” uma burocracia sem propósito, ele, o salário, fica caro demais para o empresário, que paga valor insuficiente ou insatisfatório demais para quem ganha. Para uma pequena empresa optante do regime Simples, os encargos mensais sobre a folha de pagamento são de 32,82%. Não sendo optante do Simples, chegam a 67,22%. No cálculo dos encargos sobre o salário/hora, onde se acrescente o descanso semanal remunerado, os percentuais sobem para 55,06% e 95,32%.

Ou seja, cada cidadão brasileiro poderia ser considerado, na prática, um escravo que é obrigado a pagar ou recolher uma licença para ter autorização de trabalhar. O que ocorre é que, na prática, pouco ou nada destes encargos sociais realmente retornam ao trabalhador e suas famílias. Um curso de eletricista no Sistema S, financiado pelo imposto embutido na folha de pagamento, custa em média R$ 2 mil para o trabalhador que desejar se qualificar. Então, a pergunta fatal: para que servem tantos encargos sociais? Na prática, se transformou em pedágio ou taxa de autorização para o trabalhador, pois boa parte destes valores poderia ser paga diretamente.

Isso não é justo! A variação de preço na Grande São Paulo ou na Grande BH não é a mesma que em Caruaru (PE), Santa Maria (RS,) Joinville (SC), Londrina (PR) ou Sinop (MT). Mas, ao divulgarem esses índices de variações de preços como sendo nacionais, eles impactam negativamente a grande maioria das empresas, dos trabalhadores e das famílias brasileiras. Lembrando que os salários são corrigidos, anualmente, por uma inflação passada. Assim, seguindo esses índices pseudo-nacionais, INPC e IPCA corrigem mensalidades das escolas, gasolina, fretes, alugueis, alimentos, restaurantes e tudo aquilo que faz parte do nosso dia a dia. Essa herança é maldita. São indicadores paridos em um outro Brasil, nos anos 70, onde mais de 70% da população vivia em cidades distantes até 200 km do litoral. Herança do Brasil Colônia. Hoje, 65% da população está fora das capitais e suas regiões metropolitanas. Mas sofrem com uma punição fabricada por indicadores de preços que são realistas apenas no mundo acadêmico.

E nós que pensávamos que culpar o chuchu pela inflação era coisa daqueles economistas malucos dos anos 60 e 70. Manchetes dos jornais dos anos 70 desfilavam os vilões da inflação. Acreditem se quiserem: até os barbeiros foram culpados e acusados publicamente pelos burocratas de serem responsáveis pela inflação brasileira. O Plano Collor acusou o preço das roupas e vestuário. Já o Plano Real culpou o pobre do mamão. Se você duvidar dessas maluquices, é só fazer um Google. Agora, o IBGE aponta os altos preços dos legumes (como a cenoura, que subiu 30%) de serem os vilões da inflação. Não vamos esquecer do tomate, que, no mês passado, foi o grande vilão da vez. Fala sério… Nos países da Europa, que importam mais de 50% da comida que consomem e que tiveram alta de preços de 3.000% em alguns gêneros alimentares, a inflação apurada foi baixa para os padrões assombrosos da burocracia do IBGE brasileiro.

Vamos ao X do problema. Órgãos oficiais e privados desenvolverem índices, cada qual com suas metodologias e que, de alguma forma, acompanham a evolução dos preços. O INPC e o IPCA são calculados pelo IBGE e são considerados índices oficiais pelo poder público no Brasil, servindo de índices para correções de contratos públicos e privados, para atualização monetária em questões judiciais etc. Cientificamente, esses indicadores têm metodologias conceitualmente aceitáveis. Tentam refletir corretamente as variações de preços de determinados produtos e mercadorias, consumidos por determinados segmentos econômico-sociais, em certas regiões do Brasil. Mas está faltando bom senso para os nossos burocratas.

Por isso, o único e exclusivo objetivo é promover um debate sadio, democrático e amplo, no qual se busque o aperfeiçoamento das ferramentas públicas e privadas de desenvolvimento econômico. Já que estamos todos no mesmo Titanic, vamos lá… Somos um país continental, com uma população de mais de 210 milhões de habitantes e aproximadamente 8.516.000 km2. A base geográfica de cálculo do IPCA são “as principais capitais do Brasil”. E tem por base o consumo das famílias de 1 a 40 salários mínimos. Já o INPC também tem por base o consumo das famílias que ganhem de 1 a 8 salários mínimos, com levantamento em 11 regiões metropolitanas do Brasil. O problema é que, periodicamente, todos nós, brasileiros, somos assombrados com notícias veiculadas na imprensa nos dando conta de que este ou aquele legume (cenoura, chuchu, pepino ou até a fruta tomate) foi o grande vilão da inflação de determinado mês.

Ora, tenham a Santa Paciência! Estamos cansados de tanta hipocrisia, palhaçada e fake news, com pretensos ares de ciência econômica. É preciso enquadrar esses burocratas de gabinete para que adotem padrões científicos de verdade na hora de divulgarem indicadores que afetam a vida de milhões de brasileiros. O fato objetivo é: em países continentais ou muito grandes, é impossível compor uma equação econométrica que gere um índice que real e efetivamente apresente um único índice ou indicador de elevação dos preços.

O Brasil precisa seguir exemplos mais corretos. Alguns países adotam metodologias que, com certeza, são mais sensatas. Uma delas é que os índices e indicadores são regionalizados, permitindo aos mesmos ganharem aderência à realidade na qual os dados foram coletados. Outra forma bem lúcida é a promoção de expurgos, no índice de inflação, de produtos/mercadorias/serviços que apresentem variações atípicas demais, sazonalidades extremas e ou que, por motivos aleatórios, apresentem comportamentos anormais. Simples assim… Podem pesquisar e verificar que isso ocorre na maioria dos países que tem tradição científica e acadêmica de acompanhamento de preços. O fundamental é que não podemos ser enganados e feitos de otários econômicos por rentistas e seus burocratas amestrados.

(*) É Jornalista, professor e flamenguista. É editor-chefe do blog Alerta Total e comentarista do programa 3 em 1 da Jovem Pan.

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