Alexandre de Moraes corre risco de virar bode expiatório do projeto de poder de Lula e do PT?

Juristocracia, que conteve e derrotou Jair Bolsonaro, vai deixar Lula governar sem interferências? Dúvida interfere na estratégia para a divisão de poder entre os petistas e Geraldo Alckmin

Por Jorge Serrão (*)

Qualquer estrategista político mais atento ou que busque em suas lembranças e memórias recentes poderá antecipar algumas cenas dos próximos capítulos na política brasileira a respeito da gestão Lula da Silva. O projeto de poder do PT e do seu “líder” é personalíssimo. Petistas só são leais aos “companheiros”. Sempre que o grupo político petista chega ao poder é para ficar por longo prazo. Não é à toa que rejeitam sucessores fora das fileiras originais da “petelândia”. Os dirigentes petistas combinam Maquiavel e Sun-Tzu (A Arte da Guerra) com os pensamentos de Stalin e Mao Tse-Tung. Está no DNA político deles exercer hegemonia na hora de compartilhar o poder com aliados que vêm de fora. Promovem políticas internas, intensas, até se tornarem públicas, causando o rompimento político. Foi assim com Dilma Rousseff, egressa do PDT de Leonel Brizola. Ciro Gomes, ex-ministro de Lula, experimentou o mesmo dissabor. Daí a dúvida previsível: Será que Geraldo Alckmin pode se transformar na próxima vítima?

Lula trouxe Geraldo Alckmin para compor a chapa presidencial como forma de salvação do próprio Alckmin, ao cerco promovido pelo grupo político do ex-governador João Doria. Geraldo Alckmin não tinha mais voz, espaço e nem futuro no PSDB. Coincidentemente, Geraldo Alckmin foi o primeiro “padrinho político” de Alexandre de Moraes (antes mesmo de Michel Temer, que o indicou para o Supremo Olimpo do Poder). Na eleição, Lula foi beneficiado pela antiga relação entre Geraldo e Alexandre. Nunca antes na história deste país, o Tribunal Superior Eleitoral foi tão protagonista do momento eleitoral. Ao coibir a liberdade de expressão, impondo censura prévia e retirando a liberdade dos cidadãos de se expressarem publicamente, além quebrar a paridade de armas entre os candidatos, Alexandre de Moraes, no comando da “Justiça Eleitoral”, imperou no palco central do jogo de poder da democracia brasileira.

Expressiva parcela da população não gostou do que aconteceu, e partiu para a rua, mais precisamente para protestar na porta dos quartéis. A sociedade civil não concebe, não tolera e não autoriza essa censura autoritária. Ainda mais em um processo eleitoral eletrônico, mas que pecou por não ter o voto impresso pela urna para contagem 100% nas seções eleitorais. O Povo está amedrontado e acuado pela censura, inquéritos e multas ilegais ou ilegítimas decididas em obscuros porões da juristocracia tupiniquim. O nível de mobilização se intensifica. O desgaste de imagem do Poder Supremo ficou ainda mais exposto com o evento organizado pelo Grupo Lide, em Nova York. Ministros do STF/TSE (Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski) foram alvos de protestos nada educados, inclusive com xingamentos, dentro e na porta do luxuoso Sofitel Hotel. Curiosamente, o PT tem tudo para tirar proveito da situação.

Até hoje, o PT não aceita como foi obrigado a assistir, impotente, ao impeachment da “Presidenta” Dilma Rousseff – resultante das articulações do grupo político associado a Michel Temer, que era seu Vice-Presidente da República. O PT constatou (e aprendeu) qual é o perigo de ter um Vice-Presidente tão intimamente ligado ao todo poderoso Ministro Moraes. No caso, como diria Karl Marx (plagiando Hegel), “a História se repete como farsa”. O futuro vice de Lula, Geraldo, é também ligadíssimo a Moraes. Com toda certeza, o PT não quer ficar refém das articulações do poderoso Geraldo Alckmin, padrinho político do supremo imperador Moraes. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, que ocupou a Casa Civil do governo Dilma, sabe bem o estrago que a dupla Alckmin–Moraes pode causar nos planos de poder do PT.

Por isso, vem uma reação inusitada. O PT irá, silenciosamente, deixar que os parlamentares mais ligados ao Presidente Bolsonaro ocupem espaço nas mesas diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado. Esses parlamentares eleitos foram literalmente atropelados na campanha eleitoral pelas decisões do TSE. Assim, ninguém se surpreenda se o PT enviar emissários de extrema confiança de Lula para informar aos líderes de Bolsonaro que, caso um eventual início de processo de impeachment de Moraes “seja imprescindível para a pacificação das relações Congresso e Executivo”, eles concordam. Além de retirar poder de fogo do vice Alckmin, o PT ganha a oportunidade de indicar mais um “companheiro” para o STF. Ou seja, o PT ganha em dobro. Por isso, a base de Lula tem tudo para oferecer a cabeça do poderoso super Ministro Supremo para facilitar o jogo político de Brasília. O desgaste de Alexandre ultrapassa todos os limites.

Um ponto é inegável: por mais conciliador que pareça e por mais negociador que seja, o Presidente eleito Lula da Silva não aceita divisão de poder. Dificilmente, Lula permitirá que aconteça com ele o mesmo que Bolsonaro sofreu – todo tempo pressionado, acuado e desautorizado em suas decisões pelo STF, principalmente por Alexandre de Moraes. Nada custa lembrar que Bolsonaro é alvo do tal “Inquérito do Fim do Mundo”. Lula não toparia passar pelo mesmo dissabor de ser “golpeado por dentro”. Aliado de Moraes, Geraldo Alckmin sabe que Michel Temer pegou o PT de guarda baixa e que isso não ocorrerá novamente. Então, tentará postergar, ao máximo, o momento de “paz no casamento com Lula”. Focará na reconstrução do seu espaço político nos Estados, buscando velhos aliados e tendo por moeda de troca os variados cargos políticos que Lula prometeu a ele.

Resumindo: por sua relação próxima com Geraldo Alckmin, o ministro Alexandre de Moraes corre o risco concreto de ser transformado em “bode expiatório” pelo PT – que não deseja correr o risco de sofrer mais uma “traição” interna – a exemplo do que ocorreu com Michel Temer, outro “padrinho” de Moraes. A cúpula petista avalia que, dificilmente, a cúpula do Judiciário aceitará perder espaços de poder. Assim, só restam duas saídas: 1) Negociar até que ponto, quanto e quando der com a maioria dos membros do STF, TSE e STJ; 2) Dar um susto, simultâneo, em Geraldo Alckmin e na juristocracia, colocando a cabeça de Moraes a prêmio, em nome da suposta “pacificação”. Os petistas também já perceberam, a exemplo dos bolsonaristas, que o claro objetivo estratégico da juristocracia é enfraquecer e destruir a instituição Presidência da República. Os revolucionários lobos e hienas do PT não são veganos: gostam de carne com sangue.

(*) Jornalista, professor e flamenguista. É editor-chefe do blog Alerta Total e comentarista do programa 3 em 1 da Jovem Pan

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