‘Ratanabá’ e o Festival de Besteiras que Assola o Brasil

Foto: Divulgação

Por Juscelino Taketomi

Francamente, se vivo fosse, imagino a fúria e a ironia com que o saudoso Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) trataria a controversa e absurda polêmica sobre a suposta existência da cidade denominada  ‘Ratanabá’ na Amazônia. Certamente, a tal ‘Ratanabá’ seria um prato cheio para o grande Porto, autor do FEBEAPÁ (Festival de Besteira que Assola o País), datado de 1966, obra que desancou diabruras da Ditadura Militar da época.

Sobre “Ratanabá”, acabo de assistir, no Youtube, no canal Sérgio Vale, interessante live da pesquisadora e escritora Annabel Sampaio, live em que ela desmascara os hilários fundamentos da cidade inventada por Urandir Fernandes de Oliveira, não por acaso autor do ET Bilú, que abduziu tantos incautos neste Brasil de ninguém.

“Ratanabá” teria sido descoberta por pesquisadores da Dakila Ecossistema, cuja sede é a cidade de Zigurats, situada em Campo Grande. À cidade colocou-se a aura de “a primeira capital do mundo” há 450 milhões de anos. Ora, se minha memória não me trai, a saga dos dinossauros na Terra  foi encerrada há 65 milhões de anos, e há 450 milhões de anos a Amazônia nem existia. Não passava de mera ideia na cabeça dos planejadores siderais.

No entanto, e mais grave ainda, a Dakila afirma que “Ratanabá” produziu a primeira civilização do orbe terrestre, o povo Muril , há 600 milhões de anos. Se a Dakila for fundo mesmo na questão, vai acabar constatando que “Ratanabá” é, quem sabe, mais velha que a própria Terra Uma pérola digna do atual FEBEAPÁ nacional, como diria Stanislaw Ponte Preta se estivesse entre nós.

Tudo indica que, conforme a exótica teoria que alavanca a origem de “Ratanabá”, a civilização dessa cidade precedera os primeiros hominídeos de que se tem notícia na Terra, que teriam iniciado sua saga no Planeta Azul há mais ou menos 2,4 milhões de anos.

Os teóricos de “Ratanabá” sustentam que a cidade estaria localizada submersa na Amazônia brasileira, numa gigantesca área compreendendo os estados de Mato Grosso, Pará e Amazonas. Os teóricos dizem que a cidade, mais velha que a Amazônia, estaria ligada por uma rede de túneis a todo o continente sul-americano e que uma de suas entradas estaria situada no coração do Forte Príncipe da Beira, em Rondônia. Três pirâmides esconderiam “Ratanabá”.

Annabel Sampaio desmonta todas as peças do FEBEAPÁ acerca dessa questão, que, além do mais, agride a memória e a história de um grande estudioso e desbravador da Amazônia, o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, ao qual o Brasil deve grande parte de tudo o que sabe sobre a Bacia Amazônica.

Mas, não somente Annabel Sampaio contesta a tal “Ratanabá”, uma invenção típica de um país cujo sistema educacional ficou obsoleto há mais de um século e que abriga 11 milhões de analfabetos, brasileiros que não sabem ler nem escrever e que, dessa forma, acreditam em qualquer “Ratanabá” da vida.

Além de Annabel, o mestre em história e pesquisador Lourismar Barroso realizou acurado estudo sobre o Forte Príncipe da Beira, refutando a suposta cidade criada pela Dakila. Esta, por sua vez, se defende, afirmando que o uso da tecnologia LiDAR (Light Detection And Ranging) ajudou a comprovar a existência de “Ratanabá”. Entretanto, renomados pesquisadores sustentam o contrário.

Particularmente, fico pasmo ao ver crescer nas redes sociais a polêmica sobre a cidade de Urandir de Oliveira, que, depois de apimentar o novo FEBEAPÁ brasileiro com  o ET Bilu (talvez inspirado na pitoresca música Bilu Teteia, de Márcio Ivens, de 1974), entrou firme na onda negacionista do presidente Jair Bolsonaro em 2020 e ganhou manchetes da imprensa nacional ao decretar que “a Amazônia não queima”.

A assertiva de Urandir revoltou ambientalistas, mas resultou-lhe uma recepção com honras no Ministério da Educação. Essa pérola, inclusive, influenciou discurso do presidente na ONU, também em 2020, quando Bolsonaro garantiu que a “Amazônia “não pega fogo”. Macacos me mordam !

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