Por Guilherme Fiuza (*)
Um ET fez uma entrevista intergaláctica com Sergio Moro e nós publicamos aqui com exclusividade:
— Moro, por que você quis se candidatar em São Paulo?
— Porque eu sou maior que Curitiba.
— Maior?
— Não. Muito maior.
— Certo. E você está chateado por terem invalidado a sua pretensão?
— É uma injustiça.
— Por quê?
— Porque se São Paulo serviu para dar um upgrade na biografia do Lula, apagando os crimes dele julgados em Curitiba, eu também deveria ter direito a um upgrade na minha biografia pelo mesmo caminho.
— Faz sentido. Biografia é tudo.
— Tudo.
— Mas você está se comparando com o Lula?
— Não. Sou muito maior que o Lula.
— Certo. Por falar em Lula, você acha que o STF acertou ao reabilitá-lo para a vida pública?
— Prezado, não estou à venda.
— Hein?
— Isso mesmo que você ouviu.
— Mas quem falou em te subornar?
— Ninguém.
— Então por que essa resposta?
— Porque sempre que não sei o que dizer falo essa frase. Acho que soa bem.
— Sem dúvida. Mas sobre o STF ter reabilitado o Lula…
— Prezado, não estou à venda.
— Ah, ok. Entendi. Então mesmo você tendo prendido o Lula, prefere agora não se manifestar sobre…
— Prezado, não estou à venda.
— Perfeito, perfeito. Vamos deixar pra lá essa história da decisão do STF. Só mais uma questão sobre o Lula: é verdade que você disse que a relação do governo do PT com a Polícia Federal era melhor do que a do governo Bolsonaro?
— Sem dúvida.
— Mas o governo do PT não abrigou uma quadrilha que você mesmo combateu ao lado da Polícia Federal?
— Não tem nada a ver uma coisa com a outra.
— Não?
— Não. Me disseram que pra ser presidente eu tenho que atacar o Bolsonaro. E o Lula é adversário do Bolsonaro. Além disso essa imprensa e essas personalidades que sempre me maltrataram agora me dão colo quente se eu alivio o Lula e ataco o Bolsonaro. É uma questão de evolução epistemológica.
— O quê?
— Quem fica preso a um momento perde o bonde da história. Isso é dialética.
— Espera aí. É evolução epistemológica ou dialética?
— Prezado, não estou à venda.
— Ah, ok. Entendi. Bem, então você confirma que é candidato a presidente.
— Não.
— Ué, mas quando disseram que você tinha desistido você não falou que era fake news?
— Não desisti de sonhar com um Brasil melhor.
— Mas pra sonhar não precisa concorrer à Presidência. Dá até pra sonhar na cama.
— Exato. Ou no Senado.
— Vai se candidatar a senador?
— Não sei. Me disseram que eu ia ser coisa grande. Pelo menos deputado federal… Ou estadual… Vereador não aceito.
— Por quê?
— Porque eu sou maior que Curitiba.
— Ah, é verdade. E síndico de prédio?
— Só se for do World Trade Center em Manhattan.
— Mas se não te aceitaram em São Paulo, vão te aceitar em Nova York?
— Não tinha pensado nisso. Vou consultar o Mamãe Falei e já te respondo.
— Ok. Você confia nele, né?
— Claro. Quem tem grandeza sempre vai se reerguer.
— Você está falando do Mamãe Falei ou do World Trade Center?
— Prezado, não estou à venda.
(*) Jornalista e escritor carioca, é autor de títulos como Manual do Covarde (2018), O Império do Oprimido (2016), 3.000 Dias no Bunker (2006) e Meu Nome Não É Johnny (2004). Também roteirista de TV, autor de teatro e analista político, é uma voz de destaque no debate contemporâneo.