Por José Maria Trindade
A solidão do poder maltrata e afasta o dirigente da realidade.
Em Cem Anos de Solidão, Gabriel Garcia Márquez relata formas de estar sozinho que aparentemente são confortáveis, mas que, na prática, ferem e fazem as vítimas fugirem da realidade. A solidão da beleza escraviza.
Imagine a dificuldade de uma bela ou um belo na escolha dos seus amores e insegurança do milionário a definir os seus amigos e não aproveitadores.
O poder também enclausura e, por aqui, os presidentes da República sempre são isolados no Palácio da Alvorada. Passam a gestão com grupos pequenos de interlocutores e vendo emas pastarem nos amplos jardins.
O Palácio é grande, impessoal e cercado. Mais de 200 seguranças convivem com a família do presidente de plantão. Todos os ex-presidentes reclamaram do ambiente.
O presidente Jair Bolsonaro não é exceção. Difícil ficar à vontade com tantos desconhecidos rondando ao redor.
A diferença é que o presidente está rodando o país e foge da marcação pesada. O álibi é a moto. Nas voltas pelo Distrito Federal, o presidente conversa com populares, sente o clima das pessoas sem relação com o poder e se humaniza.
Isto não é gabinete paralelo, mas ‘de volta para a realidade III’. Um gabinete popular, que não é paralelo. Um amigo de longa data do presidente Jair Bolsonaro aconselhou a abertura do Palácio. A ideia era fazer reunião com amigos, receber pessoas de fora do governo e fazer o ambiente frequentado.
No início foi assim, mas o jeitão Bolsonaro prevaleceu e ele sai por aqui comendo pastel, cachorro-quente e frango assado.
O relator da CPI da pandemia do Senado, que investiga a cloroquina, senador Renan Calheiros, diz que já tem provas de que o presidente despacha com interlocutores importantes na gestão da saúde, o tal gabinete paralelo.
Os “independentes” da CPI concluíram e documentaram finalmente que o presidente Jair Bolsonaro está trabalhando. Esta é a principal atividade do gestor: ouvir e decidir. Quando se reúne com empresários, ou participa do conselho, não é poder paralelo, mas o gestor avaliando decisões importantes a serem tomadas. Isto não significa isolamento do ministro da Economia, Paulo Guedes. Na Saúde é a mesma coisa.
O presidente ouve representantes de setores, profissionais e o auxiliar oficial, o ministro da Saúde, para tomar decisões. O ministro manipular o presidente ou obrigar o presidente a ir em atos seria mais ou menos como o rabo balançar o cachorro e não o contrário. Portanto, o tal gabinete paralelo não significa nada, além da confirmação de que antes de agir o presidente ouve todos os setores, o que é positivo.
Seria crime se houvesse vantagens pessoais diante de decisões do governo e neste setor, a CPI não encontrou nenhum indício.
* É jornalista, comentarista político, correspondente da Jovem Pan em Brasília e escreve sobre o poder e seus bastidores.