É preciso desconcentrar: Open Banking deve aumentar concorrência entre instituições

Clientes passarão a ser donos dos seus dados, que podem compartilhar com os bancos e fintechs como quiserem; além disso, ficará aberto o acesso a serviços e custos de acordo com o perfil de cada um

Por Samy Dana*

O início da segunda fase do Open Banking, que será a partir de quinta-feira, 15, pretende dar impulso à competição entre bancos e fintechs.

Open Banking ou Banco Aberto é o compartilhamento de dados e serviços de clientes entre instituições. Em vez de bancos desconectados uns dos outros, um conjunto de regras, tecnologias e protocolos valendo para todos permite as trocas de informações.

Até agora, os bancos foram donos dos históricos dos clientes, sem a obrigação de compartilhá-los com as outras instituições, o que torna mais difícil trocar de instituição, já que os dados ficam com o antigo.

O novo banco sabe pouco sobre seu novo ou nova cliente, e as pessoas acabam pagando por serviços menos adequados às suas necessidades, muitas vezes com produtos que não usam e, claro, com valores mais altos.

Imagine alguém que em dez anos entra pela primeira vez no cheque especial e outra pessoa que faz isso três a quatro vezes no ano.

Em geral, são considerados o mesmo: devedores. Com uma ou outra variação, os juros aplicados costumam ser os mesmos para a maioria dos clientes. O bom pagador que encontra uma dificuldade momentânea acaba penalizado com a mesma taxa cobrada de alguém com repetidos problemas de crédito.

Mas e se uma fintech focada neste tipo de cliente oferecer um produto que isenta de juros os devedores no cheque especial por até 15 dias se a dívida for a primeira em 12 meses? Ou um financiamento imobiliário que considera seu histórico de crédito nos últimos cinco anos? Ou serviços focados exatamente no que você precisa de uma conta bancária, como um assistente de investimentos, eliminando o que não quer? É o que promete o Open Banking.

Os clientes passam a ser os donos dos próprios dados, que podem compartilhar com os bancos e fintechs como quiserem. Fica aberto o acesso a serviços e custos de acordo com o perfil de cada um e, certamente, com valores menores. A primeira etapa, até o fim do mês, envolve 0,1% da base de clientes. A partir daí, se amplia até chegar a 10%, funcionando 24 horas por dia, sete dias por semana.

Produtos desenvolvidos por inteligência artificial e, sobretudo, custos menores para os clientes estão a caminho. Outra expectativa é de que a necessidade de concorrer estimule a inovação. Em um país que protege mal os dados da população, como vimos em vazamentos recentes, é natural se preocupar como serão usados depois.

Ficam abertos pelo tempo que cada um determina e só podem ser utilizados para fins específicos. Depois do Pix, que barateou as transferências de dinheiro e rapidamente se popularizou, é mais uma etapa da modernização promovida pelo Banco Central em um dos sistemas bancários mais concentrados do mundo.

Apenas Canadá, França, Austrália, Holanda e Suécia se comparam ao Brasil. De cada R$ 10 emprestados no país, R$ 8,18 foram financiados por Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander ou Caixa, segundo o próprio Banco Central anunciou em junho. É preciso desconcentrar.

* É economista, Ph.D em finanças, professor de carreira da EAESP-FGV e escreve de segunda a sexta sobre economia.

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.