Grandes bancos não acompanham revolução tecnológica e abrem espaço para fintechs

Por Samy Dana*

Um dos maiores problemas do sistema financeiro brasileiro sempre foi a alta concentração. Isto é, a maior parte do mercado fica com apenas cinco bancos: Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Santander. Com menos concorrência, os juros são mais altos e sobra menos possibilidade de negociação para os clientes, que acabam sendo os maiores prejudicados. Mas dados da plataforma de pagamentos e de validação de dados bancários Transfeera apontam que nos últimos quatro anos a concentração nas operações recuou mais de 50% no país.

Em 2017, 100% dos pagamentos eram direcionados a um dos cinco grandes bancos. Já em agosto, o total de operações envolvendo os cinco maiores bancos correspondeu a 45% do total. Isso considerando 6 milhões de transações realizadas por pessoas físicas e jurídicas. O resultado aponta uma gradativa e, ao que tudo indica, permanente mudança. Mesmo quando se considera apenas as pessoas físicas, a mudança, ainda que menor, também acompanha o resultado geral. Os pagamentos realizados através dos grandes bancos caíram dos 100% para 56% do total.

Já olhando de banco para banco, a Caixa Econômica Federal foi quem mais perdeu participação entre os pagamentos feitos pelas pessoas físicas. Há quatro anos, era de 40%. Hoje, chega a 14%. Ou seja, perdeu praticamente dois terços. Algo parecido ocorreu com o Santander, com um recuo de 30% para 11%. Já entre as pessoas jurídicas, isto é, as empresas, o Itaú viu sua fatia nos pagamentos recuar de 60% para 10%. A Caixa Econômica também apresentou forte recuo no segmento, de 27% para 4%.

E quem ganhou espaço? Inter, Nubank, Nexus e outras fintechs, as instituições financeiras com negócios baseados em tecnologia. Os bancos digitais, cada vez mais, ocupam uma fatia maior dos pagamentos e ilustram como o Brasil, aos poucos, vem se transformando em um dos grandes ecossistemas para as fintechs no mundo. Mas também atesta a verdadeira revolução promovida pelo Pix na maneira como os brasileiros passaram a fazer pagamentos. Diante do meio de pagamento eletrônico, lançado no fim de 2020, e de novidades como o Open Banking, os grandes bancos tentam acompanhar, mas são menos ágeis e, por isso, vêm perdendo espaço para empresas menores.

* É economista, Ph.D em finanças, professor de carreira da EAESP-FGV e escreve de segunda a sexta sobre economia.

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