De volta para o futuro, eleitor tem de escapar, no presente, da desgraça do passado

Eleição não pode ser sinônimo de pesadelo; sonhar é bonito, porém viver a realidade do momento presente é fundamental: 7 de setembro e 2 de outubro serão datas decisivas para o Brasil

Por Jorge Serrão (*)

Convido você a fazer uma breve viagem no tempo. Não tenha medo! Será apenas um passeio. Prometo não ir a nenhum lugar em que você já não tenha estado antes. Nem vamos usar uma máquina do tempo. No Brasil que sempre sofre da “doença do amanhã” – porque eternamente ouvimos a promessa de que seremos o “país do futuro” –, é fácil encarar uma aventura temporal. Sem antecipar o final, mas vale advertir que você só precisa viver o momento presente para se sentir, permanentemente, de volta para o futuro, já que o passado parece não desencarnar da alma nacional. Fato ou fake? Verdade ou mentira? Vamos viajar! Basta seguir meu roteiro. A passagem é inteiramente grátis. Sem escalas… Outro dia, tarde da noite, não encontrava meus remédios de coração, fundamentais para relaxar e dormir, sem risco de não acordar nunca mais. Stress do dia-a-dia, estafa, cansaço físico e mental. O médico me convence de que uma boa noite de sono ainda é a melhor receita, mesmo que com ajuda de medicamentos. Problema é que não achava as drogas legalmente prescritas. Depois de muito procurar, apareceu. Engoli tudo com a ajuda de um copo de leite e fui me deitar. Apaguei rapidamente. Tive sonho ou pesadelo? Até agora, não tenho certeza. Só sei que viajei no tempo…

Acordo na manhã seguinte, relaxado, mas meio grogue. Parece que tinha tomado uma marretada na testa. Levantei devagar. Tomei meu bom banho gelado para despertar (sim, faço isso em qualquer temperatura, inclusive no inferno, estação que acho um inferno). Fiz café, esquentei um saboroso pão com manteiga na chapa de ferro e liguei a TV para ver se tinha alguma novidade. Também liguei o meu Kindle para ler os jornais. Velhos hábitos. Difíceis de mudar. O dia pareceria algum mesmo de sempre. Só que não! No telejornal, aparece a jornalista em frente a sede da Polícia Federal (PF) noticiando uma operação contra a corrupção. Comemoro! As autoridades estão vigilantes e atentas. Só que, ao longe, escuto sirenes. Corro até a janela e vejo viaturas de polícia passando, a toda velocidade. Ouço tiros. Nada de anormal, né? Retorno para terminar meu café e vejo na TV que, na verdade, a gloriosa PF está fazendo quatro operações simultâneas em 16 estados.

São centenas de mandados de prisão, busca e apreensão. Corrupção praticada à luz do dia. Noticiam que o presidente foi gravado conversando com um grande empresário. Teriam se reunido na calada da noite, sem constar na agenda oficial do Planalto. Fico abismado… Que vergonha… O que está acontecendo com o meu Brasil? Volto ao meu jornal em meio digital, em busca de notícias mais tranquilizadoras. Viva o futurismo! Mas leio que a PF teve que prender altos funcionários do Ministério do Trabalho, acusados de corrupção. Vou para a próxima página e ela está repleta de denúncias de escândalos no Ministério da Saúde. Pacientes morrem nos corredores dos hospitais, sem atendimento, sem medicamentos.

Que dia é hoje? Me pergunto, mas nem consigo uma resposta imediata… A publicação parece sem data? Como pode? De repente, na tevê digital, Renan Calheiros e Romero Jucá aparecem defendendo o presidente. “O PMDB está unido e vai garantir a sustentabilidade”, prometem eles. Aproveitam para anunciar “bandeira vermelha” na conta de energia, pois as estatais precisam de mais dinheiro. Como é que é? Em seguida, banqueiros vêm a público dizer que está tudo bem na economia e que a queda do PIB é normal. Tudo confirmado por uma velha comentarista de economia. Que mala! Ainda bem que, rapidinho, o telejornal vai para o intervalo. Artistas engajados cantam, dançam e falam de políticas inclusivas. Shows são anunciados em todo o Brasil e nos informam que esses artistas brasileiros, moram todos no exterior pois não suportam a violência no Brasil. Mas eles anunciam a boa nova: já estão vindo para suas espetaculares turnês brasileiras, graças à Lei Rouanet.

De repente, na TV, anunciam o debate entre os presidenciáveis, com a presença garantida dos favoritos nas pesquisas: Fernando Haddad e Geraldo Alckmin. A TV anuncia que será um debate emocionante. Os dois candidatos favoritos prometem combater a corrupção, a fome, o desemprego e a criminalidade e acabar com a inflação. Sinto um nó na garganta. A decepção se agrava quando olho para o jornal que lia digitalmente. Surpresa? O ano é 2018. Passo os olhos por todas as páginas. Só encontro notícias de corrupção, crimes, violência, invasões de terras, políticos sendo presos e a população desesperada clamando por socorro. Estou tendo um pesadelo? Voltei ao passado? Ou fiquei preso no futuro?

Volto para a TV. Minha salvação! Mudo de canal. Faço isso por várias vezes. De repente, um telejornal está falando da candidatura Bolsonaro. Mas um experiente comentarista político garante que é uma candidatura sem chance nenhuma. Quase uma caricatura. Alguém que não pertence a nenhum dos grupos poderosos que dominam a política brasileira. Não tem como ganhar. O pleito será decidido entre os favoritos nas pesquisas.

Um repórter pergunta para Geraldo Alckmin o que ele acha da candidatura Bolsonaro e ouve a seguinte afirmação: “Bolsonaro não tem chance nenhuma”. Do nada, ouço a voz da minha esposa me chamando: “Acorde, acorde! Você está tendo um pesadelo”. Assustado, abro os olhos e percebo que tudo não passava de um sonho desagradável. Levanto depressa e corro para a sala. Pego o Kindle e vejo a data: 2022. Ligo o outro computador para ter certeza: 2022… Ufa! Graças a Deus! As notícias reais são de crescimento do PIB, inflação sobre controle, agronegócio exportando, dezenas de Ferrovias sendo construídas, pedágios que abaixaram de preço e inacreditavelmente caiu até o preço da gasolina, do álcool e do diesel. Querosene de aviação idem! Será que ficará mais barata a passagem aérea? Impostos sendo reduzidos, desemprego em queda, as águas do São Francisco chegaram até o Nordeste. Energia solar e eólica avançando. E nenhum escândalo de corrupção envolvendo o atual Presidente da República, ou qualquer maracutaia acontecendo sob comando dele.

O ano é 2022! Voltei ao presente! Que alívio! Decido permanecer acordado para ter certeza de que estou em um novo Brasil. Já pensou que risco? Que perigo? Que desgraça? Imagina se tomamos um remédio errado e só acordamos em 2023, constatando que deixamos os bandidos tomarem conta de tudo novamente. Ninguém precisa sonhar. Basta não investir no pesadelo. Retrocesso, nunca mais! Por isso, temos a obrigação de votar com qualidade. Nada de volta ao passado. O Brasil tem de rumar para o futuro. Só depende de um acerto no momento presente. O primeiro passo é sair às ruas no 7 de setembro dos 200 anos da “Independência”. Menos de um mês depois, 2 de outubro chega… O voto é livre para garantir nossa liberdade.

(*) Jornalista, professor e flamenguista. É editor-chefe do blog Alerta Total e comentarista do programa 3 em 1 da Jovem Pan.

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