Casamento de Bolsonaro com Centrão tem risco de traição?

Presidente leva duas vantagens sobre adversários na campanha (re)eleitoral: conta com o poder da máquina federal e com o apoio de uma base aliada que não deseja perder espaço de poder

Por Jorge Serrão (*)

O belicoso ambiente pré-eleitoral sinaliza que a campanha de 2022 pode ser uma das mais polêmicas e truculentas da história do Brasil. Não por atos explícitos de violência contra candidatos, com risco de mortes — como alguns advogados, juristas e jornalistas especulam, em tom de terror. Mas sim pelo tribalismo político nos gestos e narrativas, junto com a barbárie institucional, com flagrantes desrespeitos à legalidade, à Constituição e, acima de tudo, ao Estado de Direito. A tensão é crescente. Opositores e inimigos querem tirar o presidente Jair Bolsonaro do poder a qualquer custo. O estilo Bolsonaro indica que não haverá trégua aos adversários, principalmente se insistirem no erro criminoso de “jogar fora das quatro linhas da Constituição“.

O presidente parte para a reeleição (desgraça instituída pelo tucano Fernando Henrique Cardoso) contando com algumas vantagens sobre os adversários, principalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (que tenta uma aliança desesperada com o ex-tucano Geraldo Alckmin para formar uma chapa tipo água e óleo). Bolsonaro conta com todas as vantagens oferecidas pela máquina pública. Desde 1989, todos os presidentes que tentaram um segundo mandato seguido foram bem sucedidos. Bolsonaro também “roubou” (ops, tirou) de Lula a possibilidade de um acordo político com o Centrão — a maior base parlamentar do Congresso Nacional, apontada como fisiológica, apegada a quem tem o poder.

Por enquanto, nada indica que o Centrão possa cometer alguma traição no casamento com Jair Bolsonaro. Os principais partidos da base aliada (PL e PP) já estão fechados com o presidente para a reeleição. PR e PTB devem seguir o mesmo caminho. Uma grande parte do MDB também tende a apoiá-lo. Muitos acordos importantes não serão fechados agora. Até porque a maioria das tratativas vai depender, decisivamente, das alianças nos Estados e grandes municípios.

Bolsonaro também coloca como condição nas negociações contar com o apoio e retribuir politicamente quem fechar com os candidatos dele ao Senado. A meta é eleger pelo menos 20 dos 27 senadores em renovação. Força e maioria no Senado são essenciais para um reequilíbrio institucional com o Supremo Tribunal Federal — chamado (indevidamente) de Poder Supremo, mesmo que todos saibamos que “supremo é o povo”, quem detém o poder originário.

Além dos presidentes de partidos da base aliada, um personagem fundamental tem tudo para fazer a diferença nas articulações pela reeleição de Bolsonaro. Trata-se do ex-presidente Michel Temer, conhecido por sua habilidade de costura política nos bastidores. Temer trabalha, cuidadosamente, a favor da candidatura ao governo de São Paulo do atual ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas. Os dois têm excelentes relações pessoais desde o tempo em que Tarcísio foi servidor do Congresso e, depois, funcionário do Dnit (responsável pelas principais obras de infraestrutura).

A parceria de Temer com Tarcísio, ainda discreta e não anunciada publicamente, tende a beneficiar Bolsonaro, trazendo para colo dele o apoio de parte do MDB que não deseja fechar com Lula ou outras candidaturas sem expressão. Tudo ficará mais claro a partir de março, quando acontecerá a dança das cadeiras dos partidos, ou a partir de maio/junho, quando ficarem realmente definidas as chapas que disputarão a corrida maluca ao Palácio do Planalto.

(*) É jornalista, professor e flamenguista. É editor-chefe do blog Alerta Total e comentarista do programa 3 em 1 da Jovem Pan.

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