Bitcoins: o risco de perder a senha e o dinheiro

Bilionário romeno morre afogado e leva consigo a senha de acesso à carteira digital, que contém uma fortuna estimada em US$ 32 bilhões nos cálculos mais arrojados

Por Samy Dana

Preso em meio à correnteza numa praia da Costa Rica, aos 41 anos, o romeno Mircea Popescu não teve muitas chances, segundo as autoridades. Acabou morrendo afogado na última semana de junho. Começava neste incidente trágico uma história sobre um dos perigos para quem tem bitcoins ou outras criptomoedas.

Popescu foi um dos primeiros (e um dos maiores) investidores do mundo em bitcoin, que comprou por preços irrisórios. Com a valorização na última década, possuía uma fortuna estimada de US$ 1 bilhão, nos cálculos mais modestos, a US$ 32 bilhões, nos mais arrojados. O problema é que o dinheiro está investido na criptomoeda e, ao morrer, seu dono levou consigo as chaves de acesso à carteira digital onde está guardado.

Se ninguém descobrir que a senha ficou anotada em algum lugar, é um dinheiro que pode ficar perdido para sempre. Só com a chave é possível ter acesso à carteira. Desesperador?

Não é o primeiro caso. Os herdeiros de John McAfee, que enriqueceu criando de um dos primeiros antivírus, também estariam com problemas para tomar posse dos bitcoins que ele deixou ao cometer suicídio na Espanha. Outro caso, tragicômico, envolve um programador alemão que mora na cidade de San Francisco, nos Estados Unidos.

Stefan Thomas ficou famoso no começo do ano por não conseguir acessar a carteira digital, com US$ 220 milhões em bitcoins, porque havia esquecido a senha. Estava anotada em um papel, perdido anos antes. Depois de oito tentativas, sobraram apenas duas antes que ele perdesse para sempre o acesso à sua fortuna. Quando foi descoberto pelo “New York Times”, relatou anos de desespero e insônia tentando se lembrar da chave, sem sucesso. Se errasse as próximas duas, não teria mais como acessar a conta.

Alguns jornais foram cruéis sobre a história. O “The Sun”, britânico, o chamou de idiota. A imprensa americana foi mais benevolente. Chamando-o, por exemplo, de “o bilionário que perdeu tudo. Literalmente”.

Do valor total de bitcoins no mundo, de US$ 600 bilhões, é estimado que um quinto (ou US$ 120 bilhões) esteja preso em carteiras nas quais os donos não conseguem acessar.

Só uma empresa americana que ajuda investidores desesperados para recuperar o dinheiro diz receber 70 chamados todos os dias. Mas muitos não conseguem.

A alta desde o início da pandemia atrai para o mercado de criptomoedas muitos investidores que não levam em conta as suas peculiaridades. Uma delas é que se não conseguem entrar nas carteiras onde o dinheiro está guardado, o suporte não vai simplesmente mandar uma senha nova, como numa corretora. Muitos vão aprender da pior maneira que deviam ter tomado mais cuidado: ficando sem o dinheiro.

O que é bitcoin?

    • O bitcoin é uma criptomoeda criada em 2009, pela lendária figura de Satoshi Nakamoto, que meses antes divulgou um whitepaper (A Peer-to-Peer Electronic Cash System) descrevendo todo o seu funcionamento. O conceito criado por ele (peer-to-peer, ou P2P) significa que as transações financeiras são feitas sem intermediários, como instituições bancárias.
    • Alguns projetos de moeda digital descentralizada precederam o bitcoin, mas ela foi a primeira a ser, de fato, utilizada. 

* É economista, Ph.D em finanças, professor de carreira da EAESP-FGV e escreve de segunda a sexta sobre economia.

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