Meta do ensino técnico no Brasil empaca, e especialista pede nova estratégia nacional

Foto: Freepik

Uma década após a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), o Brasil continua longe de alcançar a meta de triplicar o número de matrículas no ensino técnico de nível médio. Em 2014, a proposta era saltar de 1,6 milhão para 4,8 milhões de estudantes até 2024. Os dados mais recentes do Censo Escolar, porém, mostram que o país chegou a apenas 2.389.454 matrículas, o equivalente a 49,6% da meta.

Diretora-presidente do Centro de Ensino Técnico (Centec) e especialista em Gestão Educacional e Financeira, Eliana Cássia de Souza avalia que o resultado frustrante tem causas profundas. Por meio da escola fundada em 2010, ela ajudou a formar mais de 3 mil profissionais técnicos em Manaus.

“O ensino técnico ainda sofre com a descontinuidade de políticas públicas, infraestrutura limitada e uma visão cultural que o coloca como uma segunda opção em relação ao ensino superior”, avalia. Ela cita como exemplo o que considera enfraquecimento do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), criado em 2011 para impulsionar a modalidade, mas que perdeu força nos últimos anos por cortes orçamentários e mudanças de gestão.

Além da falta de investimento e de prioridade política, a gestora aponta a escassez de unidades físicas, sobretudo no interior do país e na Amazônia Legal, como um obstáculo estrutural. “Muitas vezes, o jovem quer estudar, mas não há oferta próxima. Ou, quando há, o curso não dialoga com as demandas do território onde ele vive”, destaca.

Outro desafio recorrente é a percepção social sobre a educação técnica. Segundo Eliana Cássia de Souza, essa formação ainda é vista por parte da sociedade como um “ensino de segunda classe”, mesmo quando oferece maior empregabilidade do que o ensino superior, por exemplo.

Caminhos

Apesar disso, há caminhos para mudar o cenário. A diretora do Centec defende a retomada de políticas públicas articuladas ao nível nacional, com foco na interiorização do ensino técnico, na modernização curricular e no fortalecimento da chamada formação técnica dual, que aproxima escolas e empresas.

“É preciso apostar na formação técnica integrada ao ensino médio, na aproximação com o setor produtivo e no uso da tecnologia para alcançar regiões remotas. Isso exige visão de longo prazo e vontade política”, afirma Eliana.

Além da atuação política, a especialista destaca que as instituições privadas de ensino também podem contribuir para que o país alcance suas metas de formação técnica. Ela cita como exemplo o próprio Centec, que investe na oferta de cursos voltados a áreas estratégicas como tecnologia da informação, meio ambiente, saúde e logística. Todos são setores com alta demanda no Amazonas, estado que abriga a Zona Franca e grande parte da floresta amazônica.

Ensino à distância

“Outro investimento necessário para avançar com a formação técnica é a oferta de cursos em turnos diferentes, intensivos ou na modalidade à distância. Isso atende à demanda de alunos que querem muitas vezes a formação, mas não têm tempo suficiente devido a outras responsabilidades”, diz.

Desde 2023, o Centec passou a ofertar cursos na modalidade EaD, que tem crescido exponencialmente no país. Em 2024, o catálogo de formações foi ampliado. Atualmente, são oferecidos os cursos técnicos em Serviços Jurídicos, Segurança do Trabalho, Qualidade, Administração, Recursos Humanos e Transações Imobiliárias.

Apesar dos desafios, Eliana Cássia de Souza acredita que o país tem potencial para alcançar a meta de profissionais técnicos nos próximos anos. Para ela, é preciso que a valorização da educação profissional e tecnológica seja vista cada vez mais como um vetor de transformação social.

Repercussão Assessoria

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