Onde estão as queimadas?

Neste início de novembro, os embaixadores atuantes no Brasil, vieram com o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República e responsável pelo Conselho da Amazônia, no total de 9 diplomatas:  África do Sul, Alemanha, Canadá, Colômbia, Espanha, França, Peru, Portugal, Reino Unido e Suécia. Os lugares priorizados deram aos visitantes a ideia de, principalmente, como o Amazonas trata a floresta. O trajeto até Gabriel da Cachoeira é um monumental tapete verde, com riscos hídricos cortando a imensidão do bioma que o mundo gostaria de chamar de seu. Há muita névoa e pouca fumaça na mata do maior estado da federação. Infelizmente, a contrapartida que consumimos auferir por este serviço ambiental para o clima e para o Brasil é nenhuma. E isso precisamos colocar em nossas prioridades institucionais de defesa e conquistas de benefícios que precisamos para nossa gente.

A história se repete

Há quase 30 anos, às vésperas da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92,  não os embaixadores, mas muitos chefes de Estado vieram a Manaus antes de participar do grande evento que reuniu quase 200 chefes de Estado. Um deles, Helmuth Khol, da Alemanha, fez uma programação semelhante à que foi capitaneada pelo vice-presidente Mourão. Num avião Hércules da Força Aérea do Brasil, apinhado de jornalistas do mundo inteiro, o então governador Gilberto Mestrinho, anfitrião da comitiva, depois de duas horas de voo, até a Cabeça do Cachorro, em São Gabriel da Cachoeira, viu o mandatário alemão, sempre seguido de perto pelos correspondentes estrangeiros, perguntar: “Onde estão as queimadas?”.

Acordo do Clima

Ali estava o grande reconhecimento de uma das autoridades do planeta presente à Conferência Rio 92. Não foi à-toa que, entre os chefes de Estado que estiveram em Houston, no Texas, em 1990, na reunião preparatória do G-7, para a Conferência da ONU, apenas Alemanha e Canadá desembolsaram recursos no Programa Piloto das Florestas Tropicais da Amazônia. Coincidentemente, foram os únicos daquele grupo de 1990 que voltaram à região, além do Reino Unido. E são eles que, atualmente, mais tem contribuído para manter e fortalecer o Acordo do Clima.

O joio e o trigo

Esta missão diplomática serviu para identificar joio do trigo e chamou a atenção a presença de Peru e Colômbia, países que compartilham a Amazônia Continental do Brasil com quem deveríamos intercambiar recursos humanos e biotecnológicos, pois são países que avançaram no aproveitamento sustentável do bioma Amazônia. Com os demais, precisamos mapear parceiros e objetos de parcerias. Todos têm ou outro interesse de trocar experiências e projetos. E no caso da Amazônia Continental uma das prioridades é juntar esforços pela compensação dos serviços ambientais que a imensidão amazônica presta até aqui gratuitamente.

Nosso dever de casa

E do nosso ponto de vista, o que nos importa priorizar? Recursos de infraestrutura adequada para nossa região e qualificação de recursos humanos. Uma embaixada importante que se fez também presente foi a do Reino Unido, com quem historicamente temos uma relação paradoxal. Eles foram os principais atores do impulsionamento da economia da borracha. E fizeram o dever de casa que deixamos pra depois. Agregaram inovação tecnológica com o manejo das sementes de seringueira no Real Museu Botânico de Kew Gardens, em Londres. Fizeram melhoramento genético das sementes antes de plantá-las extensivamente em seus domínios asiáticos no início do Século XX. Depois de cinco anos, diferentemente do que fizera Henry Ford em Fordlândia no Pará. A pressa da ganância proibiu a paciência de inovar na indústria do conhecimento mais do que na produção sem premissas. Essa lição nunca foi tão atual e tão preciosa para adensar, diversificar e expandir a riqueza com as possibilidades bioeconômicas. Mãos à obra!

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, e presidente da FIEAM em exercício.

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