O ovo da serpente

A extrema esquerda odeia a América. Fato. E ela está sendo financiada pelas redes de dinheiro que visam à eclosão de protestos anti-Israel que se espalham pelos campi universitários

Manifestante pró-Palestina, no telhado do Hamilton Hall, da Universidade Columbia, resiste às ordens dos funcionários da universidade para deixar o campus, em Nova York, nos EUA (30/4/2024) - Foto: Reuters | David Dee Delgado

Por Ana Paula Henkel (*)

Durante quatro anos, frequentei as aulas do curso de arquitetura e design de interiores nos belos prédios e bibliotecas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) para me tornar uma arquiteta e sempre tive orgulho em dizer que a universidade faz parte da minha história. Foram tempos de estudos aliados à apreciação pela seriedade da faculdade, seus empregados e professores. Por isso, foi difícil assistir nesta semana à manifestação ilegal e antissemita na “minha casa”, com direito a violência por parte dos estudantes que proibiram até a livre circulação de estudantes judeus. O protesto contra Israel, que tomou conta de muitas universidades americanas, foi encerrado na noite desta quarta-feira com a interferência da Polícia de Los Angeles.

A polícia removeu barricadas e começou a desmantelar um acampamento fortificado de manifestantes pró-palestinos na manhã de quinta-feira, 2 de maio, depois que centenas de manifestantes desafiaram as ordens da polícia para que voltassem à normalidade. Policiais com equipamento de choque passaram horas alertando em alto-falantes sobre possíveis prisões se as pessoas não se dispersassem. O chefe da Polícia de Los Angeles, Dominic Choi, disse nas redes sociais que um total de 210 pessoas foram presas na UCLA.

Policiais montam guarda na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), durante protesto pró-Palestina, nos EUA (2/5/2024) – Foto: Reuters/Mike Blake

Sempre que possível, trago partes da Constituição Americana e ressalto uma das mais importantes emendas do documento: a Primeira Emenda, que protege a quase absoluta liberdade de expressão e de protestos, desde que sejam pacíficos e que não perturbem a ordem social — o que não foi o caso dos estudantes da UCLA e de outras universidades, como Columbia, onde muitos invadiram e depredaram prédios, e fecharam os acessos às salas de aula e aos auditórios.

As imagens que chegam de algumas universidades causam perplexidade. Por mais que o direito de expressar sua opinião pacificamente — o que não foi o caso destas manifestações, já que elas não foram pacíficas —, mesmo as sórdidas e abomináveis, seja apoiado na Primeira Emenda, é aterrorizante ver jovens mimados e sustentados pelos pais, financiados por programas estudantis amparados em dinheiro público, não lembrarem de nada contido nas tristes páginas nefastas da história. Gritar “ajudem a Palestina” é uma coisa, mas entoar cantos de dizimação de Israel e do povo judeu é tão abjeto quanto fingir que isso “não passa de liberdade de expressão”.

Salas do Hamilton Hall, da Universidade Columbia, depois da ocupação por manifestantes em apoio aos palestinos, em Nova York, nos EUA (30/4/2024) – Foto: Ben Chang/Columbia University/Reuters

Em novembro, os americanos escolherão seu presidente mais uma vez. Em uma das eleições presidenciais mais importantes do país, o caos disruptivo que tomou conta dos EUA estará nas cédulas, não há a menor dúvida disso. O ódio à América, com altos e baixos durante sua história, sempre encontra resistência exatamente nas urnas.

Em 1968, por exemplo, a Convenção Nacional Democrata de 1968, em Chicago, foi um evento significativo na história política dos EUA, marcado por intensos protestos e violência, e que pavimentou o caminho de Ronald Reagan no futuro. Em agosto de 1968, os democratas realizavam suas primárias com o objetivo de selecionar o candidato do partido para as eleições presidenciais. No entanto, a convenção tornou-se um ponto crítico para uma agitação social e política mais ampla.

A convenção ocorreu durante um período tumultuado na história americana, marcado pela Guerra do Vietnã, pelo movimento pelos direitos civis e pelos assassinatos de Martin Luther King Jr. e Robert Kennedy no início daquele ano. Esses eventos geraram insatisfação e protestos generalizados, e vários grupos, incluindo o Partido Internacional da Juventude (Yippies) e o Comitê de Mobilização Nacional para o Fim da Guerra do Vietnã (Mobe), organizaram protestos contra a guerra e o establishment político. Os grupos pretendiam perturbar a convenção e expressar a sua oposição à Guerra do Vietnã e às políticas do Partido Democrata.

Guarda Nacional e manifestantes na Convenção Nacional Democrata de 1968, em Chicago (1º/9/1968) – Foto: Fred Mason/Liberation News Service/Domínio Público

Os protestos tornaram-se violentos quando o Departamento de Polícia de Chicago e a Guarda Nacional de Illinois entraram em choque com os manifestantes e o confronto foi transmitido pela televisão, trazendo a agitação aos lares americanos e provocando indignação nacional.

Dentro da convenção, a nomeação do vice-presidente Hubert Humphrey para presidente foi ofuscada pelo caos lá fora. A convenção e os protestos destacaram profundas divisões dentro do Partido Democrata e da sociedade americana em geral. Os acontecimentos da Convenção Nacional Democrata de 1968 são frequentemente vistos como um ponto de mudança na política americana, refletindo a convulsão social e política do final da década de 1960.

O candidato republicano, o ex-vice-presidente Richard Nixon, derrotou tanto o candidato democrata, o vice-presidente em exercício Hubert Humphrey, quanto o indicado pelo Partido Independente Americano, o ex-governador do Alabama George Wallace.

Hubert Humphrey, ex-vice-presidente dos Estados Unidos (1964) – Foto: Wikimedia Commons

A extrema esquerda odeia a América. Fato. E ela está sendo financiada pelas redes de dinheiro que visam à eclosão de protestos anti-Israel que se espalham pelos campi universitários por todo o país. Na semana passada, a Fox News informou que os Estudantes Nacionais pela Justiça na Palestina (NSJP), “uma organização nacional afiliada a cerca de 200 capítulos independentes”, incluindo a Universidade Columbia, arrecadaram “uma doação de seis dígitos de uma organização sem fins lucrativos financiada pela rede George Soros”.

De acordo com a InfluenceWatch, o grupo que orquestra o ativismo estudantil nas universidades acusa Israel de cometer genocídio e compara os palestinos aos negros americanos durante a era Jim Crow.

Abraham Lincoln, um dos maiores presidentes americanos, certa vez disse durante a Guerra Civil nos Estados Unidos que, se a destruição fosse o destino, que ela seria iniciada pelas próprias mãos e consumada de dentro para fora

De acordo com a Fox News, outro grupo ativo em Columbia, Jewish Voice for Peace (JVP), arrecadou pelo menos US$ 650 mil de grupos ligados a Soros desde 2016. A JVP também recebeu centenas de milhares de dólares do Fundo Rockefeller, que é alimentado por bilionários e impulsionado por milhões de dólares de uma rede de financiamento de dinheiro obscuro.

MST
O bilionário George Soros é conhecido por financiar projetos de esquerda – Foto: Reprodução/Flickr

De acordo com reportagens do New York Post, outro grupo apoiado por Soros, a Campanha dos EUA pelos Direitos Palestinos, pagou aos chamados “companheiros” para organizarem e participarem de protestos anti-Israel em todo o país.

Na quarta-feira, o Washington Free Beacon informou que o Fórum do Povo, outra organização sem fins lucrativos em Nova York que recebeu mais de US$ 12 milhões do braço de caridade do Goldman Sachs, encorajou ativistas anti-Israel a recriar os protestos violentos “como no verão de 2020”, quando a América foi tomada pela violência em protestos usando como argumento a morte de George Floyd.

Abraham Lincoln, um dos maiores presidentes americanos, certa vez disse durante a Guerra Civil nos Estados Unidos que, se a destruição fosse o destino, que ela seria iniciada pelas próprias mãos e consumada de dentro para fora: “Como uma nação de homens livres, devemos viver todos os tempos ou morrer por suicídio”. O mal entendeu essa frase e, hoje, choca o ovo da serpente na América. A América reagirá?

Pesquisadora associada do Instituto Ronald Reagan, é hoje arquiteta e analista política. Ex-atleta, atuou pela Seleção Brasileira de Voleibol e disputou quatro Olimpíadas. Foi medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta, Estados Unidos, pelo vôlei de quadra. É bicampeã mundial no vôlei de praia. Tornou-se um dos principais nomes femininos do pensamento liberal-conservador. Vive em Los Angeles, onde cursa Ciência Política pela Ucla.

Fonte: https://revistaoeste.com/revista/edicao-215/o-ovo-da-serpente/

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.