
O iate Iana 3, utilizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela primeira-dama Janja durante a COP30, em Belém, reacendeu o debate sobre o uso de embarcações de luxo com recursos públicos.
O barco, de propriedade do empresário amazonense Iomar Oliveira, não é um desconhecido dos bastidores políticos do Norte. Desde a década de 1980, versões da embarcação da frota “Iana” serviram a diferentes governadores do Amazonas, entre eles Gilberto Mestrinho, Amazonino Mendes, Eduardo Braga e Omar Aziz.
Segundo a coluna Radar da revista Veja, a embarcação foi escolhida após o presidente recusar a hospedagem em um navio da Marinha, considerado por ele “inadequado” para as necessidades da comitiva presidencial.
A partir daí, uma agência de turismo contratada pelo Governo Federal teria providenciado o Iana 3, que foi ancorado na Base Naval de Belém sob forte esquema de segurança.
Uso político
O nome “Iana” é conhecido há décadas no cenário político amazonense. As embarcações da frota foram usadas por sucessivas gestões estaduais, servindo como apoio logístico para deslocamentos oficiais e eventos pelo interior do Amazonas.
Governadores como Gilberto Mestrinho, Amazonino Mendes, Eduardo Braga e Omar Aziz utilizaram o iate em diferentes períodos, tornando-o uma espécie de “símbolo flutuante” do poder político regional.
Nos últimos anos, o Iana 3 voltou ao noticiário por outros motivos. Em 2021, a juíza eleitoral de Coari, Mônica Cristina Raposo, determinou uma inspeção no barco, que à época estava a serviço do governo do Amazonas.
O iate havia atracado no município para entregar cartões de auxílio, mas moradores denunciaram o descarregamento de cestas básicas e outros materiais supostamente usados para compra de votos.
Luxo e controvérsias
A Veja também destacou que os contratos para locação dos iates da frota “Iana” sempre geraram questionamentos por causa dos altos valores e do luxo das embarcações. O Iana 2, por exemplo, atualmente serve ao governador Wilson Lima.
A cotação inicial do aluguel de um iate para a COP30 seria de cerca de R$ 450 mil, segundo a coluna Radar. Contudo, os custos finais da hospedagem presidencial foram colocados sob sigilo, o que ampliou a polêmica sobre transparência nos gastos públicos.
O empresário Iomar Oliveira também é dono da Oliveira Energia, empresa que já atuou em contratos milionários com o governo do Amazonas e recentemente vendeu a Amazonas Energia ao grupo Âmbar, do conglomerado J&F, controlado pelos irmãos Batista — os mesmos da JBS.
Austeridade e conforto
A decisão do governo de abrigar o presidente em um iate de luxo provocou reações, especialmente por ocorrer em um evento voltado à sustentabilidade e à responsabilidade ambiental.
Críticos apontam contradição entre o discurso de austeridade e o padrão de conforto exigido pela comitiva presidencial.
Enquanto isso, defensores do governo afirmam que a escolha priorizou questões de segurança e logística, especialmente diante da agenda intensa da COP30 e da necessidade de estrutura adequada para reuniões e recepção de chefes de Estado estrangeiros.
Águas de luxo
Independentemente das justificativas, o caso reforça uma tradição antiga no Amazonas: a de que o poder político, desde os tempos de Gilberto Mestrinho, gosta de navegar em águas de luxo.
O Iana 3, agora associado à passagem de Lula pela COP30, carrega consigo não só o conforto das elites políticas, mas também décadas de história sobre como a embarcação se tornou um personagem recorrente da política amazônica — um símbolo de prestígio, poder e, inevitavelmente, controvérsia.










