GLIFOSATO: Risco de redução na oferta deixa agronegócio em alerta

Bayer diz que terá problemas na distribuição global e setor avalia potencial efeito para o Brasil

Por Kellen Severo (*)

O risco de redução na oferta de glifosato voltou ao centro das discussões no agro desde que a alemã Bayer informou em nota, nos últimos dias, que um fornecedor de uma matéria-prima necessária para produzir glifosato sofreu uma falha mecânica, que poderá causar efeitos na produção global. A empresa diz que está trabalhando para reduzir impactos no mercado brasileiro. A Associação de Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), também por meio de nota, questionou  a multinacional sobre os impactos reais na disponibilidade de produto e cumprimento de contratos de entrega assumidos com agricultores. Perguntas que até o momento seguem sem respostas.

Notícias como essa, que apontam rupturas na cadeia de suprimento, abrem espaço para especulações e até distorções de preços praticados no Brasil, o que é um problema, afinal, os custos já estão em um dos mais altos patamares da história. Para ter uma ideia, de janeiro a setembro do ano passado o glifosato teve um incremento de 120% no valor, reflexo de uma oferta global pressionada por problemas de energia na China e rupturas de distribuição de matéria prima durante a pandemia.

Além do desafio financeiro, existe o desafio agronômico. O glifosato é o herbicida mais utilizado aqui no país, ele serve para dessecação de culturas e controle de plantas daninhas, por exemplo. Sem essa ferramenta pode haver até uma redução potencial na oferta de alimentos, caso os manejos fiquem prejudicados.  Fontes do governo me disseram que o suprimento tem sido muito apertado e que a indústria no fim do ano passado já apontava para a possibilidade de problemas. O Rabobank diz que em 2022 o mercado estará pressionado e com espaço para preços mais elevados.

Apesar de toda percepção de risco associada à oferta do químico, a CropLife Brasil descartou crise de desabastecimento de glifosato para o país em função do problema relatado pela empresa alemã. Segundo a entidade que representa a indústria de agroquímicos, há centenas de empresas que fornecem o produto, e se o problema de oferta ocorrer, será para casos pontuais, não representando problema para a produção brasileira. O agro está em alerta acompanhando os desdobramentos da situação. A tarefa é separar o sinal do ruído e adotar o máximo de cautela na tomada de decisão em cenários voláteis como os atuais.

(*) É Jornalista especializada em economia e agronegócio. É apresentadora do quadro ‘A Hora H do Agro’, veiculado às segundas, quartas e sextas, no Jornal da Manhã.

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