Por Kellen Severo (*)
As perspectivas para o agronegócio em 2023 apontam para a possibilidade de renovação de uma safra recorde. No entanto, as margens de lucro menores e incertezas no cenário político-econômico estão afetando a confiança e mudando as perspectivas para 2023. Do lado positivo da balança, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgará hoje dados atualizados sobre a produção brasileira e já adianto que fontes do governo sinalizam para condições climáticas que estão contribuindo para o aumento da produtividade no campo. Vale lembrar que a alta de preços das commodities estimulou o aumento de área plantada.
Para a soja, por exemplo, o avanço esperado é de 3,5%, com colheita de 150 milhões de toneladas projetadas até o momento. Já do lado negativo, está a projeção de redução nas margens de lucro do setor. Algodão, milho, soja e feijão terão rendimentos financeiros menores e o arroz pode dar prejuízo. O cenário de curto prazo exige cuidado, especialmente pelos impactos do câmbio na formação de receitas.
A moeda já encostou em R$ 5,02 no pós-eleição e voltou a subir para a casa dos R$ 5,17 com incertezas sobre a condução fiscal e econômica no novo governo. O pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Mauro Osaki, alerta para o risco do descasamento de moeda em função da alta volatilidade do dólar. Vale lembrar que casar o mesmo valor do dólar na compra de insumos e na venda da safra é uma forma de gerir o risco nesse momento.
O sócio da AgroSchool Brasil, Carlos Ortiz, lembra o cenário de 2005/2006, ano em que as receitas com soja em Mato Grosso caíram, enquanto os custos seguiram altos. Ele aponta semelhanças à medida que os preços das commodities podem estabilizar ou até cair enquanto os custos continuariam subindo. As incertezas no cenário político-econômico também estão afetando a confiança no agronegócio. Há mais perguntas do que respostas no front, dúvidas sobre a condução da política econômica e os nomes que ocuparão a Esplanada dos Ministérios. O cenário de curto prazo sugere fazer contas, refletir e aguardar os desdobramentos dos novos fatos. A confiança é combustível da economia e pelo que percebi, no agro, ela já perdeu algum fôlego.
(*) Jornalista especializada em economia e agronegócio. É apresentadora do quadro ‘A Hora H do Agro’, veiculado às segundas, quartas e sextas, no Jornal da Manhã.