Dois anos após Invasão do Capitólio, democratas continuam tentando punir Trump

Comitê da Câmara dos Deputados recomendou acusações criminais contra ex-presidente; mais de 800 pessoas já foram presas por ligação com o episódio

Foto: Leah Millis | REUTERS | Direitos Reservados

“A causa central do dia 6 de janeiro foi um homem, o ex-presidente Donald Trump, que foi seguido por muitos outros. Nenhum dos eventos do dia 6 de janeiro teria acontecido sem ele.” Essa foi a conclusão a qual chegou o comitê da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos que investigava a invasão do Capitólio, sede do Congresso americano, de 6 de janeiro de 2021.

O grupo, formado por sete democratas e dois republicanos, recomendou que o Departamento de Justiça acuse Trump criminalmente pelo episódio, que deixou mais de cem feridos e cinco pessoas mortas.

O comitê quer que o ex-presidente seja acusado de obstrução de um procedimento oficial do governo, conspiração para defraudar o governo, mentir para o governo federal e incitar uma insurreição. Como tem competência apenas para investigar, e não acusar, o grupo de deputados encaminhou as acusações para o Departamento de Justiça – que não tem a obrigação de segui-las. Ainda não é possível saber se Trump será mesmo acusado ou não; mas a decisão do departamento terá fortes consequências.

Abaixo, selecionamos os principais pontos em torno da invasão do Capitólio e como o marcante episódio pode ajudar a definir os rumos da política nos Estados Unidos e impactar na próxima eleição presidencial, em 2024.

Aceitar ou não as recomendações?

Os trabalhos do comitê que investigava a invasão do Capitólio acabaram –havia uma data de término, e, com os republicanos no controle da Câmara a partir deste ano, os trabalhos não devem ser retomados. Por isso, as conclusões finais já foram divulgadas e encaminhadas para o Departamento de Justiça, que formalmente não tem obrigação alguma de segui-las.

De um lado, o comitê quer Trump responsabilizado pelo 6 de janeiro; do outro, o ex-presidente continua se defendendo, negando todas as acusações, dizendo que a investigação teve motivações políticas e que ele é vítima de uma caça às bruxas.

Agora, além de pesar os dois lados, o Departamento de Justiça precisa lidar com a pressão da opinião pública e a enorme repercussão dos trabalhos do comitê, que viraram assunto no país com uma série de audiências públicas televisionadas em que eram revelados detalhes bombásticos sobre a ligação do ex-presidente com a invasão do Capitólio.

Trump não agiu para impedir violência, diz comitê

O relatório final produzido pela Câmara conta, em detalhes, como as alegações falsas de Trump sobre as eleições teriam motivado a invasão e descreve as ações do então presidente no 6 de janeiro de 2021.

Segundo o relatório, Trump passou horas assistindo às cenas no Capitólio pela TV e não entrou em contato com as forças de segurança para interromper a violência. Foi só por volta das quatro horas da tarde que ele publicou um vídeo na internet pedindo para que os manifestantes fossem para casa.

As conclusões são baseadas em mais de um ano de trabalho, no qual os deputados ouviram mais de mil depoimentos e se debruçaram sobre documentos como registros telefônicos, trocas de mensagens e e-mails.

Primeiro presidente a sofrer dois impeachments

Convencidos de que o então presidente Donald Trump tinha sido o verdadeiro vencedor da eleição presidencial de 2020, manifestantes violentos invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 para tentar impedir que deputados e senadores certificassem a vitória de Joe Biden. As cenas da multidão agredindo policiais e vandalizando a sede do Congresso americano chocaram o mundo todo, mas tiveram um impacto ainda imensurável nos Estados Unidos, país que se autointitula a maior democracia do mundo.

Segundo analistas do país, a invasão do Capitólio pode ter gerado uma espécie de trauma coletivo na população, que viu os símbolos mais profundos de sua democracia sob ataque. Congressistas, policiais, jornalistas e outros profissionais que estiveram na capital americana naquele dia também já admitiram estar fazendo tratamento psicológico para lidar com as memórias chocantes da data. Políticos de ambos os partidos condenaram o episódio e pediram por punição.

A invasão motivou o segundo impeachment de Trump, a apenas uma semana do fim de seu mandato, e fez com que ele se tornasse o primeiro presidente na história dos Estados Unidos a sofrer dois processos como esse – o primeiro foi em 2019.

Diferentemente do que acontece no Brasil, nos Estados Unidos ser alvo de um processo bem-sucedido de impeachment não necessariamente significa ser removido do cargo: Trump foi inocentado pelo Senado, mas os processos tiveram um forte peso político, já que até mesmo dez republicanos se juntaram aos democratas e votaram para tentar removê-lo da presidência.

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