Bruno e Dom: ‘Colômbia’ também mandou matar servidor da Funai em 2019, aponta PF

Foto: Divulgação

A Polícia Federal tem indícios de Ruben Dario da Silva Villar, o Colômbia, suspeito de ser o mandante das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, no ano passado, também teria ordenado o assassinato de um colaborador da Funai, Maxciel Pereira dos Santos, em 2019. Maxciel foi assassinado com dois tiros na nuca por volta das 18h30 do dia 6 de setembro, na Avenida da Amizade, a mais movimentada de Tabatinga (AM), quando andava de moto com a mulher e a enteada. A PF apura se Colômbia teria contratado os pistoleiros deste outro crime.

A investigação do crime foi reaberta em setembro, três meses depois das mortes de Bruno e Dom, e corre sob sigilo. Ninguém foi preso pelo crime. A PF já pediu informações às autoridade de Peru e da Colômbia para tentar identificar os executores do atentado. A linha de investigação é de que eles teriam cruzado a tríplice fronteira com os países vizinhos para cometer o crime a mando de Colômbia. Não está descartada também a participação de pescadores ilegais que atuam na organização criminosa comandanda por Villar na região do Vale do Javari, onde fica a maior reserva de indígenas isolados ou de recente contato do Brasil, e palco dos assassinatos de Bruno e Dom.

O advogado de Colômbia, Eduardo de Souza, confirmou que seu cliente prestou depoimento à PF sobre a morte de Maxciel. Mas o defensor ressalvou que, assim como as mortes de Bruno e Dom, Villar “não tem relação com esses fatos e não há prova material que comprove esses crimes”.

As investigações e depoimentos de testemunhas colhidos na apuração do duplo homicídio levaram os agentes a identificar diversas coincidências entre o grupo agora acusado de ter participado das mortes do indigenista e do jornalista inglês e do ataque a Maxciel.

Denúncia é pista

O nome de Maxciel fazia parte de uma lista de pessoas marcadas para morrer em que constavam Bruno e outros servidores da Funai, além de integrantes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), segundo informações apuradas pela PF. Um dos indícios levantados é uma denúncia feita contra o próprio Maxciel na Polícia Civil de Atalaia do Norte (AM) por Oseney da Costa Oliveira, que está preso, acusado de ter participado com o irmão, Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, e Jefferson da Silva Lima, o Pelado da Dinha, dos assassinatos de Bruno e Dom.

A denúncia é de 6 de março de 2019, exatos três meses antes da morte de Maxciel. Oseney acusou o colaborador da Funai de “constrangimento” e de “ignorância” ao reprimir atividades ilegais nos rios Ituí, Itaquaí e Quixito, no entorno da terra indígena. Quatro policiais militares que participaram de autuações de pescadores testemunharam a favor de Maxciel. “As declarações do senhor Oseney têm o intuito de intimidar a presença do agente fiscalizador para manchar sua imagem e da Polícia Militar”, afirmou um deles.

Maxciel e Bruno atuaram juntos no combate à pesca ilegal e ao garimpo no Vale do Javari, em 2019. Dias antes de ser executado, Maxciel havia participado de uma operação das forças de segurança que apreendeu embarcações com toneladas de pirarucu, o que teria revoltado Colômbia. Nesse mesmo período, Bruno coordenou, como chefe do departamento de indígenas isolados, uma megaoperação de combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e no rio Jutaí, no Vale do Javari. Cerca de 60 balsas de garimpo foram destruídas.

Bruno foi exonerado do cargo logo depois, em 4 de outubro, cerca de um mês após a morte de Maxciel. A exoneração foi assinada pelo secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Luiz Pontel de Souza, número 2 do ministro da Justiça na época, o senador Sergio Moro (União-PR).

A equipe da PF que apurou o crime chegou a sugerir o arquivamento das investigações, mas o Ministério Público Federal foi contra. Mas o inquérito só foi retomado depois da repercussão internacional das mortes de Bruno e Dom e da pressão dos parentes de Maxciel.

Acusados podem ir a júri popular

Iniciadas nesta segunda-feira, em Tabatinga, as audiências de instrução e julgamento para decidir se os acusados de matar o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips vão a júri popular se estenderão até a quarta-feira, quando Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”; Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Dantos”; e Jefferson da Silva Lima, conhecido como “Pelado da Dinha” irão prestar depoimento por meio de videoconferência.

No total, serão ouvidas 15 testemunhas, das quais 13 de acusação e outras duas de defesa. Os advogados dos réus chegaram a arrolar o ex-presidente da República Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro para depor como testemunhas nas investigações sobre a morte de Bruno e Dom, porém, o juiz Fabiano Verli, da Justiça Federal do Amazonas, negou.

Além de Bolsonaro e Moro, a defesa pediu a convocação do ex-presidente da Funai Marcelo Augusto Xavier e do ex-presidente do Ibama Eduardo Bim, mas sem sucesso. O juiz seguiu o entendimento do MPF, que classificou os pedidos como uma tentativa da defesa dos réus de atrasar o julgamento do caso.

Fonte: O Globo

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