Bolsonarista ou não, fique orgulhoso com o tapete estendido a Bolsonaro no Golfo Pérsico

Nos anos 80, Sarney viajou aos EUA, foi diplomático e conquistou vantagens sentidas até hoje; no futuro, os resultados positivos da passagem do atual presidente pelo Oriente Médio também ficarão evidentes

Por Reinaldo Polito (*)

Quem viu a recepção de Jair Bolsonaro em sua segunda viagem ao Golfo Pérsico deve ter ficado orgulhoso. Afinal, essas boas-vindas não foram dadas à pessoa do presidente, mas, sim, ao Brasil, que naquele momento estava representado pelo chefe do poder Executivo. Sendo você bolsonarista ou não, fique feliz com as conquistas que possam advir dessa viagem.

São vitórias brasileiras que serão benéficas para nós e para as próximas gerações, independentemente de quem venha a ocupar a cadeira presidencial. Bolsonaro esteve nos Emirados Árabes, no Bahrein e no Catar. Inaugurou embaixada, participou de motociata e, principalmente, assinou vários acordos de cooperação e abriu a possibilidade para bons investimentos de petrodólares aqui no Brasil.

Coincidentemente, esta semana assisti ao discurso proferido pelo ex-presidente norte-americano Barack Obama, na COP26. É um grande orador. E para mostrar que falava como cidadão e não como autoridade, ele se apresentou com roupas mais despojadas, sem gravata. E, para chamar ainda mais a atenção à essa condição, comentou que poderia se vestir como estava sem ser censurado em sua casa.

Foi uma boa introdução para conquistar a simpatia do público. Depois, discorreu a respeito de sua preocupação com as questões climáticas. Por que estou incluindo Obama nessa história da viagem de Bolsonaro? Para mim, a ligação foi imediata. A história é boa. Quando ele esteve no Brasil, em maio de 2011, ocorreu um fato bastante curioso. Obama foi recepcionado pela então presidente Dilma Rousseff e por todos os ex-presidentes vivos até aquela data, exceto Lula.

No evento, os presentes conversavam animadamente. Havia um, entretanto, que permanecia quieto, mais ou menos afastado do burburinho: José Sarney. Pensei, essa turma toda badalando, mas de todos eles, em termos de relacionamento internacional, ninguém supera Sarney. Explico. Quando ele assumiu o cargo de presidente, em 1986, fez uma viagem desafiadora aos Estados Unidos.

O momento era difícil para o Brasil. Estávamos endividados até o pescoço. Queríamos quebrar as barreiras para a exportação de calçados e do aço. Ah, e ainda por cima manter a reserva de mercado para a informática e outros produtos. A situação era desesperadora. Todos nos olhavam como possíveis caloteiros. Reagan era o presidente americano.

Seguindo o protocolo, Sarney havia preparado seus discursos, todos visando uma boa aproximação com os americanos. Regan, entretanto, foi um anfitrião rude e antipático. Do alto de sua soberba disse logo no primeiro contato com o chefe do executivo brasileiro: “Nenhum país pode continuar exportando para outros se seus mercados domésticos estão fechados para a concorrência estrangeira”. E para cravar o bico da águia ainda mais fundo, disse, logo depois: “Nenhum país deve crescer à custa dos outros”. Pois é, nada a ver com os salamaleques dispensados a Bolsonaro lá no Oriente Médio.

Sarney assimilou o golpe e se manteve sereno. Não interessava o confronto. À noite, tendo pensado bem no assunto, deu uma resposta como se fosse um leve toque com luvas de pelica: “O presidente Reagan disse esta manhã que nenhum país pode crescer à custa dos outros, nós concordamos com isso. O Brasil sempre cresceu graças à suas potencialidades, através de seu trabalho e do sacrifício do seu povo”.

Pronto. Sem agredir, manteve sua posição de chefe de Estado e, sem alarde, retrucou as ofensas recebidas. Ele deixou por conta do ministro Dilson Funaro, que o acompanhava na viagem, os embates técnicos. Funaro esclareceu que o descontrole fiscal americano fora responsável por US$ 25 bilhões da nossa dívida e que esse mesmo motivo havia provocado alta extraordinária na taxa de juros. E que, para continuar crescendo. o Brasil precisaria importar. E para poder importar, ou não pagaria a dívida ou os juros deveriam ser menores.

Sarney não mexeu nesse cacho de “marimbondos em fogo”. Dedicou-se a falar da redemocratização do país e das semelhanças do Congresso brasileiro com o dos americanos. Foi simpático, cordato, diplomático e muito eficiente. Dizem os especialistas que os Estados Unidos estavam com tudo preparado para impor uma retaliação ao Brasil, mas graças à atuação de Sarney, eles recuaram.

Foi, sem dúvida, uma grande vitória diplomática. Por isso, da mesma forma como nos beneficiamos até hoje com a atuação de Sarney, até sem que a maioria tenha conhecimento desses fatos, tudo indica que, no futuro, essa viagem com os resultados positivos de Bolsonaro também trará prosperidade e bem-estar para os brasileiros. Siga pelo Instagram: @polito.

(*) É mestre em Ciências da Comunicação, professor de pós-graduação em Marketing Político e em Gestão Corporativa na ECA-USP e autor de 34 livros, que já venderam mais de 1,5 milhão de exemplares em 39 países.

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