Bolsa Família e auxílio emergencial travam batalha política para o ano que vem

Por José Maria Trindade*

Pessoas formam fila em frente a uma agência da Caixa na Vila Mangalot, região noroeste da cidade de São Paulo, para sacar o auxílio emergencial – Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo

A história do programa Bolsa Família é antiga e ninguém sabe exatamente quem teve primeiro a ideia. O PT se apoderou da proposta e foi o primeiro governo federal a substituir a distribuição de cestas básicas pelo dinheiro vivo. O então governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, que era filiado ao PT, já tinha colocado em prática uma bolsa parecida, vinculada à frequência escolar (e por isso chamada de Bolsa Escola). Agora surge a novidade, o auxílio emergencial. Os partidos de oposição abrem campanha para reduzir o impacto do programa. O argumento é o de que agora, nesta nova versão, o pagamento de R$ 150,00, em média, não atende às necessidades básicas e que é muito pouco. Sim, realmente é pouco, mas na emergência pode assegurar o arroz de cada dia. Mas o Bolsa Família também é mínimo, paga no máximo R$ 190,00 dependendo do rendimento da família.

Em dados gerais, os números mostram a diferença. O governo do presidente Jair Bolsonaro investiu mais de R$ 300 bilhões com o programa, que chegou a 660 milhões de brasileiros. O programa Bolsa Família tem um orçamento de R$ 35 bilhões para este ano. Em média, o auxílio emergencial equivale a dez anos de Bolsa Família. É muito dinheiro distribuído. Uma proposta tão diferente, como foi o programa vinculado ao PT. O ex-presidente Lula ouviu na época, de aliados, conselhos para não adotar a proposta. A cesta básica, que fez a cara do PSDB no governo, para os aliados do PT era mais eficiente politicamente. Foram formados comitês municipais que repassavam fisicamente ao beneficiado a ajuda mínima. Acreditavam que, ao depositar o dinheiro, o presidente perderia o vínculo, e o beneficiado se esqueceria da origem desta ajuda. Mas, na prática, isso não aconteceu. Pelo contrário, se transformou numa máquina de votos. Uma marca difícil de ser eliminada na política.

Os governos anteriores adotavam medidas diferentes para aquecer a economia. A estratégia sempre foi jogar dinheiro em construtoras e grandes empresas, que, por sua vez, investiam em obras e ampliações de empresas para os recursos chegarem às mãos dos brasileiros por meio de criação de postos de trabalho. Este curso do dinheiro tem retenções pesadas. Primeiro, favorece a corrupção. Os políticos gostam do efeito político. Fazem os deputados e senadores, neste caminho, a ligação com empresas e faturamento eleitoral em obras realizadas nos seus redutos. Com o auxílio emergencial, o dinheiro foi diretamente para o município e para as mãos dos consumidores. Uma mágica que movimentou primeiro a economia micro e provocou um efeito positivo na compra de produtos e redução da inadimplência. O dinheiro circulou e o resultado foi positivo na economia, num momento difícil. O presidente Jair Bolsonaro lucrou em popularidade e abriu mais ainda os cofres.

A indicação é de que a festa acabou. As ações durante a pandemia custaram mais de R$ 700 bilhões. Os gastos impactaram as contas públicas de forma muito dura. Sobram agora as avaliações se houve acerto na distribuição de dez anos de Bolsa Família de forma tão rápida. Um forte debate interno tomou conta do governo, no sentido de que era o momento de usar os recursos para lançar um programa maior do Bolsa Família, que se chamaria Renda Cidadã. O presidente não comprou a proposta. Ele acredita que este tipo de ação acostuma mal os beneficiados, que se acomodam e não procuraram trabalho ou progresso. A ideia dele é de que emergencial, sim, definitivo, não. A sorte está mesmo lançada se este auxílio vai garantir a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, e é isso que os partidos de oposição tentam evitar. A guerra entre Bolsa Família e auxílio emergencial vai ser muito forte nos debates do ano que vem, na disputa eleitoral acirrada que se aproxima.

* É jornalista, comentarista político, correspondente da Jovem Pan em Brasília e escreve sobre o poder e seus bastidores.

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