Ausência de Bolsonaro na COP26 não é esnobação, mas preservação da imagem e da instituição

O fato de o presidente não ter ido à conferência o livrou das pedradas citadas por Mourão e não tirou o Brasil do debate; a proposta de reflorestamento apresentada pelo governo foi importante e reveladora

Por José Maria Trindade (*)

Ao se recusar a participar da COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, o presidente Jair Bolsonaro se livrou de momentos inúteis, discursos cansativos que fizeram o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, dormir, e também das pedradas citadas pelo vice-presidente Hamilton Mourão.

A ausência física do presidente nesta reunião de iniciados não tirou o Brasil do debate e a proposta apresentada pelo governo foi importante e reveladora. O presidente quer exigir dos países que criticam a gestão das florestas por aqui que façam o reflorestamento em seus próprios territórios. Pela primeira vez, há também um comprometimento com pagamento por preservação.

Os atuais mandatários da economia devastaram, predaram e desertificaram para se desenvolver e quando chega agora, o momento dos países em desenvolvimento apostarem, o travamento é colocado como intransponível.

As pedradas poderiam até ser reais, mas o general Mourão revelou informações colhidas no governo de que manifestações estavam previstas para constranger e até agredir o presidente. Não é esnobação, já que a comitiva brasileira fez a sua parte, mas preservação da imagem e da instituição. Estamos em guerra de narrativa e o objetivo é econômico. Um ingrediente novo no preço dos produtos é a reputação.

O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, colocou na mesa a proposta avançada de acabar com o desmatamento ilegal até 2028. A legislação ambiental por aqui é rigorosa e desmatamento mesmo é só o criminoso. O mais importante agora é cobrar o reflorestamento nos países que destruíram as suas reservas florestais e cobrar pela preservação. O bolso é mesmo um argumento importante.

Desta vez a ativista mirim Greta Thunberg ficou de fora do debate de dirigentes. Cruzou as ruas de Glasgow como militante de pedras nas mãos, mas sem o ar de celebridade. Esta história de internacionalização da Amazônia pelo risco global é fala vazia. Se fosse assim, teríamos que abrir imediatamente uma campanha pela internacionalização das ogivas nucleares americanas.

Quem oferece mais riscos ao planeta? A Amazônia ou as armas nucleares? Qual o poder de destruição de cada um? Além disso, há o debate sobre bem estar e cultura contemplativa que nos oferece a floresta. Como não internacionalizar o museu do Louvre, o maior museu de arte do mundo? Seria necessário levar em consideração uma gestão internacional para este importante observatório francês.

Portanto, são muitas as pedradas preparadas contra o Brasil, que cairiam na cabeça do presidente Jair Bolsonaro no campo minado em terreno hostil da COP26.

(*) É jornalista, comentarista político, correspondente da Jovem Pan em Brasília e escreve sobre o poder e seus bastidores

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