Amazônia e as premissas socioeconômicas e ambientais do desenvolvimento regional

 “E não se tratam apenas das vocações específicas de cada município ribeirinho, precisamos criar respostas para as demandas de infraestrutura, revisão de tarifas de transporte, comunicação e energia. Só assim fechamos o círculo da qualificação e garantimos os empregos e oportunidades de gestão inteligente de nosso bioma, de nossa gente e de nossa integração e inserção na dinâmica maior do desenvolvimento regional/nacional.”

Por Nelson Azevedo (*) [email protected]

Quais são os grandes desafios de gestão da Amazônia no contexto de médio curto e médio prazo de do desenvolvimento regional? Em Dia de celebração do Meio Ambiente, como enfrentar o problema proposto pela Agenda do Desenvolvimento Sustentável da ONU, Organização das Nações Unidas,  que nos pede atendimento às demandas sociais e reposição dos estoques naturais? Eis duas das questões mais cruciais para quem vive e atua na Amazônia com a responsabilidade de gerar riqueza e assegurar que ela alcance seus objetivos sociais no modo sustentabilidade. Arriscaria dizer que a grande resposta para essas questões vitais pode ser resumida num grande programa de qualificação dos nossos recursos humanos. Qualificação em perfil científico, tecnológico e de inovação e, principalmente, em Educação, com maiúscula, no nível ético, ambiental e social. O nível dos valores humanos, no trato do fator ambiental florestal amazônico e na maior distribuição da riqueza entre todos que aqui vivem e participam deste imenso movimento de transformação inteligente de nossas potencialidades em oportunidades efetiva de instalação da prosperidade geral.

Prioridade educacional

A economia de acertos e avanços nesta direção está assentada na Indústria da Zona Franca de Manaus, um amontoado de acertos que começa a ser reconhecido e será mantido conforme seus ditames constitucionais de promoção social atrelada à proteção florestal. E como a atividade de transformação socioeconômica e ambiental, a indústria sustentável da ZFM, podemos assegurar que existe uma grande defasagem na qualificação avançada de nossos recursos humanos. Nossos colaboradores diretos, em torno de 110 mil, precisam, urgentemente, e prioritariamente da atenção d poder público e da gestão dos recursos materiais e ativos financeiros gerados pela indústria. Como falar de quarta. revolução industrial, ou seja, da Indústria 4.0 se a educação em todos os níveis não for prioridade absoluta? A revolução começa por aí.

Desafio de todos

Nossos professores precisam ser tratados como, por exemplo, a cultura japonesa o faz.  Afinal, é a eles que entregamos nossos filhos e os filhos deles, para aprender, desde o ensino fundamental, a tratar bem com educação, respeito e reciprocidade de propósitos colaborativos e construtivos. Isso implica numa mudança estrutural, que inclui iniciativas robustas das condições de ensino, salariais, na gestão do interesse público. Cidadãos e cidadãs bem formadas e comprometidas com o tecido social e o interesse público vão gerenciar o futuro como um desafio de todos e para benefício de todos. Não apenas dos amigos e dos interesses deles. Riqueza é gerada em escala robusta pelo polo industrial de Manaus e a lei é muito clara na sua aplicação e distribuição.

Deploráveis IDHs

E essa mudança, quando se trata de Amazônia, seu desenvolvimento e proteção, precisa ser operada em toda a região e espalhar na direção de país e de quem estiver disposto a atentar para essas premissas. É inaceitável analisar o volume desses recursos à luz dos perfis socioeconômicos de nossa população. Uma maioria com inaceitáveis e deploráveis indicadores de desenvolvimento humano. É muito importante anotar que essa cobrança com frequência é direcionada ao setor produtivo, como o grande beneficiário e privilegiado da contrapartida fiscal. E isso é absolutamente improcedente. Basta analisar os portais da Receita Pública e balizar o volume dos recursos que são repassados pelas empresas.

Indústria e Educação

Minha vida profissional começou na gestão da UTAM, Instituto de Tecnologia da Amazônia, da qual saiu a UEA, Universidade do Estado do Amazonas e sua diversificação acadêmica. Há quatro décadas, já estava atuando nas empresas do Distrito Industrial, quando iniciamos o Curso de Nível Técnico em Informática na UTAM, já atentos às demandas da revolução tecnológica em curso. Nossa obrigação era nacionalizar a tecnologia, que chamávamos de know-how. Além do ensino médio, e simultaneamente à graduação, formatamos o curso de Tecnólogos, em diversas áreas, como se faz nos países industrializados. Havia, pois, muito mais aproximação entre Indústria e educação tecnológica. Por que não retomar em larga escala essa cultura da qualificação?

Ajustes na grade curricular

Ademais, temos unidades da UEA e muitas da própria UFAM nos municípios do interior. Por que não ajustarmos a grade curricular em sintonia com as vocações econômicas de cada região, calha de rio, numa visão multidisciplinar e ajustada às necessidades de cada comunidade? E não se tratam apenas das vocações específicas de cada município ribeirinho, precisamos criar respostas para as demandas de infraestrutura, revisão de tarifas de transporte, comunicação e energia. Só assim fechamos o círculo da qualificação e garantimos os empregos e oportunidades de gestão inteligente de nosso bioma, de nossa gente e de nossa integração e inserção na dinâmica maior do desenvolvimento regional/nacional.

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM, além de diretor da CNI.

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