Um Pai Nosso que se limita ao “venha nós”

Nelson Azevedo (*) [email protected]

Ainda é importante retomar alguns esclarecimentos a respeito das calúnias proferidas contra o programa de desenvolvimento regional mais acertado da história da República, a Zona Franca de Manaus, por parte da Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil. Acreditamos que, com o esclarecimento que supõem disposição ao diálogo, é possível contornar a infâmia e, em seu lugar,  edificar pontes de integração e de benefícios para a brasilidade. Neste momento em que o conflito parece revelar-se o melhor instrumento de construção da paz, temos certeza não é disso que o país precisa e espera de cada um de nós. Especialmente quando se trata de um setor que é responsável pela geração de emprego e renda em meio a maior crise socioeconômica que aterrorizou o país e o mundo.

Obstrução inaceitável

O Pai Nosso, a mais importante das orações na Cristandade, precisa ser compartilhado em sua integralidade. Limitá-la ao “…venha nos o vosso reino…” é uma obstrução inaceitável. Ao longo da história humana, este vínculo espiritual nos tem unido  para achar saídas. Estamos falando isso a partir da Amazônia, interagindo com uma entidade do Sudeste brasileiro onde se instalou, no Século XX um movimento frenético da prosperidade tão cobiçada pelo Norte e Nordeste empobrecidos do Brasil. Nossa região, com o Ciclo da Borracha, até o início do século passado, respondia por 45% de toda a riqueza gerada no país. Perdemos o bonde da prosperidade porque o Brasil omitiu-se no “venha a nós”, em lugar de investir na perenização desta riqueza provendo a região de infraestrutura competitiva para construção do desenvolvimento regional/Industrial.

Nem justo nem ético

E não se trata aqui de auto-vitimização geopolítica e sim da constatação universal de IDHs, os indicadores desenvolvimento humano. Temos 11 municípios entre os piores indicadores do Brasil. Nossa premissa é de que a nação civilizada, que todos pretendemos instalar,  implica na conquista de  um novo formato de desenvolvimento onde as regiões não sejam separadas por índices tão escabrosos de injustiça socioeconômica. O programa ZFM utiliza menos de 8% do bolo de gastos fiscais do país aplicados em toda a Amazônia Ocidental, enquanto o Sudeste desenvolvido usufrui de 50% das vantagens fiscais. Isso não é justo nem ético.

Difamação infundada

E por quê as empresas aqui instaladas estão entre as 3 mais destacadas no ranking da produção industrial do Brasil. Por acaso teria fundamentos a acusação difamatória da entidade dos produtores de tubaína, segundo a qual somos beneficiários do privilegiado regabofe de compensação fiscal e que isso arromba a estrutura fiscal do Brasil? Absolutamente não. Somos a planta industrial que mais recolhe impostos, proporcionalmente, ao resto do país, basta confirmar no sítio da Receita a presença do Amazonas entre os 5 maiores contribuintes do Brasil.

Empregos e proteção florestal

Essa compensação tributária é uma política do Estado Brasileiro de desenvolvimento regional e proteção florestal. E se nós nos destacamos no ranking nacional é porque, em lugar de difamar parceiros, trabalhamos intensamente e de olho na proteção florestal. E nosso trabalho repercute na conservação ambiental do Estado do Amazonas, onde o Polo Industrial de Manaus responde por 500 mil empregos, entre os diretos e indiretos que o IBGE e a RAIS contabilizam.

Desmatamento e queimadas

Estamos atravessando a maior crise hídrica da história desde o século passado, que desembarcou num iminente risco de apagão ou racionamento energético. Os cientistas atribuem esta tragédia ao desmatamento e queimadas na Amazônia dos últimos 10 anos. Um equívoco perverso que se acentuou pela depredação do bioma amazônico. Isso teria sido mais grave se o Amazonas fosse gerido por aqueles que perseguem sua economia, afugentando da região as empresas aqui instaladas. O Sudeste tem mais da metade dos estabelecimentos industriais do Brasil, somente São Paulo detém 30% das indústrias, enquanto no Amazonas estão instaladas apenas 0,6%. Faz sentido esvaziá-las? Queremos e sabemos trabalhar e beneficiar, inclusive, os atores da maledicência como temos feito. Nossa oração do Pai-Nosso precisa de ser proferida e vivida em sua integralidade e na partilha de oportunidades. Amém!

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.

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