Prêmio internacional para pesquisadores do Inpa

Pesquisadores Francisca das Chagas do Amaral Souza e Jaime Paiva Lopes Aguiar - Foto: Divulgação

Saiu na terça-feira, 26, o resultado da 4ª edição do Prêmio da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN Amazônia) e, competindo com doze outros projetos do Brasil, Venezuela, Peru, Itália e Equador abordando a temática ‘Soluções para uma nova bioeconomia amazônica’, saiu vencedor o projeto ‘Sustentabilidade da cadeia produtiva do peixe com o uso de resíduos para a produção de suplementos funcionais’, dos pesquisadores Francisca das Chagas do Amaral Souza e Jaime Paiva Lopes Aguiar, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), integrantes do Grupo Alimentos e Nutrição da Amazônia, da coordenação Sociedade, Ambiente e Saúde.

O projeto tem o objetivo de incentivar o reaproveitamento de resíduos da indústria pesqueira para a produção de gelatinas e farinhas, que podem ser usados em suplementos dietéticos, cosméticos e como fontes de compostos bioativos/funcionais e naturais na indústria de alimentos, agregando valor à indústria pesqueira. Também minimiza o impacto causado pela alta quantia de resíduos gerados, que representam problemas de armazenagem, transformação e eliminação nos campos ecológico e econômico.

A pesquisa começou em 2009, quando o projeto ‘Elaboração, avaliação nutricional e sensorial de sopa de gelatina à base de peixes amazônicos’ foi aprovado pela Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas). Com o aporte financeiro, Francisca das Chagas e Jaime Paiva alavancaram a idéia de trabalhar com os resíduos de pescado.

“Como a carne dos peixes é bastante consumida, então, trabalhar com resíduos seria uma forma de aproveitar o que é descartado”, falou Francisca.

Aracu, jaraqui, pirapitinga, tambaqui são as principais espécies utilizadas pelos pesquisadores, mas no total eles utilizam nove espécies. Iniciaram produzindo a gelatina (com pele e ossos) e farinha (com pele), esta, utilizada para enriquecer pães. Também aproveitam o fígado, importante para suprir a carência nutricional de ferro. Tanto a gelatina quanto a farinha, podem ser consumidos sem problema algum, pois tudo é originário dos peixes.

“Nossa população já assa e come, naturalmente, a pele de alguns peixes. Nós apenas higienizamos e fazemos o processo em laboratório. Como qualquer produto alimentício, tem um tempo de vida útil”, disse.

A farinha de fígado supre necessidades nutricionais relacionadas à deficiência de ferro. “Nossa população tem carência de ferro, a chamada anemia ferropriva, então essa farinha é uma alternativa para suprir tal carência nutricional. A gelatina tem alto teor protéico, e qualidade superior às gelatinas comerciais vendidas nos supermercados. Em testes com ratos, comprovamos a eficiência nutricional dos dois produtos”, concluiu.

Algumas empresas já procuraram o Inpa para o repasse da tecnologia. Em pouco tempo devem estar sendo comercializadas em Manaus.

Entrevista

Em uma entrevista ao centenário Jornal do Commercio de Manaus, Francisca das Chagas deu mais detalhes sobre o projeto vencedor. 

Jornal do Commercio: Quando a Sra. começou essa pesquisa com resíduos de peixes e como chegou à conclusão que poderiam ser importantes suplementos alimentícios?

Francisca das Chagas do Amaral Souza: A pesquisa começou em 2009, quando o projeto ‘Elaboração, avaliação nutricional e sensorial de sopa de gelatina à base de peixes amazônicos’ foi aprovado pela Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas). Eu e o pesquisador Jaime Paiva Lopes Aguiar trabalhamos no laboratório do Inpa, e o projeto alavancou a ideia de trabalhar com resíduos de pescado. Como a carne dos peixes é bastante consumida, então, trabalhar com resíduos seria uma forma de aproveitar o que é descartado.

JC: Quais peixes a sra. utiliza, e quais são os resíduos que aproveita?

FC: Aracu, jaraqui, pirapitinga, tambaqui são as principais espécies, mas no total utilizamos nove espécies. Iniciamos produzindo a gelatina (com pele e ossos) e farinha (com pele), esta, utilizada para enriquecer pães. Também utilizamos o fígado, importante para suprir a carência nutricional de ferro.

JC: Explique como é o processo de transformação desses resíduos em gelatina e farinha?

FC: O processo de transformação dos resíduos em gelatina é mais demorado. Precisa fazer higienização da pele e dos ossos depois, secar os ossos na estufa. A partir dessa secagem, fazemos um tratamento com produtos químicos (soluções alcalinas e ácidas), e são estes produtos que vão gerar a gelatina. A farinha é um processo mais simples. Trata-se até de uma tecnologia social. Faz-se a higienização da pele e a desidratamos. Pode até fazer em casa secando no forno do fogão. Depois se bate tudo no liquidificador para triturar e converter em farinha.

JC: Tanto a gelatina quanto a farinha podem ser consumidos naturalmente, ou tem algum tipo de indicação?

FC: Podem ser consumidos sem problema algum. Não existe restrição nenhuma para o consumo nem da gelatina nem da farinha. Tudo é originário dos peixes. Nossa população já assa e come, naturalmente, a pele de alguns peixes. Nós apenas higienizamos e fazemos o processo em laboratório. Como qualquer produto alimentício, tem um tempo de vida útil.

JC: Quais as qualidades alimentares dos dois produtos?

FC: A farinha de fígado supre necessidades nutricionais relacionadas à deficiência de ferro. Nossa população tem carência de ferro, a chamada anemia ferropriva, então essa farinha é uma alternativa para suprir tal carência nutricional. A gelatina tem alto teor proteico, e qualidade superior às gelatinas comerciais vendidas nos supermercados. Em testes com ratos, comprovamos a eficiência nutricional dos dois produtos.

JC: Como escolheu a gelatina e a farinha? Por que não outros produtos?

FC: Porque são produtos que têm o viés de tecnologia de alimentos, fazem parte da nossa linha de trabalho na produção de pães e farinha. Como já produzimos geleias de frutos amazônicos, partir para a gelatina foi um passo.

JC: A sra. pretende viabilizar a produção em larga escala dos dois produtos? Empresas do setor de alimentos podem lhe procurar?

FC: Algumas empresas já procuraram o Inpa para o repasse da tecnologia. Já existe, de fato, o interesse dessas empresas no repasse das informações para a produção dos produtos. Em pouco tempo devem estar sendo comercializadas.

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