Potássio do Brasil vê chance de ‘destravar’ mina no Amazonas

Projeto Autazes aguarda resultado de consulta a povo Mura

Foto: Divulgação

A escassez global de cloreto de potássio, um problema que se consolidou a partir do início da invasão da Rússia na Ucrânia, contribuiu para que a atenção de agentes do mercado de adubos – e não apenas a deles – se voltasse para o projeto Autazes, no Amazonas, da Potássio do Brasil. Controlada pelo banco canadense Forbes & Manhattan, do investidor Stan Barthi, a companhia aguarda desde 2017 a conclusão de uma etapa do processo de liberação ambiental para a instalação da mina – a consulta ao povo indígena Mura.

Após investimentos de US$ 200 milhões em pouco mais de uma década, a empresa, que foi fundada em 2009 e agora prepara a abertura de seu capital na bolsa de Nova York, se mostra otimista. “Nossa expectativa é que a suspensão do licenciamento caia nos próximos meses”, afirmou Adriano Espeschit, presidente da Potássio do Brasil, ao Valor.

Somente após  o andamento de questões que envolvem travas ao licenciamento ambiental e à licença prévia é que a empresa poderá requerer uma licença de instalação para a mina. Um projeto como esse leva entre três a cinco anos para ser implementado.

A mina em Autazes não é o único projeto que integra os planos da companhia no Amazonas – nem foi o tema que dominou a mesa de conversações entre os donos da Potássio do Brasil e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, no último dia 13, em Ottawa, no Canadá. A ministra viajou ao país com o objetivo de conversar com fornecedores, visto que os canadenses são os principais exportadores globais do nutriente.

Adriano Espeschit – Foto: Divulgação

“Como toda empresa, temos projetos no pipeline”, reiterou Espeschit. O projeto em Autazes é o mais desenvolvido, mas a Potássio do Brasil tem outros alvos no mesmo Estado. Dois deles estão em Itapiranga e Itacoatiara – cidades a 100 quilômetros e 70 quilômetros de Autazes, nessa ordem, seguindo uma “uma linha reta” no mapa. Ambos integram uma bacia de deposição de sais em uma extensão de cerca de 400 quilômetros de projetos viáveis, localizada entre os municípios de Borba (AM) e Juruti (PA), disse o executivo.

Foras das terras indígenas

Espeschit afirmou que Autazes e Itapiranga não estão em terras indígenas. Outras jazidas ainda precisam de um mapeamento mais preciso, a exemplo de Itacoatiara. Somados a Autazes – que, se sair do papel, tem capacidade de entregar 2,44 milhões de toneladas de potássio por ano -, os dois outros projetos citados permitiriam dobrar esse volume. Cinco milhões de toneladas (caso o nutriente ficasse apenas no Brasil, vale destacar), ou metade do consumo dos agricultores do país a cada ano.

Além do Amazonas, outras áreas do país, como Minas Gerais, por exemplo, têm jazidas de potássio. Os críticos do projeto destacam os riscos ao meio ambiente e às populações do entorno. A mina de Autazes deverá ficar a 900 metros de profundidade, em uma perfuração vertical. De acordo com os estudos, a silvinita, rocha sedimentar de onde se extrai o o cloreto de potássio, seria retirada de dois poços subterrâneos. As rochas têm teor de 30% do nutriente.

A estrutura soma os dois poços, uma operação no subsolo e a planta de beneficiamento. Segundo Espeschit, no terreno acima da jazida havia uma fazenda de gado. Os aportes iniciais para a estrutura foram calculados na faixa entre US$ 2,2 bilhões e US$ 2,5 bilhões, mas o valor será revisto devido à inflação. No local, há 43 furos de sondagem para a para a retirada de amostras.

Licenças

Paralelamente às etapas que correm para obter licenças, a empresa vem conversando com potenciais parceiros. “Temos sido muito procurados agora”, afirma Espeschit. Ele confirma conversações com Blairo Maggi, que detém uma empresa de navegação fluvial, e com a chinesa Citic para a obra da mina. “Nada foi assinado ainda”, diz.

Maggi, que já foi governador de Mato Grosso, senador e ministro da Agricultura, atualmente é acionista da trading Amaggi e presidente do conselho da Associação Brasileiras das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

Por Érica Polo | Valor Econômico

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