Dia do Folclore: Descubra destinos que preservam lendas brasileiras

Instituída em 1965 por meio de uma lei, essa data anual tem como propósito realçar as lendas e tradições que compõe a cultura do país; confira destinos

Bumba meu boi - Nas ruas de São Luís, história de morte e renascimento – Foto: Illuminati/Divulgação/Secretar

O Brasil celebra em 22 de agosto o Dia do Folclore para relembrar e enaltecer os ricos aspectos da cultura nacional. Instituída em 1965 por meio de uma lei, essa data anual tem como propósito realçar as lendas e tradições que compõem a cultura do país. Do travesso Saci, passando pela Mula sem cabeça e a guardiã das florestas Caipora, as histórias nasceram da sabedoria popular e se espalharam por todo o país.

Foi ano de 1846 que a palavra “folklore” (em inglês) foi inventada. O autor do termo foi o escritor inglês William John Thoms, que fez a junção de “folk” (povo, popular) com “lore” (cultura, saber) para definir os fenômenos culturais típicos das culturas populares tradicionais de cada nação. O significado da palavra, segundo seu criador, era “saber tradicional de um povo”.

Além de seu aspecto lúdico e encantador, o folclore brasileiro desempenha um papel fundamental na construção da identidade nacional. Esse conjunto de expressões culturais populares, que engloba também brincadeiras, danças, festas e comidas típicas, é passado de geração para geração, perpetuando os traços únicos que moldam o Brasil.

Ao comemorar o Dia do Folclore, não estamos apenas lembrando do passado, mas também fortalecendo o elo entre as diferentes facetas da identidade nacional. O  iG Turismo separou alguns destinos que preservam as tradições folclóricas nacionais.

São Luís (MA)

As encenações do Bumba Meu Boi têm como referência a lenda de Pai Francisco.
As encenações do Bumba Meu Boi têm como referência a lenda de Pai Francisco – Foto: Reprodução: Flipar

Na capital maranhense, surge uma lenda de tempos remotos. Há muito tempo, o proprietário de uma fazenda em São Luís possuía um boi que era o seu favorito. Certo dia, uma esposa grávida de um dos escravos que viviam ali sentiu desejo de comer língua bovina.

Movido por um profundo amor pela esposa, o marido não hesitou em sacrificar o boi mais querido da propriedade. Porém, o dono percebeu a ausência do animal e organizou uma busca incansável. Ao encontrar o boi sem vida, um sentimento de tristeza inconsolável se abateu sobre ele.

Contudo, por meio da intervenção de um curandeiro, o boi foi milagrosamente ressuscitado. Como celebração deste extraordinário feito, o proprietário promoveu uma festa, cujo impacto é tão marcante que perdura até os dias de hoje.

Desta história nasce a tradição do Bumba-meu-boi do Maranhão , uma celebração que se estende durante todo o mês de junho na capital maranhense. Essa lenda é reverenciada em diversas regiões do país e, em São Luís, a festividade mantém sua vitalidade atraindo visitantes para desfrutarem dos passeios, das festividades e da gastronomia local.

As danças se entrelaçam com as iguarias típicas, como o bolo de tapioca e o mingau de milho (conhecido como canjica).

Manaus (AM)

Manaus reúne muita beleza natural
Manaus reúne muita beleza natural – Foto: shutterstock

Quem não conhece a famosa figura do boto cor-de-rosa? Este mamífero, tão frequente nas águas dos rios da América do Sul, traz consigo sua própria narrativa lendária na região Norte do Brasil.

Segundo a lenda, o boto tem a habilidade de se transformar em um homem superbonito. Ele comparece aos bailes das cidades ribeirinhas, atraindo atenção das jovens solteiras. Todavia, assim que a madrugada finaliza, ele retorna à sua forma de boto, desaparecendo nas águas do Rio  Amazonas.

Na cidade de Manaus  é possível “vivenciar” o mundo do boto cor-de-rosa em primeira mão e até mesmo compartilhar de um mergulho com essa criatura singular. Uma experiência recomendada para famílias, uma vez que a semelhança com golfinhos de filmes cativa especialmente as crianças.

Esses passeios, que proporcionam a proximidade com o boto, são feitos às margens do Rio Amazonas. Ali, uma gama de guias de turismo está pronta para compartilhar mais sobre a rica história que respalda essa lenda genuinamente brasileira.

Pantanal (MS)

A pesca é uma das principais atrações do Pantanal
A pesca é uma das principais atrações do Pantanal – Foto: anacvial1/Pixabay

O  Pantanal representa praticamente um universo à parte no cenário do Mato Grosso do Sul. Para além da sua rica biodiversidade, essa região também está repleta de lendas folclóricas. Uma das mais notórias, que inclusive serve de base para um roteiro turístico, é a lenda do Boitatá.

Esta criatura é retratada como uma serpente com uma cauda de fogo que protege as matas da invasão das pessoas que as queimam — uma prática ilícita realizada para preparar o solo para o plantio. Consequentemente, os visitantes têm a oportunidade de desfrutar de atividades como caminhadas, cavalgadas, passeios de barco, safáris e outras aventuras na área que a lenda do boitatá “defende”.

Uma sugestão valiosa para aproveitar ao máximo as paisagens é explorar a região por meio de viagens de ônibus, abrangendo as diversas localidades da área pantaneira, como Corumbá e Aquidauana. O ecossistema se estende por mais de 250 mil milhas, abarcando não somente outros estados brasileiros, mas também outros países.

Além de mergulhar no “circuito do boitatá”, os visitantes também podem explorar as exuberantes planícies alagadas que abrigam uma fauna e flora de beleza incomparável.

Parintins (AM) 

Parintins, Amazonas
Parintins, Amazonas – Foto: Reprodução/TripAdvisor

Na região Norte do Brasil, em Parintins, Amazonas, ocorre frequentemente um festival cultural que celebra as tradições locais: o boi-bumbá, uma variante do bumba-meu-boi nordestino, que oferece uma experiência turística única, com cores vibrantes, músicas, danças típicas e culinária regional.

O destaque é a rivalidade entre bois, com torcidas e imponentes alegorias. O evento, parte da identidade local, atrai muitos turistas e ocorre na última semana de junho no Bumbódromo, construído em formato de cabeça de boi e reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Iphan.

Recife (PE)

Frevo
Frevo – Foto: G1.COM.BR/REPRODUÇÃO

Situada no Nordeste brasileiro, Recife, capital de Pernambuco, também é um epicentro de movimentos culturais do folclore do país. Nesse destino, uma das expressões mais aclamadas, compartilhada com a cidade de Olinda, é o frevo, uma dança folclórica e um ritmo musical característico do Carnaval de rua.

O frevo, é um ritmo vibrante que instiga os participantes a pular, dançar e cantar, e surge no século 19, período marcado por transformações sociais no Brasil. A origem da palavra remonta ao verbo “ferver”, refletindo a natureza acelerada dessa dança.

Os entusiastas do frevo se vestem com trajes coloridos. Este símbolo vibrante da cultura local também recebeu o reconhecimento internacional, uma vez que foi proclamado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco.

Pirenópolis (GO)

Rua de Pirenópolis, em Goiás, com casas pintadas e tradicionais
Rua de Pirenópolis, em Goiás, com casas pintadas e tradicionais – Foto: Reprodução/Instagram @pirenopolis 14.12.2022

Localizada a aproximadamente 130 km de Goiânia, na região Centro-Oeste do Brasil, a cidade de Pirenópolis, em Goiás, é conhecida por suas ricas tradições folclóricas e personagens curiosos, como o famoso Pé de Garrafa. Este ser mitológico, considerado um protetor da floresta, é descrito nas lendas locais como uma criatura peluda, dotada de um chifre, garras imponentes e uma única perna central. Acredita-se que, em períodos de tranquilidade na mata, o Pé de Garrafa é dócil, mas quando detecta uma ameaça, se transforma em uma fera.

Outro elemento notável do folclore de Pirenópolis é a celebração das Cavalhadas, representações inspiradas nos trajes medievais que foram trazidas para o Brasil pelos colonizadores portugueses no século 16. Mantendo tradições vindas de Espanha e Portugal, essas manifestações combinam elementos de religiosidade, fé e cultura local.

A introdução das Cavalhadas em Pirenópolis é atribuída ao padre Manuel Amâncio da Luz, que estreou a peça teatral intitulada “O Batalhão de Carlos Magno” em 1826.

As Cavalhadas são uma representação teatral que engloba dois exércitos, cada um composto por 12 cavaleiros, que criaram apresentações ao longo de três dias, incorporando uma rica coreografia e elaborados trajes ornamentados. O palco central para essas apresentações é o Campo das Cavalhadas, também conhecido como Cavalhódromo, localizado no centro de Pirenópolis.

Resende (RJ)

Resende (RJ)
Resende (RJ) – Foto: Reprodução: Flipar

Localizada a cerca de 170 km da capital do estado do Rio de Janeiro, Resende é notável por sua peculiaridade folclórica. O Saci, também conhecido como Saci-pererê, é um símbolo marcante da Seção de Instrução Especial da Academia Militar das Agulhas Negras, situada na cidade fluminense.

O Saci, figura conhecido por sua esperteza e confiança, e é retratado na lenda como um garoto negro com um gorro vermelho, que gosta de pregar peças nas pessoas e se desloca pulando com uma única perna. Essa figura mitológica, originada no final do século 18, se difundiu pelo Brasil ao longo do século 19, com influências da cultura indígena, africana e europeia. O personagem ganhou notoriedade principalmente devido a Monteiro Lobato, escritor brasileiro que publicou um livro sobre o Saci em 1921.

Além disso, outras figuras folclóricas igualmente se destacam na região Sudeste do país, como o Curupira, o Boitatá e a Mãe-de-Ouro. Em consonância com isso, Resende promove o estudo e a divulgação das diversas manifestações culturais do Brasil, sendo frequentemente palco de apresentações de festas ao folclore brasileiro.

São Luiz do Paraitinga (SP) 

Vista da Praça Matriz, em São Luiz do Paraitinga
Vista da Praça Matriz, em São Luiz do Paraitinga – Foto: Fernanda Simas, iG Sâo Paulo

Ainda dentro do contexto do mito do Saci, o dia 31 de outubro foi designado oficialmente como o Dia do Saci, e em São Luiz do Paraitinga, localizado no estado de São Paulo, essa iniciativa foi implementada com o intuito de enaltecer e disseminar as lendas do folclore brasileiro. Nesse mesmo propósito, desde 2003, a cidadezinha de São Luiz do Paraitinga, situada no Vale do Paraíba, celebra a Festa do Saci, oferecendo uma programação rica em música, teatro, narrativas, oficinas, brincadeiras e diversas outras atividades. O evento se configura como uma fonte de diversão para todas as faixas etárias.

Pelotas (RS)

Biblioteca Pública Pelotense
Biblioteca Pública Pelotense – Foto: Reprodução/TripAdvisorx

A região Sul do Brasil conta as danças folclóricas como a Congada, o Cateretê e o Pau de Fitas. Entre os personagens icônicos do folclore brasileiro, alguns se destacaram nos estados do Sul, como o Boitatá e o Negrinho do Pastoreio.

Em Pelotas, situada no Rio Grande do Sul, encontra-se o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Negrinho do Pastoreio, estabelecido em 1967 com a finalidade de promover danças tradicionais gaúchas.

Localizada a cerca de 260 km da capital do estado, Porto Alegre, essa instituição cultural se empenha em promover atividades de dança e campeira, além de eventos como rodeios, fandangos e oficinas, com o objetivo de e manter vivas as tradições gaúchas.

O Negrinho do Pastoreio tem suas raízes no século 19 e possui sua origem em uma lenda afro-cristã. No contexto da época, essa história era amplamente compartilhada por brasileiros que defendiam o fim da escravidão. A narrativa gira em torno de um jovem escravizado que sofreu brutalidades nas mãos de um fazendeiro.

Em algumas versões, ele é castigado por permitir que um cavalo fuja, enfrentando um castigo tão severo que quase resulta em sua morte. No entanto, o menino sobrevive e, montado no cavalo, aparece ao fazendeiro ao lado da Virgem Maria, padroeira da criança.

Nos dias atuais, a lenda do Negrinho do Pastoreio sugere que ele auxilia na busca por objetos perdidos. Para invocar essa ajuda, é comum acender uma vela próxima a um formigueiro e fazer um pedido com muita fé.

Joanópolis (SP)

Apesar de todos os seus atrativos, a fama como cidade do lobisomem tornou-se o orgulho dos moradores de Joanópolis
Apesar de todos os seus atrativos, a fama como cidade do lobisomem tornou-se o orgulho dos moradores de Joanópolis – Foto: Divulgação

Situada na divisa com Minas Gerais,  essa pequena cidade paulista abriga aproximadamente 12 mil moradores e é renomada como a “Capital do Lobisomem”. Embora o mito não seja exclusivo dessa região, o título se atribui ao fato de que muitos dos habitantes locais, especialmente os mais idosos, afirmam já ter visto a criatura.

O folclore, profundamente enraizado na comunidade, tornou-se um ponto de atração turística significativo. O município inclusive conta com uma Associação dos Criadores de Lobisomens. Além disso, ao pé da Serra da Mantiqueira, a cidade é agraciada com rios e cachoeiras, notadamente a Cachoeira dos Pretos, com uma queda de 154 metros. Os apaixonados por ecoturismo e esportes radicais desfrutaram de uma gama diversificada de atividades, como rapel, trilhas, arvorismo, boia-cross, rafting e voo livre.

São Vicente (SP)

São Vicente
São Vicente – Foto: Reprodução

Foi em São Vicente que os primeiros relatos do Curupira foram registrados na história. Esse personagem, reconhecido pelos cabelos de fogo e pés voltados para trás, é celebrado como guardião das plantas e dos animais na floresta.

Localizada no litoral paulista, a cidade não oferece apenas praias deslumbrantes, mas também possui um contexto histórico enriquecedor. O passeio de teleférico é uma opção, permitindo que os visitantes apreciem a Baía de Todos os Santos, testemunhem o pôr do sol e observem os praticantes de paraquedismo. A Ponte Pênsil também oferece oportunidades para tirar fotos memoráveis. Além disso, a vida noturna animada é um atrativo adicional para os visitantes.

Olímpia (SP)

A Igreja Nossa Senhora Aparecida é muito tradicional na cidade
A Igreja Nossa Senhora Aparecida é muito tradicional na cidade – Foto: Reprodução/ Mais Olímpia

Anualmente, a cidade paulista celebra o Dia do Folclore. Neste ano, o Festival do Folclore em Olímpia contou com uma variedade de atrações que ocorreram de 5 a 13 de agosto. O evento inclui desfiles, comemorações religiosas, programações culturais, apresentações artísticas, pratos típicos e muito mais. No próximo ano, em 2024, o festival está programado para acontecer de 3 a 11 de agosto.

Além disso, um destaque contínuo na cidade é o Museu de História e Folclore Maria Olímpia, que oferece uma experiência enriquecedora durante todo o ano. Ele é considerado o mais abrangente do Brasil em relação a esse tema.

Monteiro Lobato (SP)

A cidade de Monteiro Lobato tem uma área verde que atrai amantes de ecoturismo
A cidade de Monteiro Lobato tem uma área verde que atrai amantes de ecoturismo – Foto: Divulgação

A cidade de Monteiro Lobato, próxima de Taubaté, no interior de São Paulo, também se destaca como um atrativo turístico que enriquece o folclore. É bem provável que você associe o nome desse município ao escritor Monteiro Lobato, uma das figuras mais notáveis ​​na promoção da cultura folclórica no Brasil.

Curiosamente, o nome da cidade deriva diretamente das obras desse autor, e aqueles que amam as histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo devem considerar uma visita. A área é caracterizada por sua mata nativa e atrai muitos visitantes interessados ​​em ecoturismo.

Fonte: https://turismo.ig.com.br/destinos-nacionais/2023-08-22/dia-do-folclore-descubra-destinos-que-preservam-lendas-brasileiras.html

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