O presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, reafirmou em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid na terça-feira (11/05) que todos os estudos científicos confiáveis concluídos até hoje apontam que a cloroquina não funciona no tratamento contra a covid-19.
Barra Torres afirmou que não houve pressão do governo federal sobre a agência para a aprovação da cloroquina para o combate ao coronavírus, mas confirmou que foi levantada a possibilidade de mudar a bula da cloroquina em uma reunião de ministros.
Barra Torres afirmou que o encontro teve a presença da médica Nise Yamaguchi, que citou a minuta de um documento sobre a mudança.
“Esse documento foi comentado pela dra. Nise Yamaguchi, o que provocou uma reação até uma pouco deseducada minha, de dizer que aquilo não poderia ser”, afirmou Barra Torres. “Só quem pode modificar a bula de um medicamento registrado é a agência reguladora do país (a Anvisa), mas desde que solicitado pelo detentor do registro.”
Ou seja, a mudança só poderia acontecer se pedida pelos laboratórios que produzem a cloroquina, se houvesse a descoberta de que o medicamento tem esse funcionamento — o que não aconteceu.
“Se a indústria descobre que o remédio tem essa função, isso representa um ganho para a sociedade e obviamente ganho de dinheiro para aquele laboratório. Então, uma pessoa física propor isso não tem cabimento”, afirmou Barra Torres.
Barra Torres afirmou que não tem informações sobre quem criou o documento.
Apesar de não haver estudos clínicos que comprovem a eficácia de medicamentos como a cloroquina e a ivermectina no combate ao coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro tem defendido publicamente os remédios para o que ficou conhecido como “tratamento precoce” da doença.
Embora o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em seu depoimento na semana passada, tenha dito que há um debate na comunidade científica sobre a cloroquina, na realidade não há estudos criteriosos, publicados em revistas de prestígio, que apontem para esse caminho.
Isso foi confirmado por Barra Torres, que afirmou: “Não há evidências que apontem para a eficácia (da cloroquina contra covid) em estudos clínicos ortodoxamente regulados, ou seja, com placebo, duplo cego e randomizados”.
Controle com placebo, duplo cego e randomizado são características essenciais em estudos clínicos para que eles sejam considerados confiáveis.
Por BBC NEWS Brasil https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57078577