Combate a ‘verme silencioso’ atesta expansão dos defensivos biológicos

Foto: Divulgação

Por ser um verme microscópico e de difícil identificação, o nematoide é nocivo porque é “silencioso”: vai ganhando terreno aos poucos, via solo ou água, e parasita as raízes das plantas, vampirizando-as.

Os nematoides causam prejuízos anuais à agricultura brasileira de R$ 65 bilhões, segundo cálculos feitos em 2021, que somam os danos às culturas de soja, milho, café, algodão, cana e hortifrútis.

Publicado em agosto passado, o retrato foi elaborado pela Sociedade Brasileira de Nematologia, Agroconsult e Syngenta. Mas as soluções para combater a praga vêm ganhando terreno nas lavouras.

Em oito safras, ou desde o ciclo 2014/15, a venda de soluções químicas ou biológicas que combatem o problema, conhecidas como nematicidas, saltou dez vezes no país.

Se a comercialização de soluções rendia R$ 160 milhões naquela época, em 2021/22, ela chegou a R$ 1,6 bilhão, aponta um novo estudo da consultoria Kynetec, que o Valor obteve com exclusividade. A consultoria absorveu a brasileira Spark Inteligência Estratégica em 2022.

Isso ocorreu à medida que os produtores identificaram o problema e ganharam noções dos prejuízos ao negócio, resultado de trabalhos conduzidos por agentes técnicos do meio e pelas próprias indústrias.

Além disso, citam especialistas ouvidos pelo Valor, houve desburocratização recente em processos regulatórios de órgãos do governo federal responsáveis pela liberação de registros de produtos, o que contribuiu para aumentar os negócios no segmento de proteção de cultivos.

Soluções difíceis

Do ponto de vista do combate à praga, explicam os responsáveis pela pesquisa na Kynetec, não há um grupo de soluções (entre os químicos e os biológicos) que seja “melhor” do que o outro para solucionar o problema do nematoide.

Lucas Alves, gerente de contas da consultoria que elaborou o estudo, diz que o manejo do verme é tão complexo que soluções biológicas e químicas são combinadas com a rotação de culturas e o uso de variedades resistentes (sementes). “O trato [manejo] não é feito com apenas um modelo de solução. É um conjunto delas”, afirma.

Apesar de a pesquisa ter detectado a incidência de nematoides em todas as regiões agrícolas do país, os agricultores do Cerrado foram os maiores usuários de nematicidas na safra 2021/22.

Eles representaram 82% das vendas totais da indústria, de R$ 1,6 bilhão. Quase a metade da receita da região veio de Mato Grosso, principal Estado produtor de soja, segundo informa o analista de inteligência de mercado da Kynetec, Gabriel Pedroso.

Em outro recorte, por cultura, o levantamento identificou que o combate à praga silenciosa levou justamente o sojicultor a investir a maior parcela na safra passada. Esses agricultores representaram 52% das vendas totais de nematicidas.

A segunda maior fatia veio da cana-de-açúcar, com R$ 363 milhões (23%), seguida por milho, algodão, café e outras quinze culturas. Somadas elas responderam por 25% da receita do segmento na temporada 2021/22.

Mais um retrato entregue pelo estudo é a inversão da participação por tipo de produto, entre químicos e biológicos. Mesmo que o uso de soluções seja combinado, há oito safras os químicos representavam 94% dos R$ 160 milhões faturados.

Já no ciclo 21/22, a fatia dos químicos na receita total foi de 25%. Os 75% restantes vieram da comercialização das alternativas biológicas – macro ou microorganismos predadores de pragas.

Fonte: Valor Econômico

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