Universidades, empresas farmacêuticas e institutos científicos espalhados pelo mundo dedicados a um mesmo objetivo: desenvolver uma vacina eficaz contra a covid-19. Uma corrida que envolve pesquisa de primeira linha, tecnologia de ponta, bilhões de dólares investidos e muita expectativa. Como, então, podemos acelerar um processo complexo sem comprometer a segurança? A doutora em microbiologia do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak, diz que é “possível porque a gente nunca teve tantos grupos trabalhando em formulações vacinais ao mesmo tempo e compartilhando esse conhecimento e a gente nunca teve um investimento tão maciço em vacinas.”
No Brasil os testes em pacientes começaram em junho com uma vacina da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Denise Abranches é cirurgiã dentista e voluntária como tantos outros milhares que participam das pesquisas em diversos países: “foram os passos mais importantes da minha vida. Fui movida por sentimentos que estavam em mim absolutamente contidos. Eu sabia dos eventos adversos, eu sabia que poderia ter alguma coisa, mas é tudo tão pequeno frente a uma vacina que o mundo inteiro está esperando.”
O Brasil atraiu quatro das pesquisas mais avançadas. Além da de Oxford, em parceria com a farmacêutica Astrazeneca, voluntários brasileiros recebem as doses da empresa chinesa Sinovac; da alemã Biontech, com a Pfizer; e da belga Janssen, braço da Johnson&Johnson. Dois desses estudos têm acordo de transferência de tecnologia com o Brasil, o que garante a produção nacional da vacina caso elas se mostrem eficazes. Mas por que o país tem atraído tantos estudos? Segundo Eduardo Vasconcellos, coordenador da pesquisa da Janssen no Distrito Federal, “o Brasil é, possivelmente, dos países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o que tem maior qualidade de informações nos centros de pesquisa porque, apesar de todas as nossas desigualdades e problemas, nós somos um país com excelente qualidade técnica de profissionais na área de saúde.”
A previsão da Fiocruz é entregar 260 milhões de doses contra a covid-19 no ano que vem. As primeiras 100 milhões serão feitas com o concentrado comprado da Inglaterra e entregues até junho. E as demais (160 milhões de doses) serão totalmente fabricadas pela empresa brasileira. “Nós temos os equipamentos para receber a droga e produzir em dezembro. E nós temos uma área pronta, que tá precisando de uma pequena adaptação, pra gente já em abril estar produzindo toda a vacina no Brasil, que é realmente um processo muito rápido”, afirma Marco Kkrieger, vice-presidente de produção e inovação em saúde da Fiocruz.
A farmacêutica chinesa Sinovac fez parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo, que é referência na produção de vacinas contra a gripe e tem uma pesquisa avançada de imunização contra a dengue. O Instituto afirma que tem capacidade para produzir 100 milhões de doses da Coronavac até maio do ano que vem. Dimas Covas, diretor-geral do Butantan explica que “no primeiro momento você recebe a vacina a granel e a partir de um segundo momento você passa a fazer os desenvolvimentos locais.”
A Fiocruz e o Butantan são os principais fornecedores do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, que se tornou o maior do mundo em termos de campanha pública de vacinação. Todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) são aplicadas de graça. A vice-diretora-geral da OMS no Brasil, Mariângela Simão, diz que “o conhecimento que o Brasil tem de ter feito na prática campanhas de vacinação em massa é inestimável. Para ela, o Brasil vai sair na frente na hora de fazer a campanha de vacinação em adultos.”
A íntegra do Caminhos da Reportagem fica disponível no site do programa.
Fonte: TV Brasil – Brasília