Câmbio, inflação e auxílio emergencial

Nelson Azevedo (*) [email protected]

De solavanco em solavanco o Brasil depara seu próximo ano em mais uma encruzilhada econômica. As perspectivas são sombrias para os investimentos ora sob revisão e tomadas de decisão. Isso é o que se pode depreender da opinião de José Jorge Nascimento Júnior, presidente da Eletros, entidade nacional do segmento eletroeletrônico e de eletrodomésticos, que participou do encontro de Paulo Guedes com a Coalizão das lideranças empresariais dos diversos seguimentos do setor produtivo do país na última sexta-feira. O ministro da Economia bem que tentou acalmar os participantes, mas seus argumentos não surtiram efeito. O fantasma da recessão continua vagando entre os destroços da pandemia. A subida do dólar começa a virar um pesadelo e a inflação ronda o cotidiano da alta de preços. O motivo da preocupação passa por EUA e China, em permanente estado de animosidade, a segunda onda de COVID-19 na Europa e nos EUA com chances de ocorrer no Brasil e, também, o que irá ocorrer com a ajuda emergencial.

A explosão da bolha

No momento, às vésperas do Natal, o país vive uma bolha de produção e consumo, mas faltam insumos, os custos dessa escassez refletem na alta de preço de vários setores, incluindo os alimentos. Essa bolha sugere a miragem de um cenário, momentaneamente favorável, mas sujeito às imprevisibilidades das decisões. Explodir ou não explodir é um opção intrinsicamente ligado ao auxílio emergencial, cuja permanência ou detalhamento se transformou numa grande incógnita. É claro que esta indefinição não é um problema exclusiva da indústria nacional, porém, aqui, a política do maniqueísmo tem dividido o Brasil e sua economia em anjos e demônios.

Escassez versus criatividade

No âmbito da economia amazonense, fica cada vez mais claro que nós precisamos trabalhar para substituir as importações. A escassez de alguns insumos poderiam ser resolvidas no ambiente doméstico, e nós já demonstramos recentemente que temos capacidade instalada para isso. É preciso, porém, maior mobilização dos interessados para identificar demandas específicas. Cabem, portanto, ações programadas para um pente fino de informações articuladas em cima das quais as entidades de classe podem trabalhar e organizar com a Suframa tomadas de decisões. Criar soluções internamente/localmente nos permitiria amenizar os danos da escassez de suprimentos que toda a indústria nacional está sofrendo.

Interlocução colaborativa

Lembremos que esta lição já funcionou no ápice da pandemia quando fomos capazes de produzir os itens emergenciais que sumiram com a quebra da cadeia de suprimentos asiáticos. É preciso diversificar, pra valer, a indústria local tendo como parâmetro um levantamento exaustivo das demandas de componentes partes e peças que a indústria de Manaus necessita.

A nosso favor temos a disponibilidade permanente dos gestores da Suframa, com quem foi aberta uma interlocução direta e colaborativa na direção de resolver problemas de fato e com urgência.

Economia e academia

Além da Suframa, precisamos identificar os colaboradores reais e potenciais no âmbito local, regional e nacional para trabalharmos em rede. Economia e Academia em sintonia. Nada como a necessidade como pré-requisito das invenções e da criatividade. Afinal, ao longo deste ano o Polo industrial de Manaus mostrou, mais uma vez, sua capacidade de trabalho e de superação criativa. Para recorrermos ao setor público, entretanto, é fundamental termos na ponta do lápis e da língua os dados e os argumentos que permitam saber o que está faltando, quem pode atender tais demandas e a agenda/cronograma da operação. Só assim iremos enfrentar as ameaças do câmbio, driblar  o fantasma da inflação e exigir que se mantenha a manutenção do auxílio emergencial. De quebra, precisaremos da aceleração da reforma fiscal e administrativa, que vai nortear a redução dos gastos públicos. Assim procedendo e, à vista do bem comum, cada um faz sua parte,  na certeza de que, com a colaboração de todos, neste momento de incertezas saberemos diluir as ameaças e tonificar a sustentabilidade de nossa economia.

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalmecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, e vice-presidente da FIEAM.

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