Amazônia: diplomacia, biodiversidade e sustentabilidade

Nelson Azevedo (*) [email protected]

No início de novembro está prevista a visita do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, acompanhado dos principais embaixadores do Primeiro Mundo. Esperamos que a visita seja uma experiência proveitosa do ponto de vista diplomático e de nossas expectativas de parcerias transparentes e construtivas. Até aqui, sobram desentendimentos e se fazem necessárias maiores interlocuções. Afinal, esta visita desembarcará na maior floresta tropical do planeta, que tem prestado gratuitamente, e desde sempre, os serviços mais urgentes do ponto de vista climático, hídrico e energético para o Brasil e para a Humanidade. Por tudo isso, o entendimento se faz impositivo à luz dos frutos que poderiam gerar.

Fungos e bactérias

Não pretendemos aqui cobrar ingresso nem royalties para um mergulho nesta que é a maior biodiversidade do planeta, o maior Jardim Botânico terrestre. Estamos supondo o cabedal de conhecimentos a respeito por parte de nossos ilustres visitantes. É repetitivo afirmar que está Esfinge pode nos devorar a todos se não for decifrada. Aqui estão os fungos e bactérias de nossa redenção ou de nossa perdição sanitária se tratarmos irresponsavelmente seus mistérios e potencialidades. Aqui habitam 25 milhões de pessoas que vivem em condições precárias à luz das riquezas que borbulham nesta mata de benefícios imensuráveis. Eles podem, se manejados racionalmente, atender as demandas sócio-econômicas de nossa gente. Para isso, se impõe o provimento de infraestrutura e de qualificação de mão-de-obra.

A seringueira e o guaraná

Cabe aqui lembrar de alguns fatos que sacudiram a humanidade. Um deles permitiu que nos movimentássemos mais rapidamente com os automóveis, graças aos pneumáticos que a borrada da Amazônia permitiu. Ingleses foram mais ágeis para entender que, em lugar de extrair na imensidão da floresta, era melhor plantar extensivamente a seringueira amazônica em seus domínios asiáticos. Aplausos aos ingleses. Outro exemplo emblemático é a desidratação dos alimentos, uma invenção preciosa dos índios Sateré-Mawé  da Amazônia, que criaram o guaraná em bastão para saciar a fome e energizar a tribo na subida das águas quando a proteína desaparece. Essa tecnologia permitiu as viagens espaciais tripuladas. Um exemplo das soluções Amazônia para as demandas da Humanidade. Outra contribuição da Amazônia, que é retirada sorrateiramente da floresta. São tesouros de biologia molecular. Segundo a Academia Americana de Ciências, pelo menos 20% deles contém princípios ativos extraídos da biodiversidade tropical. No caso da seringueira e do guaraná, a riqueza decorre de inovação tecnológica em cima de uma árvore e de um arbusto. Nossa floresta, a propósito,  abriga 20% dos princípios ativos existentes no planeta. Soltemos a imaginação como fizeram os Viajantes Europeus que nos levaram mais de 200 mil espécies.

Indústria do conhecimento

Nossa economia, portanto, se configura pela indústria do conhecimento existente nesta biodiversidade. Aqui estão as respostas para a humanidade do ponto de vista alimentar, medicinal e dermocosméticos. Precisamos de infraestrutura, qualificação de recursos humanos e parcerias internacionais pra valer para substituir a preservação da intocabilidade pela conservação da Bioeconomia Sustentável. Não nos esquivamos a ajudar a conter o desequilíbrio climático. Trocamos este benefício pelo financiamento da Bioeconomia Sustentável e todas as condições de sua viabilidade na Amazônia. Não poderia haver troca mais justa e inteligente.

Alimentos, fármacos, cosméticos, biodiesel…

E quando mencionamos infraestrutura, estamos falando de logística de transportes, de energia alternativa e de comunicação digital. Depois de 25 anos de promessas, já está em licitação a recuperação da BR 319, que liga nosso Estado ao resto do país. Cuidaremos da recuperação e da manutenção, se atribuirmos um valor aos estoques naturais de seu traçado. O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia já promoveu um levantamento de 92 espécies de oleaginosas ao longo dos 820 km de estrada que liga Manaus e Porto Velho. A quem caberá o desenho do aproveitamento inteligente dessas oleaginosas, a serem cultivadas de maneira sustentável para abastecer o futuro polo de cosméticos, de biodiesel, de alimentos funcionais, entre outras destinações infinitas destas ocorrências preciosas da biologia molecular.

Estamos de olho no entendimento

Recentemente, a Presidência da República reafirmou, por decreto, o marco regulatório das indústrias instaladas em Manaus, tanto para incentivar pesquisas e desenvolvimento de mercado para esses produtos e tantos outros disponíveis em nosso acervo de potencialidades. Um desses seguimentos, alcançados pelo referido decreto, beneficia o pólo de concentrados, o segmento industrial que gera aproximadamente 10.000 postos de trabalho para as populações interioranas. Entre elas, aquelas que produzem o emblemático e sagrado guaraná, conhecido pelas populações tradicionais como guaraná olho de gente. Estamos, pois, ilustres visitantes,  de olho nas medidas de  entendimentos fecundos, construtivos e efetivos para a promoção integral e integrada da economia e da prosperidade de nossa gente. Sem queimadas nem desmates. Que a floresta siga exuberante, a diplomacia inteligente e a economia da biodiversidade siga os caminhos promissores da sustentabilidade. Sejam bem-vindos!!!

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus e vice-presidente da FIEAM, Federação das Indústrias do Estado do Amazonas.

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