A Bioeconomia, a ZFM e o professor aloprado

Numa entrevista à Folha de S. Paulo, em agosto de 2002, o economista Milton Friedman, defensor do modelo liberal/monetarista – que lhe conferiu o prêmio Nobel de economia em 1976 – condenou o protecionismo americano ao aço, agronegócio, indústria têxtil e farmacêutica. Ou seja, se contradisse ao justificar exceções. De quebra, estranhou a relação amistosa e colaborativa entre o economista Alexandre Scheinkman, seu colega em Chicago, brasileiro e professor da Universidade de Columbia e Princeton, e Ciro Gomes, do PPS, na ocasião, um candidato esquerdista à presidente da República. Na recente temporada eleitoral, o professor se voltou para o aconselhamento dos futuros prefeitos em 2021. Todos estamos buscando oportunidades…

Emissário da PEC-45?

Provável defensor da PEC 45, resolveu atacar, numa entrevista ao jornal Estadão, o programa Zona Franca de Manaus, uma economia reconhecida internacionalmente e aplaudida por entidades como a União Europeia e organizações como a Mundial de Comércio, a OMC. Escalado para dizer que a ZFM custa muito caro ao Brasil, e não gera benefícios, baseado num gráfico da Receita Federal, que é descolado dos demonstrativos oficiais das despesas tributárias da União, o economista multi-uso bem poderia se unir ao movimento nacional e internacional pela Bioeconomia da Amazônia. Uma saída que confere vantagens promissoras ao Brasil, se o país apostar na diversificação econômica da ZFM. Basta a União deixar de confiscar integralmente 70% da receita produzida pela economia do Amazonas. Afinal, somos campeões na geração de riquezas com apenas  8% do bolo fiscal do país. O Sudeste, a região mais rica do Brasil, utiliza mais de 50% dos benefícios fiscais. Em compensação, é o primeiro da fila a carregar o Brasil nas costas. O Amazonas, com 11 municípios entre os 50 piores do Brasil, é o quinto. Ou será que o liberalismo do professor Scheinkman o coloca entre os defensores da agenda oculta da PEC-45: a eliminação da ZFM?

Colaboradores, sim… Salvadores, nunca!

Instituições como a USP, UNICAMP, FGV, INSPER, UFMG, Embrapa, INPA, UFAM, organizações como a Coalizão Brasil Clima Floresta, WRI, Instituto Escolhas, que propõem uma aproximação entre o Agronegócio e a Bioeconomia, os grandes bancos privados, ou seja, os pesos pesados da economia, ecologia, da academia e entidades de classe, reconhecem os acertos deste programa e endossam a tese do polo de Bionegócios a partir da economia do Amazonas. Todos são convidados a colaborar com essa empreitada. Entretanto, nós recusamos o apelo maroto dos salvadores de plantão. A Amazônia não está agonizando, muito menos a ZFM está em risco de dissolução, a despeito do messianismo oportunista da mídia alugada ou da desinformação planejada, transformada na maledicência de plantão.

Dinheiro existe, só falta gestão…

E quem vai pagar a conta da diversificação econômica do programa de redução das desigualdades para ampliar os benefícios, já robustos, que o professor de Columbia desconhece? Todos os recursos são bem-vindos, intromissão não. Aqui temos os estudiosos e especialistas na gestão da diversidade biológica. Só não temos um projeto nacional que abrace a Bioeconomia como solução sustentável de um novo ciclo de prosperidade nacional. Nós geramos recursos para bancar o investimento, a começar pelo FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o FTI (Fundo de Fomento ao Turismo, Infraestrutura, Serviços e Interiorização do Desenvolvimento do Amazonas), o FMPES (Fundo de Fomento às Micro e Pequenas Empresas), e do investimentos em P&D&I como compensações por incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus, Todos esses fundos, incluindo o capital intelectual gerado pela UEA, uma instituição integralmente paga pela Indústria, somados, chegariam a mais de R$ 4,7 bi/ano, recurso capaz de fazer uma revolução tecnológica e bioindustrial.

Ao arrepio da Lei

Só carecemos da definição do modelo de gestão. Afinal, há duas  décadas este volume de recursos tem sido usado pelo poder público sem governança, nem transparência. Apenas, recolhido aleatoriamente pelos cofres da compulsão fiscal, quase ao arrepio da Lei. Sim, pois temos legislações bem claras para ordenar as aplicações públicas em favor do cidadão. Além dessa dinheirama, o Polo Industrial de Manaus recolhe para a União cerca de R$18 bilhões anuais em imposto sobre Produtos Industrializados, IPI.

Quem nos custa caro é o Brasil

Então, professor, o Amazonas e sua arrojada economia não custa um centavo ao país. Caso discorde, apresente uma nota de despesa em favor das empresas da ZFM assinada pelo poder público. O Brasil é que nos custa muito dinheiro. Quanto aos benefícios, pergunte a quem utiliza 70% da riqueza gerada pelo setor produtivo, para onde vão os recursos que deveriam ampliar benefícios que as empresas criam ao gerar 500 mil empregos a partir do Polo Industrial de Manaus, e dos serviços ambientais ao país e ao planeta que são oferecidos. Desconhecer tudo isso não fica bem a quem se apresenta como brasileiro em duas grandes universidades norte-americanas. Venha passear na floresta, professor, conhecer o que fazemos e vestir a camisa deste mutirão a favor do Brasil.

Nelson é economista, empresário, Conselheiro do CIEAM, presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus e vice-presidente da FIEAM.

DEIXE SEU COMENTÁRIO

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.