Uma CPI para iluminar o futuro

Eduardo Braga*

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga um fato ainda em andamento. Que não quer apenas clarear o passado, mas, acima de tudo, iluminar o futuro.  Que, mais do que passar a história a limpo, pretende fazer história, salvando milhares de vidas e de empregos país afora.

A CPI da Pandemia é única e tem tudo para ser uma das mais marcantes do Parlamento brasileiro.

O motor da comissão não é nem pode ser a motivação política-eleitoral. O que move a CPI é a dor e a indignação de milhões e milhões de brasileiros que perderam mais de 430 mil entes queridos para o novo coronavírus. Não esperem votos os que tripudiarem de vidas e esperança, valores que independem de partidos, ideologias, raça, origem social.

Com pouco mais de duas semanas de trabalho, já conseguimos reunir elementos importantes para desvendar parte da teia de responsabilidades pela escalada alarmante da pandemia no Brasil.

É um desafio complicado apontar com exatidão o papel de cada um dos envolvidos na definição e execução de uma política marcada pela falta de planejamento, de coordenação e determinação na compra de vacinas e insumos, na estruturação das unidades de saúde, no treinamento dos profissionais da área.

Mas vale frisar: mais do que apontar culpados por eventuais erros ou omissões, o grande feito dessa CPI será corrigir rumos, construir uma estratégia coerente e eficaz na luta contra o coronavírus.

Não há como recuperar as mais de 430 mil vidas perdidas até hoje para a covid-19. Podemos, no entanto, evitar a perda de outras tantas vidas, mudando de vez o discurso negacionista sobre a pandemia e a vacinação. Nesse tipo de discurso, sobra desinformação e falta respeito à ciência.

Se a CPI conseguir consolidar, inclusive por parte de autoridades públicas, uma narrativa afirmativa sobre a importância da vacinação, do distanciamento e do uso da máscara e do álcool em gel, ela já terá marcado um gol e tanto a favor dos brasileiros e contra a pandemia.

Na prática, já demos os primeiros passos. Foi a pressão da CPI da Pandemia que fez o governo colocar no ar dias atrás uma campanha publicitária de prevenção e vacinação contra a covid-19 – aliás, essa foi uma das cobranças que fiz ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante seu depoimento à comissão. A campanha foi lançada um ano, dois meses e 16 dias após o registro do primeiro caso de covid-19 no país.

Ao investigar com lupa de aumento os números desencontrados e as previsões não confirmadas de compra e chegada de vacinas e insumos, a CPI também já se mostra ferramenta importante de fiscalização, devendo impulsionar maior coordenação e transparência em torno das ações de combate à covid-19.

A expectativa é que fake news e recomendações de tratamentos sem eficácia comprovada sejam aos poucos descontruídas pela segurança das orientações técnicas de médicos e cientistas, que terão palco privilegiado na CPI.

Depois de mais de treze meses de pandemia, ainda não temos orientações padronizadas para o tratamento dos pacientes da rede pública.  Como assim? A cobrança que fiz ao ministro Queiroga para a adoção urgente de um protocolo de atendimento clínico do SUS foi multiplicada de forma massiva pela internet, pela TV, rádio e outros meios digitais. A resposta será insistentemente cobrada por uma CPI que quer salvar vidas, olhando para o futuro.

A pressão exercida pelos senadores e pela população também terá papel estratégico para empurrar o governo a imprimir mais agilidade na contratação e distribuição de vacinas e insumos indispensáveis ao tratamento médico, como os que compõem os kits de intubação.

É o que mais interessa aos 212 milhões de brasileiros e brasileiras, cansados de viver reféns do medo, da insegurança e do sofrimento. Essa é uma CPI que pode fazer história.

*Senador pelo MDB/AM. Líder do MDB no Senado.

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