Será que Roberto Jefferson pensa mesmo em ser presidente?

Presença do ex-deputado federal na disputa ajudará o PTB, seu partido, a eleger alguns deputados em todo o país e ampliar o número de parlamentares conservadores na Câmara dos Deputados

Por Reinaldo Polito (*)

Posso dizer que conheço relativamente bem Roberto Jefferson. Antes de analisar sua decisão de concorrer à presidência da República nas próximas eleições, relembro como foi o nosso primeiro encontro. Depois de ministrar aulas para a sua filha, Cristiane Brasil, ele apareceu na escola. Queria fazer um curso comigo. Assim que se sentou a minha frente, na conversa que mantivemos antes da primeira aula, perguntei: “Roberto, o que você está fazendo aqui na minha escola? Você é o cara. São incontáveis os alunos que me procuraram dizendo que gostariam de aprender a falar como você. Sua comunicação é referência para muita gente”. Ele me disse: “Polito, primeiro, você sequestrou o coração da minha filha. Ela saiu daqui maravilhada com o professor. Eu, como pai zeloso, queria saber que magia era essa. Depois, você ministra aulas há mais de 40 anos todos os dias. Com certeza, irá me dar alguns conselhos que poderão aprimorar muito a minha comunicação”. Essa, como todos sabemos, é a atitude dos grandes vencedores.

Ainda que sejam muito bons em suas atividades, sempre imaginam que poderão melhorar mais, em busca da excelência. Deu muito certo. Mais que corrigir um ou outro detalhe na sua comunicação, eu me preocupei em mostrar a ele quais eram os aspectos que se destacavam em sua oratória e que poderiam ser aperfeiçoados, sem comprometer suas características naturais. O aluno brilhante saiu feliz com o resultado. Sempre generoso, em todos os lugares onde o assunto é a arte de falar em público, com toda a humildade, cita o meu nome. Há alguns meses, durante uma live que fizemos eu, ele e a sua filha, Roberto disse que na primeira oportunidade voltaria para fazer uma reciclagem porque o curso havia sido muito importante para ele.

Fiz esse preâmbulo todo para falar um pouco da decisão de Roberto Jefferson em concorrer ao cargo de presidente da República. Alguns afirmam que não terá a mínima chance. Outros garantem que ele será apenas um escudo para o presidente Jair Bolsonaro, já que certos temas mais delicados e determinados embates da campanha não poderiam ficar por conta do atual chefe do Executivo. Há quem diga também que sua presença nesse palanque ajudará o PTB a eleger alguns deputados em todo o país. Tendo convivido com ele e sabendo quais são as suas aspirações, posso deduzir que os motivos talvez sejam todos esses, além de incluir sua real intenção de vencer as eleições.

Ninguém poderá supor que ele irá bater de frente com Bolsonaro. Se não por outros motivos, pelo fato de ser aliado do presidente, e de ter no histórico de vida a atitude de jamais trair seus parceiros políticos. A única possibilidade que vejo para suas chances de vitória na corrida presidencial seria o afastamento de Bolsonaro da campanha. Os riscos de que a candidatura de Bolsonaro seja cassada é assunto que nunca saiu das rodas de conversa. Suas contendas com os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e, mais recentemente, com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vira e mexe acendem luzes amarelas que deixam alguns com a pulga atrás da orelha.  Se um fato inesperado surgir nessa caminhada do presidente durante a campanha, que outro candidato conservador estaria em condições de enfrentar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de igual para igual? Talvez não haja além de Roberto Jefferson nenhum nome competitivo. As chances de ver Bolsonaro fora dessa competição são improváveis, extremamente difíceis, algo semelhante a um tsunami, ou a um cataclisma, mas não impossíveis.

Dessa forma, se tudo correr bem com Bolsonaro, se a sua campanha não enfrentar nenhum tropeço, o líder petebista cumprirá um papel importante para os que se colocam mais à direita na disputa política. Será, como sempre foi, um aguerrido combatente contra a esquerda. Ajudará a ampliar o número de deputados conservadores na Câmara dos Deputados, nas Câmaras Estaduais, e talvez até um ou outro senador, ou governador. De uma maneira ou de outra, vai ser muito bom ver esse orador eloquente em ação. Tenho certeza de que os adversários estão neste momento torcendo para que não tenham de enfrentá-lo, pois nos debates é praticamente invencível. Nos seis mandatos que exerceu como deputado federal, ele e Roberto Cardoso Alves, o Robertão, sozinhos, enfrentavam, às vezes com vantagem, toda a bancada do PT. E olha que a esquerda sempre foi boa de briga. Em poucos dias, quando a campanha começar para valer, teremos a oportunidade de assistir a esses embates políticos. Vai valer a pena. Siga pelo Instagram: @polito

(*) Mestre em Ciências da Comunicação, professor de pós-graduação em Marketing Político e em Gestão Corporativa na ECA-USP e autor de 34 livros, que já venderam mais de 1,5 milhão de exemplares em 39 países.

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