Sem recursos para ciência e tecnologia não iremos a lugar algum

Por Nelson Azevedo (*)

As grandes empresas do mundo, tanto do continente asiático como as europeias e norte-americanas tiveram incentivo financeiro e estrutural para chegar aonde chegaram. Todas tiveram seus negócios inteligentemente avaliados e apoiados pelo poder público. E o que aconteceu com o programa Zona Franca de Manaus? Por que andamos tão devagar, as vezes para trás?

Distorções descabidas

Desde o final dos anos 90, passamos a gerar recursos regionais de P&D e com o advento da Lei de informática, isso tomou grandes proporções, quase sempre direcionados para outras regiões do Brasil. Os desencontros e distorções na aplicação desses recursos são de triste memória. Recolhíamos nossas contribuições para o desenvolvimento regional que eram aplicadas em outras finalidades. Protelamos ano após ano a diversificação dos arranjos econômicos e industriais sem explicação plausível.

Adensamento e diversificação

Apenas recentemente, a Suframa conseguiu estabelecer, de modo claro e com bons resultados, a aplicação na Amazônia das verbas  de ciência, tecnologia e inovação. Essas receitas foram transformadas em programas prioritários de Bioeconomia e implantação progressiva da indústria 4.0. Começamos a enfrentar assim os desafios históricos da diversificação e adensamento do polo industrial de Manaus.

Dedo na ferida

Em artigo publicado no sábado passado, o presidente Robson Andrade, da Confederação Nacional da Indústria, pôs o dedo na ferida. E mostrou que sem os recursos públicos, para a diversificação e inovação industrial iremos perder o bonde da história. Estamos assistindo, apesar disso , a diversas iniciativas na ZFM de integração dos entes federativos. Uma percepção lúcida e crescente da União, Estados e Municípios começa a fazer dessa obviedade uma nova realidade. Afinal,  a soma de esforços e recursos, aliada a captura de novos talentos, nos permitirá alcançar um patamar de evolução fabril de que tanto precisamos.

CBA, agora vai?

Há mais de duas décadas, com as taxas pagas pelas empresas do polo industrial de Manaus para a Suframa, foi possível iniciar a construção do Centro de Biotecnologia da Amazônia. Essa é uma história de expectativas, muita frustração, e sofrimento. Entretanto, temos razão para apostar, enfim, na realização deste sonho. Tudo concorre para realização da antiga promessa de definição de seu modelo administrativo, ou seja, a publicação de seu CNPJ, o Cadastro Nacional de pessoas jurídicas. Sem ele, não foi possível, historicamente, levar adiante qualquer contrato, parceria, novos negócios e diversificação da matriz econômica local e regional.

Corte ultrajante

O recente corte de 90% nas verbas de ciência, tecnologia e inovação, de autoria do Executivo e confirmado pelo Congresso Nacional, espalhou pelo país afora um mal estar e um constrangimento sem precedentes. O corte foi entendido como completo descaso com a Ciência e sua participação no desenho de um novo tempo. Um banho de água fria no avanço das cadeias produtivas industriais. Isso sinaliza que iremos perder cérebros, interromper pesquisas, descartar insumos e outros itens que resultaram desta suspensão da corrida pelo competitividade e avanços do conhecimento.

Sabemos pra onde ir

O Brasil precisa evoluir nas pesquisas de alternativas energéticas, produtos e projetos de economia da biodiversidade amazônica, beneficiamento de extratos vegetais, resinas e outros insumos para nosso parque fabril. Sabemos pra onde ir. E isso não pode ficar para depois.Temos insistido na aplicação dos recursos aqui gerados para programas e projetos locais e regionais. Precisamos de portos, hidrovias balizadas e outros modais que possam escoar a produção, fomentar a economia sustentável da diversidade de novos negócios.

Serviços ambientais

Temos a possibilidade de fazer da floresta em pé mecanismos de monetização dos serviços ambientais que possam financiar um novo programa de desenvolvimento regional. Isso implica em multiplicar laboratórios, qualificar recursos humanos, promover parcerias nacionais e internacionais transparentes e aderentes a uma nova economia de redução das desigualdades regionais e da prosperidade de um Brasil integrado e próspero.

(*) Nelson economista, empresário, presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.

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