Modelo para Amazônia tem de mirar bem-estar, diz biólogo

Roberto Waack - Foto: Divulgação

É preciso avançar mais em um modelo para a Amazônia que concilie a preservação florestal com desenvolvimento socioeconômico que promova bem-estar para a população local. E, para chegar a isso, será necessário criar um sistema de inclusão que combata o desmatamento e a exploração ilegal ao mesmo tempo em que se deve tornar essas atividades desinteressantes, na visão do biólogo Roberto Waack, presidente do conselho do Instituto Arapyaú e um dos líderes da Concertação pela Amazônia, uma aliança entre 500 líderes empresariais, pesquisadores, políticos e ambientalistas que se tornou um hub de inteligência política pela Amazônia.

“Conciliar o fim do desmatamento com uma agenda de bem-estar e desenvolvimento local é um grande desafio. É algo que a gente precisa discutir muito mais. Esse modelo está em aberto. Eu diria que a gente tem algumas dicas, alguns insights e elementos sendo construídos, mas ele não está pronto”, disse Waack na “Live do Valor ” de ontem.

Segundo o especialista, que atualmente é membro dos conselhos da Marfrig, um dos maiores frigoríficos do mundo, e da Wise Plásticos, além das organizações WWF e Ethos, é fundamental desenvolver um sistema de rastreabilidade que promova a possibilidade de inclusão de produtores afastados das melhores práticas de preservação da Amazônia.

“Quem fica fora dessas cadeias que são mais sofisticadas acaba ficando mais próximo do crime porque a opção de fazer parte de cadeias mais desenvolvidas desaparece”, disse Waack. Para ele, é preciso “gerar um processo de inserção de oportunidades na bioeconomia ou na área de restauração, integrando a atividade do uso do solo com a produção de commodities de uma maneira completamente diferente da que temos hoje”.

Waack sugeriu que será necessário agilizar esse processo para atender expectativas globais, como a iniciativa da União Europeia de eliminar a importação de produtos de áreas desmatadas. A boa notícia, em sua visão, é que o Brasil já possui ferramentas de imagens que ajudam a fazer o rastreamento ideal.

O presidente do Instituto Arapyaú também destacou que a atual guerra entre Rússia e Ucrânia mostrou, por meio das sanções econômicas à Rússia, como os países são capazes de orquestrar suas ações em prol de uma causa que defendem e que isso tende a ser visto cada vez mais em temas relacionados ao meio ambiente. “Independentemente das regulações que podem estar por vir, as relações comerciais já estão usando isso. Já está presente nas relações comerciais, financeiras e multilaterais”, observou. “Isso traz desafios muito grandes para o Brasil”.

Para Waack, o país ainda precisa evoluir em pontos importante como o combate à produção de madeira ilegal, uma atividade que tem sido mais difícil de rastrear e que pode gerar problemas de reputação para produtores legais e demais elementos da cadeia brasileira. “A gente não tem um bom sistema de rastreabilidade da madeira”, afirmou. “Isso sufoca a possibilidade de criação de uma economia sustentável, saudável, que gere prosperidade para os povos da Amazônia”, concluiu. “A gente perde a soberania da Amazônia para o crime”.

Fonte: Valor Econômico

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