Horário de verão não reduz a conta, mas mexe com a Economia

Medida é apoiada pelo setor de comércio e serviços, que alega melhoria nas vendas devido ao maior aproveitamento da luz do dia

Foto: shutterstock

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), abriu uma enquete para consultar seus eleitores sobre a possibilidade de retomada do horário de verão e mais de 1,5 milhão de internautas (66,2%) votaram em favor da proposta. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o adiantamento de 1h nos relógios não traz economia na conta de luz , mas entidades empresariais ainda pedem a volta por outros motivos.

Sob a justificativa de ser prejudicial para o organismo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) extinguiu em 2019 o horário de verão. Quando foi implementado, em 1931, já era utilizado ao redor do mundo para aproveitar mais tempo do período de luz natural, e, consequentemente, postergar o acionamento de lâmpadas e outros eletrodomésticos, gerando economia de energia.

Horário de verão Segundo o ONS, no entanto, “a redução observada no horário de maior consumo”, das seis hora da tarde até as nove da noite, “é compensada pelo aumento da demanda em outros períodos do dia, especialmente no início da manhã”.

Segundo Victor Iocca, Diretor de Energia Elétrica na ABRACE (Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres), devido aos avanços no setor elétrico dos últimos anos, o horário de verão não traz benefícios econômicos.

“Hoje em dia o impacto é neutro, na perspectiva de tornar o sistema elétrico mais eficiente. A gente viu ao longo dos anos um investimento grande no sistema de transmissão e agora estamos até sobredimensionados do ponto de vista de geração”, diz.

Do ponto de vista prático, portanto, o impacto na cota de luz é irrelevante. Mas há outras vertentes a serem consideradas.

Para Paulo Solmucci, presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a volta do horário de verão é benéfica para o setor porque amplia o horário em que os consumidores estão nas ruas.

“Estamos enfrentando um momento difícil, que é a retomada das atividades de milhões de pequenas empresas que sofreram muito com a pandemia. O aumento de faturamento que vem com a mudança de comportamento provocada pelo horário de verão faz muita diferença para quem empreende e trabalha nos bares e restaurantes. Na ponta do lápis é mais dinheiro circulando, menos dívidas, mais empregos sendo gerados”, explica.

A Associação Nacional dos Restaurantes (ANS), que reúne empresas como o Burger King, McDonald’s e Outback diz que mantém a posição adotada desde 2020, em que pede a volta do horário de verão .

A Abrasel e a CNTur (Confederação Nacional de Turismo) iniciaram um movimento pela volta do horário de verão. Mais tarde, as entidades receberam o apoio do setor de varejo, com grupos como a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), Unecs (União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços), Abras (Associação Brasileira de Supermercados) e Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers).

Na Indústria, Victor Iocca, da Abrace, diz que a medida não traria dificuldades, portanto o setor se mantém em posição de neutralidade.

Há outros aspectos a serem considerados, como o da segurança pública, por exemplo.

De acordo com a delegada Jacqueline Valadares, presidente eleita para a gestão 2022/2025 do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp), estudos utilizados pelo órgão constatam que, a instalação de iluminação pública nas vias públicas reduz em até 30% a criminalidade. Esta analogia também pode ser aplicada no que reside à iluminação solar:

“Na medida em que as ruas ficam mais tempo sob a luz do sol, a oportunidade de ações criminosas se reduz naturalmente, com destaque para furtos e roubos”, reforça a especialista.

Jacqueline lembra que, também por força do horário de verão, com o amanhecer do dia ocorrendo mais tarde, ou seja, com o dia útil começando ainda de madrugada, é preciso mais cautela por parte da população, para que a mesma, sobretudo os trabalhadores que saem cedo de casa, não seja surpreendida nas primeiras horas do dia com ações criminosas.

Segundo estudo da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), o horário de verão também contribui para a redução de 10% no número de acidentes nas rodovias federais brasileiras.

“A política do horário de verão provoca redução no número de acidentes, beneficiando os motoristas de rodovias federais pela incidência de maior luminosidade e dirigibilidade”, diz o texto.

Pontos negativos

Por outro lado, pecuaristas defendem que o adiantamento no relógio afeta o setor, principalmente nos sistemas de produção de gado bovino, podendo até afetar a produtividade leiteira.

Segundo a consultoria Bio Saúde, os bovinos demoram em torno de duas semanas para se acostumar com o novo horário da ordenha.

“Como o gado será ordenhado em horário diferente do habitual, logo na primeira ordenha do dia, poderá sofrer com o estresse. Além de liberar o hormônio cortisol, que influencia diretamente na quantidade e qualidade do leite que será produzido.”

Outro ponto negativo é a dissincronia entre os horários estaduais, já que o Brasil possui quatro fusos horários: o de Brasília, que abrange a totalidade das regiões Nordeste, Sudeste e Sul, além dos estados do Pará, Amapá, Tocantins, Goiás e o Distrito Federal; o de Fernando de Noronha (uma hora à frente de Brasília); o do Amazonas, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (uma hora atrás de Brasília); e o do Acre e oeste do Amazonas (duas horas atrás de Brasília).

Como Norte e Nordeste não adotam o adiantamento dos relógios, ficam duas horas de diferença em relação à capital federal, atrasando eventos nacionais, e, muitas vezes, até os impossibilitando.

Em 2018, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal adiou o horário de verão para novembro, a fim de não atrasar as eleições nos estados mais próximos da linha do Equador.

Fonte: https://economia.ig.com.br/2022-12-06/horario-de-verao-beneficios-e-maleficios-economia.html

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